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O Instituto Butantan já salva de acidentes com serpentes 30 mil pessoas por ano no Brasil graças à sua produção de soros hiperimunes equinos. Para ampliar ainda mais as opções de tratamento, pesquisadores da instituição estão desenvolvendo células produtoras de anticorpos monoclonais (mAbs), que poderão ser usados para produzir um coquetel antiveneno.
Segundo uma revisão publicada pelo Butantan e divulgada pelo instituto na última sexta-feira (24), esses anticorpos podem ser usados para produzir antivenenos capazes de neutralizar as principais toxinas da peçonha, servindo como uma terapia alternativa.
É importante ter esta nova opção, pois nem todos conseguem acesso ao soro antiofídico, o tratamento mais comum. A maioria das vítimas de picada de cobra peçonhenta estão em comunidades remotas, muitas delas afastadas de grandes centros e sem acesso à energia elétrica.
“O soro, em contrapartida, precisa ser utilizado em no máximo 48h após o acidente, exige doses altas administradas via endovenosa, deve ser armazenado sob refrigeração e só pode ser aplicado por profissionais da saúde”, explica o Butantan.
Como são fabricados os mABs?
Podendo ser de origem humana ou animal, os anticorpos monoclonais são produzidos por uma única célula de defesa: o linfócito B, que é clonado e imortalizado para produzir sempre os mesmos anticorpos.
O pesquisador Wilmar Dias da Silva, em colaboração com a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, participou do desenvolvimento de hibridomas (células de replicação contínua) produtores de anticorpos monoclonais contra as toxinas do veneno da jararaca (Bothrops) e da serpente africana biúta (Bitis arietans).
Com o avanço, os pesquisadores poderão criar um único coquetel de anticorpos específicos para diferentes classes de toxinas. Isso poderá reduzir o uso de animais como cobaias e, a longo prazo, o custo de produção de antivenenos.
![A pesquisadora Sonia Andrade, que participa do estudo sobre o uso de anticorpos monoclonais para produzir antivenenos — Foto: Instituto Butantan](https://s2-galileu.glbimg.com/WFEJJgJd40HRxIcCDdZVvrzanQo=/0x0:750x500/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/H/R/oiU7SOQ8aACyJPUazFTg/interna-foto-1-c2b21d95d5706ff2.jpg)
“Os camundongos são utilizados apenas no início do processo para obter os hibridomas”, conta a pesquisadora Sonia Andrade, que participa do estudo, ao portal do Butantan. “Depois que essas células são transformadas, basta cloná-las com ferramentas de biotecnologia.”
Andrade está trabalhando com a pesquisadora Ana Moro em testes de inibição in vitro dos mAbs contra as toxinas. A ideia é analisar primeiro a eficácia dos anticorpos e depois o coquetel. Depois, os cientistas irão caracterizar a bioquímica desses anticorpos e fazer ensaios in vivo, entre outras etapas.
Apesar de importante, essa estratégia não é algo novo: cientistas franceses criaram os primeiros anticorpos monoclonais contra o veneno da Naja nigricollis na década de 1980. Alguns mAbs mostraram resultados promissores em testes pré-clínicos, mas ainda não há ensaios clínicos em andamento.
Segundo ressalta Andrade, o objetivo de pesquisar novas tecnologias não é substituir o soro antiofídico, mas sim oferecer mais opções de tratamento para o ofidismo, que ainda é muito limitado em países de baixa renda e em comunidades que vivem em áreas remotas. Na maioria dos países africanos, por exemplo, não há produção local de antivenenos, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), e soros precisam ser importados.