Autocontrole é considerada uma competência positiva pela maioria dos brasileiros, diz estudo

O autocontrole é a capacidade de dominar os próprios impulsos, emoções – em especial as negativas – e paixões. Pessoa de maior autocontrole tendem a refletir antes de agir, minimizando decisões tomadas por impulso. Para descobrir como pessoas de maior autocontrole são vistas pelos brasileiros, o Instituto Locomotiva realizou um estudo inédito, com 1.682 pessoas de todas as idades, classes sociais e regiões do país.

 

Em entrevista ao programa Visão do Futuro, da rádio CBN, o neurocientista Álvaro Machado Dias, que participou da pesquisa, explicou que a grande motivação para o trabalho foi a explosão da popularidade desse tema. Os resultados mostraram que, de forma geral, a sociedade demonstra-se receptiva a estas pessoas, dado que mais da metade dos respondentes associam a pessoa com autocontrole uma imagem positiva.

Para a maioria dos participantes, pessoas com maior autocontrole são vistas como competentes, justas, sinceras e simpáticas. Ao contrário do senso comum, essas pessoas também não foram associadas a características negativas como ser mais controladora, fria ou dotada de estilo robótico.

A maioria das pessoas também demonstra interesse em se relacionar – seja no âmbito amoroso, de amizade ou profissional – com pessoas de elevado autocontrole. Dias considerou esses resultados surpreendentes.

 

— [Os resultados] me surpreendem muito. […] No meu entendimento e inclusive na minha formação intelectual, o autocontrole excessivo é sinônimo de repressão e a repressão não é um ganho existencial. Ela tem enorme função mas também tem as suas perdas. A perda da manifestação espontânea do princípio do prazer que deveriam ser elementos importantes, por exemplo, para a geração de empatia. Então isso me surpreendeu, sem dúvida — disse o neurocientista à CBN.

Para Dias, o resultado está associado às atitudes irracionais que perpassam o tecido social atualmente.

— No final das contas, eu sinto que os brasileiros estão angustiados com as atitudes irracionais que perpassam o tecido social da gente. [..] Estamos nessa busca, como sociedade, de um pouco mais de autocontrole — avaliou.

Quem são as pessoas com maior autocontrole?

 

Os participantes realizaram um teste psicométrico validado internacionalmente e frequentemente utilizado em consultórios de psicologia e de psiquiatria. Os resultados mostraram que 24% demonstraram elevado grau de autocontrole, 37% médio grau e 29% baixo grau de autocontrole.

Os dados também revelaram que pessoas de maior autocontrole tendem a ser mais velhas, buscam a felicidade a partir de um modelo eudaimônico (ideal de felicidade baseado na experiência de estar realizando sua missão pessoal na vida) e valorizam como moralmente correto a ação em si, em contraste com as suas consequências.

Por outro lado, pessoas com baixo autocontrole são caracterizadas por decisões por impulso, muitas vezes, guiadas pela busca do prazer imediato. São mais espontâneas, mas também menos construtivas, em termos existenciais. Suas decisões tendem a ser mais intuitivas e envolvem menos assertividade.

O baixo autocontrole tende a diminuir com a escolaridade e é mais comum em mulheres.

No entanto, Dias revelou que há um grau mais elevado de solidão entre pessoas com alto grau de autocontrole do que aquelas com grau mais baixo. Ele especula que talvez haja uma experiência negativa associada ao autocontrole considerando que solidão não é ser só e sim uma percepção, um sentimento um sentimento de não estar conectado com as pessoas.

— De maneira geral, o autocontrole é o caminho da educação instrumental, da linha direta para atingir qualquer tipo de resultado na vida. Se você não se esforça, não inibe os impulsos que apontam em outras direções, você não chega lá. Por outro lado, é importante pensar que o caminho é a vida e se o tempo todo você está se privando daquilo que te dá prazer imediato e das experiências que a princípio não tem sentido prático algum, talvez você esteja se privando da própria vida e talvez daí que venha a solidão disso — conclui o neurocientista.

Fonte: O Globo

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