Quando falamos de depressão e outros transtornos mentais, muitas pessoas logo pensam em sentimentos de tristeza e sofrimento.
Porém, nem sempre isso é verdade. Para algumas pessoas, esses transtornos se manifestam gerando outra condição— a anedonia.
Como a anedonia não causa o sofrimento da forma que nós geralmente o reconhecemos, ela muitas vezes passa despercebida.
E assim, silenciosamente, a anedonia prejudica a qualidade de vida do indivíduo e, o que é ainda mais grave, aumenta o risco de suicídio.
Quer saber mais sobre a anedonia? Então, continue a leitura.
O que é anedonia?
A anedonia é uma condição em que a pessoa deixa de sentir prazer e satisfação com atividades que o indivíduo considerava agradáveis anteriormente.
Pessoas com anedonia simplesmente deixam de gostar de eventos como o encontro com os amigos, passeios, viagens, opções de entretenimento, entre outros.
Assim, sua vida passa a ser cada vez mais limitada às suas “obrigações” e sem fontes de alegria e prazer.
Muitos pacientes relatam que, durante o episódio de anedonia, eles enfrentam a sensação de vazio. A vida perde a cor e não existem emoções positivas e nem negativas referentes aos fatos.
Desta forma, eles se sentem desconectados do mundo. Infelizmente, a queixa aparece em cartas de quem desistiu de viver, juntamente com o relato de que essas pessoas se sentiam “mortas por dentro”.
O que causa a anedonia?
A anedonia pode ter diversas causas, mas a principal delas é a ocorrência de transtornos mentais como depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e estresse pós-traumático.
Porém, a anedonia também pode ser causada por problemas físicos como o hipotireoidismo, doenças psiquiátricas como a esquizofrenia, por demência e dependência química, entre muitas possibilidades.
Não existe um posicionamento científico definitivo quanto às alterações cerebrais que causam a anedonia.
Acredita-se que seu surgimento pode estar relacionado ao mau funcionamento de diversas funções cerebrais, principalmente a alterações no circuito de recompensa do cérebro.
Portanto, se um cérebro saudável reagiria a um estímulo prazeroso gerando uma descarga elétrica no circuito de recompensa do cérebro, isso deixa de acontecer, fazendo com que a pessoa não tenha nenhuma reação.
Diversos cientistas e pesquisadores também relacionam a anedonia ao aumento da atividade na região frontal do córtex pré-frontal, que é o nosso “censor”, atuando como um filtro para nossas ações e emoções.
Então, nesses casos, o “censor” teria um funcionamento exagerado, bloqueando até mesmo respostas a situações normais de alegria e prazer, inibindo a resposta emocional e gerando as sensações de vazio.
Embora esses possam ser os mecanismos principais, o surgimento da anedonia também está relacionado à diminuição de outras substâncias que causam prazer e bem-estar.
Entre esses neurotransmissores, podemos destacar a dopamina, serotonina, acetilcolina, colecistoquinina, e assim por diante.
É muito importante, ao identificar essa sensação, buscar ajuda médica rapidamente. O profissional precisa realizar exames para descartar hipóteses e descobrir a causa, tratando a pessoa de forma adequada.
Por que é fundamental não ignorar a anedonia?
A anedonia está entre os principais sintomas de depressão e bastante relacionada ao aumento dos riscos de suicídio.
Portanto, se você já percebeu que não sente prazer em atividades que gostava de realizar anteriormente e nota cada vez mais essa sensação de vazio, é importante buscar ajuda.
À medida que a depressão se prolonga, ela prejudica a fisiologia do cérebro. Portanto, quanto mais rápido for o início do tratamento, melhores são os resultados para os pacientes.
Além disso, nosso principal objetivo é sempre solucionar o problema antes que a pessoa desista de viver. Então, todo o esforço para conscientizar as pessoas para que busquem tratamento é justificado.
Como identificar a anedonia?
Além dos sintomas que já descrevemos, como a perda de prazer e a sensação de vazio, geralmente a anedonia não se manifesta de forma isolada.
Ela costuma ser acompanhada por outras sensações como cansaço, fadiga, dificuldade de concentração, desânimo e redução no nível de energia.
Tudo isso tem ainda um impacto social e sobre os relacionamentos. Portanto, a deterioração da qualidade de vida e do convívio deve ser observada com atenção.
Embora até o momento as principais hipóteses para o surgimento da anedonia estejam relacionadas ao funcionamento cerebral, sabe-se que fatores externos contribuem para desencadear o problema.
Então, é válido ficar atento ao próprio comportamento ou de pessoas próximas em situações como desemprego, dificuldades financeiras, luto ou grandes tragédias.
Como é feito o tratamento?
Não existe uma solução mágica para tratar a anedonia. Assim como em outros transtornos mentais, o médico pode entender que o paciente precisa de medicamento por um período para não colocá-lo em risco.
No entanto, para solucionar de fato o problema é fundamental tratá-lo de forma mais abrangente, e não apenas com medicamentos.
Há bastante tempo, nós falamos aqui sobre o impacto do estilo de vida e saúde mental. A cada dia surgem novas pesquisas reforçando a validade da nossa posição.
Portanto, fatores como sono adequado, alimentação saudável, prática de exercícios físicos e exposição ao sol são indispensáveis para recuperar a saúde mental.
Não podemos nos esquecer também da psicoterapia. Afinal, nossas dificuldades podem ter se originado em eventos passados que precisam ser ressignificados para que seu impacto não se prolongue em nossa vida.
Além disso, a nossa rotina é cheia de desafios e circunstâncias que nem sempre podemos controlar.
Desenvolver estratégias para manejar nossas emoções diante dessas situações é primordial para termos uma boa qualidade de vida e, principalmente, saúde mental.
