Ancestralidade genética pode influenciar resposta imunológica à gripe

Diferenças na resposta imunológica contra o vírus influenza, causador da gripe, foram detectadas entre pessoas de origem genética europeia e africana. Os resultados estão publicados em uma pesquisa divulgada na revista Science na última quinta-feira (25).

Os autores do estudo associaram diversos genes a essas diferenças e foram além: eles apontam que alguns dos genes são inclusive relacionados à gravidade da Covid-19. Porém, a equipe não fez um estudo específico com pacientes infectados pelo Sars-CoV-2 para comprovar a relação.

Ainda assim, as diferenças imunológicas podem ajudar a explicar por que estatísticas sobre doenças variam entre diferentes grupos raciais. Para entender isso, foram coletadas células sanguíneas de homens de ascendência europeia e africana que, em seguida, foram expostas ao vírus da gripe em laboratório.

Então, os cientistas sequenciaram o RNA das células, que eram do tipo mononucleares do sangue periférico — um conjunto que atua no combate a infecções. Com isso, eles examinaram as “assinaturas” genéticas de uma variedade de estruturas do sistema imune, revelando como o vírus influenza pode afetar a expressão de cada tipo celular.

 

Vírus da gripe, ampliado 100 mil vezes.  (Foto: Wikipedia Commons)
Vírus da gripe, ampliado 100 mil vezes. (Foto: Wikipedia Commons)

 

A equipe, que conta com profissionais da Universidade de Chicago (EUA), descobriu que, no início de uma infecção pelo vírus da gripe, os ascendentes europeus têm uma atividade maior das proteínas essenciais que combatem esse vírus: os interferons tipo I, também associados a variações na gravidade da Covid-19.

Os pesquisadores acreditam que a ativação dos interferons no início da infecção em indivíduos com ancenstralidade europeia está relacionada a uma maior capacidade de impedir a replicação do vírus ou de limitar esse processo mais tarde.

“Induzir uma resposta forte da via do interferon tipo I logo após a infecção interrompe a replicação do vírus e pode, portanto, ter um impacto direto na capacidade do corpo de controlar o vírus”, analisa Luis Barreiro, professor que liderou a descoberta, em comunicado.

Contudo, os pesquisadores fazem uma ressalva: os resultados não são evidências diretas. Ou seja, outros fatores também podem influenciar na nossa defesa contra o vírus da gripe além da ancestralidade, como o ambiente e o estilo de vida.

“Muito do que estamos captando pode ser o resultado de outras disparidades em nossa sociedade, como racismo sistêmico e iniquidades na área de saúde”, reflete Barreiro. “Embora algumas das diferenças que mostramos no artigo possam estar ligadas a variações genéticas específicas, mostrando que a genética desempenha algum papel, tais diferenças não são suficientes para explicar completamente as disparidades na resposta do interferon”.

Os estudiosos seguem explorando essa questão e outros fatores que podem contribuir com as respostas imunes. A esperança deles é ainda descobrir quais são todos os critérios em jogo, podendo prever o risco que cada um de nós enfrenta individualmente frente a gripe e outras doenças infecciosas.

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