Esforço para respirar pode danificar ainda mais pulmão de quem tem Covid

Desde o início da pandemia de Covid-19, há um debate significativo em torno do uso de ventiladores mecânicos em indivíduos com quadros de insuficiência respiratória hipoxêmica aguda causada pelo novo coronavírus. Por um lado, médicos argumentam que, embora seja capaz de salvar vidas, essa intervenção também poderia resultar em danos aos pulmões já debilitados dos pacientes — é o caso da chamada lesão pulmonar induzida por ventilação mecânica (LPIVM). Por outro, profissionais alertam para o risco de prejuízos semelhantes que surgiriam após esforços elevados de respiração espontânea não assistida — é a chamada lesão pulmonar autoinfligida pelo paciente (P-SILI).

Evidências clínicas diretas que associam o aumento do esforço inspiratório causado pelo Sars-CoV-2 à lesões pulmonares, no entanto, ainda são escassas. Mas um estudo publicado no periódico científico Annals of Intensive Care no último dia 13 de julho traz algumas pistas sobre a hipótese.

Conduzida por pesquisadores da Universidade de Warwick, na Inglaterra, a investigação usou um modelo computacional criado para simular as características fisiológicas e cardiopulmonares de 10 pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica aguda causada por Covid-19, em tratamento com oxigênio suplementar.

O objetivo da equipe era quantificar as forças mecânicas que poderiam resultar em lesões pulmonares, considerando diferentes níveis de esforço respiratório, que incluíram desde um volume corrente (profundidade da respiração) de 7ml/kg e frequência respiratória de 14 respirações por minuto — o que representa um quadro de respiração normal — até um volume de 10ml/kg e frequência de 30 respirações por minuto, o que corresponde a um cenário de alto esforço respiratório.

Após os testes, os pesquisadores constataram que as oscilações da pressão transpulmonar e pleural, os níveis de pressão motriz, o esforço pulmonar e a potência mecânica que têm sido associados à casos de lesões pulmonares induzidas por ventilação mecânica (LPIVM) também foram observados em algumas das simulações do estudo: aquelas em que os pacientes tiveram que fazer maior esforço respiratório devido aos baixos níveis de oxigênio disponíveis no sangue.

“Não há, portanto, nenhuma razão para acreditar que a extensão da lesão será significativamente diferente, independentemente de as pressões excessivas serem geradas pelos músculos respiratórios na respiração espontânea ou por um ventilador mecânico”, conclui o estudo. “Nosso modelo descobriu que os pacientes que apresentam insuficiência respiratória hipoxêmica aguda causada pela Covid-19 podem estar em risco significativo de lesão pulmonar autoinfligida devido ao aumento dos esforços respiratórios. Esses esforços precisam ser monitorados e controlados cuidadosamente durante o tratamento”, acrescenta, em comunicado, Declan Bates, professor da Universidade de Warwick e um dos autores da pesquisa.

 

Esforço de pacientes com Covid-19 para respirar pode danificar ainda mais o pulmão, sugere estudo (Foto: Lisa Braun/JBSA)
Esforço de pacientes com Covid-19 para respirar pode danificar ainda mais o pulmão, sugere estudo (Foto: Lisa Braun/JBSA)

 

Limitações

Uma vez que os resultados não consideraram dados individuais de pacientes com Covid-19 — e sim parâmetros gerais semelhantes aos relatados por esse grupo —, os pesquisadores ressaltam que as evidências obtidas ainda precisam ser investigadas em modelos animais e ensaios com humanos. Eles também ressaltam que os desfechos observados são limitados aos casos de respiração puramente espontânea com suporte de oxigênio e que os efeitos do alto esforço respiratório durante quadros de ventilação não invasiva com pressão positiva (VNIPP) é uma “importante questão em aberto” que será objeto de estudos futuros.

“É provável que a investigação das questões levantadas aqui em ensaios clínicos seja um desafio tanto do ponto de vista ético quanto prático”, escreveram os autores na pesquisa. “Nessas circunstâncias, esperamos que os insights de modelos computacionais detalhados que recapitulam os padrões de respiração do paciente e a mecânica pulmonar possam fornecer evidências úteis para informar os debates atuais e futuros”.

 

Fonte: Galileu

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