Dentistas inovam nos consultórios para combater fobia que pacientes têm de atendimento odontológico

A dificuldade em dormir na noite que antecedia a visita ao dentista era uma realidade na vida da influenciadora digital Kika Macedo. Ela temia reviver o que enfrentou quando sofreu um acidente de carro, há 25 anos, e perdeu os dentes da parte frontal da boca. Do período de recuperação no hospital, ela se lembra das anestesias que demoravam a fazer efeito e, consequentemente, das dores dos procedimentos. Devido a esse trauma, cuidar da saúde bucal nunca foi algo tranquilo. Esse medo descomunal é real e tem nome: odontofobia.

Assim como outros tipos de transtornos de ansiedade, essa fobia deve ser tratada com a ajuda de um profissional da psicologia ou da psiquiatria. Como o medo de dentista é algo bem comum no Brasil, há mais de dez anos os profissionais vêm implementando em seus consultórios medidas para minimizar o problema e possibilitar que o paciente consiga fazer seu procedimento bucal com o menor incômodo e dor possíveis.

Entre as intervenções, estão desde criar um ambiente mais sereno, com menos cara de consultório dentário, até a sedação consciente — semelhante à realizada nas endoscopias, em que o paciente “apaga”, mas pode despertar quando for chamado.

— Algumas pessoas têm um trauma muito grande de dentista, normalmente relacionado a algo que ocorreu na infância. Há o lado do profissional também, que muitas vezes se distancia dos pacientes, não escuta o que eles têm a dizer. Falta um pouco de empatia — avalia a dentista Natalia Liuzzi, especialista em reabilitação estética e funcional, e dona da clínica Odontoliuzzi. — A partir de uma experiência ruim, o paciente passa a generalizar como se todos fossem ruins.

Para ela, o profissional precisa ouvir o que o paciente tem a dizer antes de falar.

— Nessa conversa, é preciso que as explicações dos procedimentos sejam feitas de forma mais leiga — defende.

O medo excessivo de ir ao dentista faz com que os pacientes só procurem um profissional quando não conseguem mais resolver o problema sozinhos e, muitas vezes, após longos períodos de automedicação. Isso resulta em lesões profundas e graves, que se tratadas desde o início teriam um prognóstico bem melhor e com menos necessidade de intervenção do dentista.

O barulho do motorzinho e a necessidade de tomar anestesia local para a realização de alguns procedimentos são os gatilhos mais listados por quem evita visitar o dentista a todo custo. E engana-se quem pensa que a região bucal é mais sensível por conta dos variados nervos que passam por essa área. Liuzzi conta que é a própria tensão do paciente que aumenta a sensação de dor depois de uma leve agulhada na gengiva.

Em seu consultório, Liuzzi implementou a anestesia consciente para tratar seus pacientes com odontofobia. Com a ajuda de quatro anestesistas, com o paciente sendo monitorado por equipamentos de sinais vitais o tempo todo, a equipe faz o paciente “dormir” durante todo o procedimento.

— O objetivo é fazermos o máximo que conseguirmos durante aquela consulta. Se o paciente vai fazer uma extração e colocar uma prótese, escaneamos a boca dele com nosso aparelho em 3D e produzimos [a prótese] em nosso laboratório próprio, seja em resina ou cerâmica. Em seguida, colocamos na boca do paciente, tudo no mesmo dia. A intenção é reduzir o número de consultas — explica.

O objetivo é que, com o passar do tempo e o crescimento de confiança no profissional, o paciente vá deixando de lado a anestesia geral, passando a utilizar a local, cuja duração é bem menor e não demanda descanso pós-procedimento.

Atendimento a idosos

O dentista Thomaz Regazi, especializado no atendimento a PcDs, pacientes oncológicos, idosos, pediátricos com necessidades especiais e acamados, afirma que uma alternativa ao uso da anestesia é a utilização da sedação via óxido nitroso, popularmente conhecido como gás hilariante ou do riso.

— Com esse gás, o paciente entra em um estado de leveza, todos os seus reflexos são diminuídos — explica Regazi. — Ao terminar o procedimento, o paciente deixa de inalar o gás e fica 15 minutos usando somente oxigênio. Depois desse período, ele está apto a fazer todas as atividades de seu dia a dia, diferente da anestesia sedativa, que necessita de descanso pelo restante do dia.

O especialista destaca que esse tipo de sedação provoca uma redução na quantidade de sangramento, devido à desaceleração do ritmo dos batimentos cardíacos, e uma maior duração dos agentes anestésicos, que levam mais tempo para serem metabolizados pelo corpo durante o processo.

No entanto, o uso do óxido nitroso deve ser evitado em alguns casos, como em pacientes no primeiro trimestre da gravidez, com deficiência de vitamina B12, com histórico de problemas de saúde mental e com histórico de abuso de substâncias.

Cuidados com a boca

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, a mais recente no país, mostraram que menos da metade da população brasileira (49,4%) se consultou com um dentista nos 12 meses anteriores à entrevista. A recomendação é que todos visitem profissionais especializados em saúde bucal pelo menos duas vezes ao ano, para manter a limpeza dos dentes e prevenir problemas.

Escovar os dentes pelo menos três vezes ao dia e usar o fio dental diariamente são medidas que diminuem a incidência de cáries e outros problemas que possam afetar a saúde bucal da população. O fio, por exemplo, garante a higiene entre os dentes, uma região que a escova sozinha não consegue alcançar.

Especialistas recomendam também o uso de pastas de dente não abrasivas — sem “pedrinhas” — e enxaguantes bucais sem álcool, como forma de reforçar a limpeza da boca sem prejudicar as estruturas do dente e a mucosa oral.

Comments are closed.

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More

Privacy & Cookies Policy