Estudo avança na compreensão do autismo; entenda descobertas

O maior estudo de DNA associado ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) já realizado encontrou 134 genes que têm relação com a condição. A pesquisa, do Hospital de Crianças Doentes (SickKids), no Canadá, aprofunda a compreensão da arquitetura genômica por trás do TEA, presente em pelo menos 70 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O artigo foi publicado na revista Cell.

Os cientistas usaram o sequenciamento do genoma total de mais de 7 mil pessoas com autismo, comparando esses dados aos de 13 mil familiares delas. Os pesquisadores descobriram uma série de alterações genéticas, principalmente variações do número de cópias dos genes (CNVs), provavelmente associadas ao autismo, incluindo variantes raras encontradas em cerca de 14% dos participantes.

A maioria dos dados foi extraída do banco de dados Autism Speaks MSSNG, o mais completo conjunto de dados de genoma de autismo do mundo, que fornece aos pesquisadores acesso livre e aberto a milhares de sequenciamentos. “Ao sequenciar todo o genoma de todos os participantes e com profundo envolvimento das famílias, maximizamos o potencial de descoberta e permitimos análises que englobam todos os tipos de variantes, desde as menores alterações de DNA até aquelas que afetam cromossomos inteiros”, diz Stephen Scherer, diretor do Centro McLaughlin da Universidade de Toronto e cientista sênior do estudo.

Brett Trost, principal autor do artigo e pesquisador associado do programa de genética da SickKids, observa que o uso do WGS permitiu que os pesquisadores descobrissem tipos de variantes que, de outra forma, não seriam detectáveis. Elas incluem rearranjos complexos, bem como regiões repetitivas do genoma, uma descoberta apoiada por pesquisas recentes da SickKids sobre a ligação entre autismo e segmentos genéticos que podem aparecer muitas vezes no DNA.

Famílias multiplex

O artigo também aponta para nuances importantes na genética do autismo em famílias com apenas uma pessoa com o transtorno, em comparação com aquelas onde há mais de um membro com TEA, conhecidas como famílias multiplex. Surpreendente para a equipe foi que a “pontuação poligênica” — uma estimativa da probabilidade de um indivíduo ter a condição, calculada pela agregação dos efeitos de milhares de variantes comuns em todo o genoma — não foi maior entre os multiplex.

“Isso sugere que o autismo em famílias multiplex pode estar mais ligado a variantes raras e altamente impactantes herdadas de um dos pais”, diz Trost. “Como a genética e os traços clínicos associados ao autismo são tão complexos e variados, grandes conjuntos de dados como os que usamos são essenciais para fornecer aos pesquisadores uma compreensão mais clara da arquitetura genética do autismo.”

Segundo os pesquisadores, os dados do estudo podem ajudar a expandir as pesquisas sobre a gama de variantes que podem estar ligadas ao TEA. Em outro trabalho, realizado com 325 famílias com TEA e publicado neste mês na revista Nature Communications, a equipe de Stephen Scherer descobriu que combinações de fatores genéticos espontâneos, de herança rara e poligênicos reunidos em uma mesma pessoa podem levar a alguns tipos de autismo.

“Esse rico conjunto de dados também oferece uma oportunidade de aprofundar a pesquisa sobre outros fatores que podem determinar a chance de uma pessoa desenvolver essa condição complexa, para ajudar a individualizar futuras abordagens de tratamento”, disse Suzanne Lewis, geneticista e cientista do Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de British Columbia, que diagnosticou muitas das famílias inscritas no estudo.

Fonte: Correio Braziliense

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