Cresce o número de meninas de 13 a 17 anos que fumam no Brasil

Dados da última edição da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) e divulgada neste ano, mostram que a proporção de adolescentes entre 13 a 17 anos que fumam aumentou de 6,6%, em 2015, para 6,8%, em 2019. A alta, no entanto, foi relacionada ao aumento especialmente entre as meninas da faixa etária, que passaram de 6% para 6,5% fumantes. Em comunicado, o Ministério da Saúde alerta ainda que pesquisas realizadas pela pasta na última década indicam que o tabaco é a segunda droga mais experimentada no país, e que a primeira vez geralmente ocorre aos 16 anos.

 

— Esse é um tema que preocupa bastante, porque o uso de qualquer droga psicoativa, como é o caso da nicotina dos cigarros, é sempre mais alarmante em alguém cujo cérebro ainda está em desenvolvimento, como é o caso dos jovens. Essas drogas quando entram no organismo atingem o sistema nervoso central e produzem diversas modificações que são mais acentuadas nesses casos. Além disso, eleva a probabilidade de ele voltar a usar a substância e eventualmente desenvolver uma dependência química, o que leva a riscos como câncer e problemas cardiovasculares — diz a pesquisadora Vera Borges, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O pesquisador André Szklo, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca, explica que a PeNSE faz parte de um monitoramento ligado ao acompanhamento do tabagismo no Brasil, e por isso apresenta um padrão ouro na representação do cenário no país. Para ele, o crescimento é reflexo de uma série de fatores que já vinham sendo percebidos, como os preços baixos, o fácil acesso e o abrandamento da fiscalização.

— Embora proibidos, a PeNSE mostra que os jovens conseguem comprar esses produtos facilmente. Além disso, desde 2017, os preços reais do cigarro vêm caindo, o que é um facilitador para o tabagismo. Há ainda outros pontos da legislação que não são cumpridos, como a proibição da adição de sabores e aromas, o que atrai os adolescentes. Então não há nada no cenário atual que indique que esse crescimento seja interrompido no curto prazo, precisaria que as leis voltassem a ser melhor implementadas para ter essa perspectiva — afirma o especialista.

 

Um dos pontos da legislação que não é seguido mencionado por Szklo é a venda dos cigarros eletrônicos. De acordo com o relatório Covitel, levantamento da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com mais de nove mil jovens realizado neste ano, um a cada cinco indivíduos de 18 a 24 anos no Brasil já experimentaram os chamados “vapes”. Essa adesão acontece apesar de a comercialização dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF) ser proibida pela Anvisa no Brasil desde 2009, decisão que foi mantida em deliberação neste ano.

Segundo a PeNSE, essa experimentação acontece também entre os adolescentes, e é mais dramática entre os alunos de redes privadas de ensino. Considerando todos os formatos de cigarro, tanto o comum, como o eletrônico e o narguilé, 24,4% dos alunos do nono ano do Ensino Fundamental, de em média 15 anos, relataram já ter fumado alguma vez na vida, contra 12,2% na rede pública. O índice também aumentou nas escolas particulares, onde era de 21,2% em 2015, mas caiu nas públicas – o percentual era de 13% há sete anos.

— Sem dúvida nenhuma o cigarro eletrônico é uma grande preocupação hoje. Porque ele vem disfarçado com sabores, aromas, passando uma imagem de um produto descolado, moderno, com a falsa promessa de ser diferente do modelo tradicional, menos danoso. Isso acaba estimulando esse jovem a experimentar esses dispositivos, mas é apenas uma nova forma de entrega de nicotina. É toda uma geração que está experimentando cigarros pela primeira vez com esses modelos — avalia Vera.

 

Além do cigarro eletrônico, o Ministério da Saúde destaca os narguilés, outro formato que cresce entre os jovens e oferecem mais riscos que o cigarro comum. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma sessão de 20 a 80 minutos corresponde à exposição a todos os componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros tradicionais. Há ainda a maior exposição a doenças como herpes, hepatite C e tuberculose devido ao uso coletivo e o ato de compartilhar o bocal do narguilé.

Para a pasta da saúde no Brasil, as ações para controle do tabagismo devem envolver a prevenção do uso de cigarros entre jovens e adolescentes, oferecendo tratamento diferenciado para a faixa etária, que costuma ser mais vulnerável.

Fonte: O Globo

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