Coçar os olhos pode não ser um hábito inofensivo. O ato é o principal fator de risco para o ceratocone, uma doença ocular que causa alterações na estrutura da córnea e torna a visão embaçada. A doença é caracterizada por alterações na estrutura da córnea. Uma córnea normal tem formato arredondado, quase esférico, o que faz com que as imagens sejam focalizadas corretamente. Com ceratocone, ela passa a apresentar um encurvamento e afinamento progressivo.
— Coçar e pressionar frequentemente os olhos aumentam as chances de desenvolver ceratocone porque o atrito constante causa traumas na córnea, deixando-a mais finas e fragilizadas. Aos poucos, ela vai perdendo fibras e sua elasticidade, motivos que levam à deformidade de seu formato arredondado para o cônico — explica o oftalmologista Luiz Brito, especialista em transplante de córnea do H.Olhos, hospital referência em oftalmologia.
No H.Olhos, cerca de 40% dos diagnósticos de pacientes atendidos nos ambulatórios de córnea são para a doença. Brito explica que embora 10% dos casos sejam hereditários, pessoas com doenças respiratórias e alérgicas podem desenvolver ceratocone devido ao ato de coçar constantemente os olhos.
De acordo com o oftalmologista Luiz Brito, especialista em transplante de córnea do H.Olhos, hospital referência em oftalmologia, a grande maioria dos casos ocorre a partir de combinações entre fatores genéticos e o ambiente.
— O problema costuma surgir na infância, adolescência ou no início da fase adulta. Entre 0,9% e 3% da população nesta faixa etária é diagnosticada com a doença todos os anos — diz Brito.
Os principais sintomas da doença são visão borrada, embaçada e alta sensibilidade à luz. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar a progressão acelerada da doença. Além dos exames básicos, realizados no check-up oftalmológico anual, se houver suspeita da doença, é indicada uma tomografia de córnea. O exame permite fazer o mapeamento completo da córnea em apenas 15 minutos.
Luiz Henrique Okuhara, procurou um oftalmologista quando sentiu que sua visão estava prejudicada.
— Eu tinha que ficar muito próximo de telas para enxergar. Até mesmo para ler livros, eu tinha que ficar muito perto da página para conseguir ler — conta Okuhara.
Após a realização dos exames, ele foi diagnosticado com ceratocone.
Em fase inicial, o tratamento envolve o uso de óculos. À medida que a doença avança, e o grau aumenta, é necessário trocá-los. A frequência com que isso ocorre depende do perfil de cada paciente e o estágio em que foi diagnosticado.
— Quando o uso de óculos já não oferece mais uma boa qualidade de vida ao paciente, geralmente em uma fase moderada, é indicado o uso de lentes de contato especiais para ceratocone ou procedimentos cirúrgicos que permitem aumentar a resistência e a estabilidade da córnea e ajudam a impedir o avanço do ceratocone — explica Brito.
Entretanto, em 20% dos casos, é necessário realizar um transplante de córnea. Entre janeiro e junho deste ano, já foram realizados 88 transplantes de córnea no H.Olhos.
Okuhara está entre esses 20%. Ele conta que, inicialmente, utilizou lentes rígidas feitas sob medida. Mas elas não resolveram o problema na visão e ele precisou realizar o transplante.
— Mesmo com as lentes, eu ainda enxergava embaçado com o olho esquerdo. Então o médico indicou o transplante. Foi uma operação muito tranquila. Não senti dor na recuperação, apenas uma sensação de areia, que durou uma semana. Fiz o transplante há menos de um mês e já consigo enxergar bem com o olho esquerdo, o que antes não era possível. O que mais me chamou a atenção após tirar o curativo foi conseguir enxergar a textura do piso e uma prateleira que tem no meu quarto. Antes, eu só conseguia fazer isso se estivesse usando as lentes e apenas com o olho direito — diz Okuhara.