Entenda por que um novo surto de poliomielite pode atingir o Brasil

Popularmente conhecida como paralisia infantil ou pólio, a poliomielite é uma doença contagiosa aguda, que pode gerar paralisias musculares – especialmente nas pernas. Atrofia da fala, paralisia dos músculos da deglutição, crescimento desigual das pernas, osteoporose, hipersensibilidade ao toque e dores nas articulações também estão entre as sequelas da pólio.

Ela é causada pelo poliovírus, que ataca a medula e o cérebro. Pode infectar crianças e adultos por meio do contato com fezes ou secreções da boca de uma pessoa infectada. A vacina é única forma de prevenção e todas as crianças abaixo de cinco anos devem ser imunizadas.

Depois de um surto da doença na década 1970, os países do continente americano se esforçaram para conte-la. Com isso, em 1991 foi registrado o último caso de poliovírus selvagem na região e, em 1994, as Américas foram certificadas como livres da pólio.

No entanto, desde o ano passado a OMS vem fazendo alertas sobre o possível retorno do vírus por aqui. Brasil, Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela são os países das Américas com alto risco de volta da poliomielite, segundo informes divulgados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

“A ameaça de reintrodução da pólio na região é real”, disse Andrés de Francisco, diretor de Família, Promoção da Saúde e Curso de Vida da Opas, em recente comunicado emitido pela organização. “Não podemos retroceder. Evitar casos de poliomielite depende de ter uma população infantil altamente vacinada e uma forte vigilância da doença”.

O Malauí, que não notificava casos desde 1992, dá o exemplo do que pode acontecer por aqui. Em 17 de fevereiro, autoridades daquele país declararam um surto de poliovírus selvagem tipo 1, depois que um caso foi detectado na capital, Lilongwe.

A cepa viral identificada no Malauí está geneticamente relacionada a um poliovírus detectado em 2019 e 2020 no Paquistão – país onde a doença ainda é endêmica, junto com o Afeganistão. “O recente caso de poliovírus selvagem na África é um lembrete de que, quando o vírus continua a circular, as crianças de todo o mundo correm risco”, apontou Andrés de Francisco.

Especialistas brasileiros alertam que os crescentes movimentos antivacina representam um perigo real nesse cenário. “O trabalho de vacinação é boicotado por conflitos, além de questões políticas e religiosas. Não basta ter vacina segura, eficaz e disponível, há outros aspectos que complicam a questão”, disse Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em entrevista a O Globo.

De acordo com a Opas, as Américas tiveram uma taxa de 82% de vacinação com as três doses contra a pólio em 2020 – a menor desde 1994. No Brasil, os índices de crianças imunizadas caíram de 98% para 76% entre 2015 e 2020.

“Não é brincadeira. Precisamos aumentar essa cobertura. Caso contrário, ainda falaremos muito de pólio no Brasil. É uma doença muito triste” declarou Luiza Helena Falleiros, presidente da Câmara Técnica de Certificação da Erradicação da Poliomielite no Brasil junto à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

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