Consumo de álcool gera dano exponencial ao cérebro e perda de massa encefálica

Embora os parâmetros considerados seguros para o consumo de bebida alcoólica variem em diferentes países, os limites para reduzir o dano causado ao cérebro pode ser mais baixo que todos eles estipulavam até agora. Pelo menos é para essa direção que aponta um estudo feito por cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Segundo a descoberta feita por eles, o dano causado pelo álcool ao órgão mais importante para a vida humana aumenta de forma exponencial e não linear, como se podia acreditar até então. Isso quer dizer que cada dose a mais representa um risco muitas vezes maior que a ingerida anteriormente.

“Não é linear. Fica pior quanto mais você bebe. Há algumas evidências de que o efeito da bebida no cérebro é exponencial”, explica o autor correspondente Remi Daviet, agora na Universidade de Wisconsin-Madison. Ou seja, aquela “saideira” acaba custando mais ao cérebro que a cerveja anterior custou, enquanto todas elas são mais prejudiciais do que se você tivesse parado na primeira.

Envelhecimento em cada copo

Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram um banco de dados com o histórico de 36 mil adultos e compararam as análises de ressonâncias magnéticas com o consumo declarado de bebida alcoólica dos participantes. Já é sabido que o consumo de álcool reduz a massa encefálica, então, eles fizeram uma equivalência entre essa perda e a que acontece naturalmente com o avanço da idade.

Os pesquisadores descobriram que passar de zero para uma unidade de álcool não fez muita diferença no volume cerebral, mas passar de uma para duas ou duas para três unidades por dia estava associado a reduções tanto na substância cinzenta quanto na branca. O resultado foi que cada unidade adicional de álcool na média diária refletiu em um efeito maior de envelhecimento no cérebro.

Passar da faixa que bebia algo próximo a zero para a que tomava uma unidade de álcool por dia, por exemplo, foi associado a um ano e meio de envelhecimento da massa encefálica. Enquanto isso, ir de zero a quatro doses de bebida fez com que a idade do órgão saltasse mais de dez anos.

Em um exemplo prático, pessoas que têm por volta de 50 anos de idade e bebiam, em média, meia lata de cerveja por dia tinham um cérebro com perda semelhante à de alguém com 52 anos. Se a mudança fosse para quatro latas, o paciente teria um cérebro com perda semelhante à de uma pessoa de 60 anos de idade.

“Essas descobertas contrastam com as diretrizes científicas e governamentais sobre limites seguros de consumo. Por exemplo, embora o Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo recomende que as mulheres consumam em média não mais de uma bebida por dia, os limites recomendados para os homens são o dobro disso, uma quantidade que excede o nível de consumo associado no estudo com diminuição do volume do cérebro”, diz Henry Kranzler que dirige o Penn Center for Studies of Addiction.

Estudo de grandes proporções

O que diferencia essa de outras pesquisas é a abrangência da amostra estatística dele. É raro que algum estudo consiga reunir tantos dados assim e, por isso, os pesquisadores conseguiram correlações que levantamentos anteriores não podiam, inclusive refutando teorias de que o consumo leve de álcool poderia ser benéfico ao cérebro.

“Ter esse conjunto de dados é como ter um microscópio ou um telescópio com uma lente mais poderosa” explica Gideon Nave, autor correspondente do estudo e membro do corpo docente da Penn’s Wharton. Para ele, o mais interessante das conclusões é que quem mais se beneficia com a redução no consumo de álcool é justamente aquele público que mais bebe.

Em trabalhos futuros, a equipe pretende observar se há diferença entre um consumo médio leve a moderado por um grande período de tempo e beber grandes quantidades em curto prazo entre alguns período de abstinência. Em outras palavras, eles querem saber se aquela festa em que você perde as contas de quanto bebeu causa um prejuízo semelhante a alguém que bebe só ‘umazinha’ todos os dias.

O artigo completo intitulado Associações entre consumo de álcool e volumes de matéria cinzenta e branca no Biobank do Reino Unido pode ser lido, em inglês, na revista especializada Nature Comunications.

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