Metoprolol é a nova aposta no tratamento terapêutico contra covid-19

Um medicamento de custo barato — cerca de 2 euros (R$ 12) — e amplamente utilizado para tratar doenças cardiovasculares pode ser uma nova opção terapêutica contra o novo coronavírus. Pesquisadores europeus observaram, em um estudo clínico, que a droga metoprolol ajuda a tratar problemas pulmonares em pacientes com a forma grave da covid-19.

Os resultados publicados no periódico especializado Journal of the American College of Cardiology (JACC) são preliminares, pois foram observados em um grupo pequeno de doentes, mas os responsáveis pela descoberta estão animados com o efeito e pretendem, como próximo passo da pesquisa, avaliar o desempenho da droga em um grupo maior de pacientes.

No artigo, os cientistas explicam que a forma mais grave da covid-19 gera insuficiência respiratória grave, um problema que requer intubação e está associado a uma alta taxa de mortalidade. “A infecção pulmonar desencadeada pelo vírus Sars-CoV-2 pode progredir para a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), na qual a inflamação e a hiperativação de neutrófilos (células de defesa) desempenham um papel central. Atualmente, há uma falta de terapias para a SDRA associada a covid-19”, escrevem.

A equipe saiu em busca de alguma droga que pudesse ajudar esses pacientes, e, entre diversos medicamentos, escolheu o metoprolol. Estudos anteriores indicaram que esse remédio é uma boa opção para regular a ativação exagerada de neutrófilos em situações de estresse agudo, como um infarto do miocárdio.

Para avaliar se isso funcionaria em caso de infecção pelo Sars-CoV-2, os cientistas testaram a droga em um grupo de 20 pessoas intubadas em função da covid-19. Parte dos pacientes recebeu, de forma intravenosa, 15mg da droga por dia, durante 3 dias. O grupo controle recebeu soro.

Os especialistas analisaram secreções presentes no interior do pulmão dos pacientes antes e após o tratamento. Observaram que aqueles que receberam a terapia experimental apresentaram melhora na hiperativação dos neutrófilos e na oxigenação, quando comparados ao grupo controle.

“Ficou claro que, entre os pacientes tratados com metoprolol, foram necessários menos dias em ventilação mecânica e, portanto, uma estadia mais curta na UTI”, detalha, em comunicado, Arnoldo Santos, intensivista do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares Carlos III, na Espanha, e um dos autores do estudo.

A equipe destaca que o estudo é inicial, mas que os dados são promissores. “Embora precisemos ser cautelosos com resultados de um ensaio piloto, observamos que o tratamento com metoprolol, nesse ambiente clínico, é seguro, está associado a uma melhora na saúde pulmonar e parece levar a melhorias rápidas na oxigenação do paciente”, afirma Borja Ibañes, também autor do estudo. “Esse medicamento parece ser uma intervenção promissora, que pode melhorar o prognóstico de pacientes com covid-19 gravemente enfermos”, acrescenta.

Segurança

Os responsáveis pela pesquisa também enfatizam que o metoprolol é um remédio seguro e barato, além de já estar disponível aos médicos. A próxima etapa do estudo é avaliar se os efeitos do tratamento experimental se repetem em um número maior de pacientes. “Conseguimos auxílio financeiro e, agora, vamos para um ensaio com cerca de 350 pacientes, em 14 UTIs em toda a Espanha”, adiantam os autores.

Thiago Fuscaldi, pneumologista e intensivista do Hospital Sírio- Libanês em Brasília, avalia que a pesquisa traz dados importantes, que merecem ser avaliados em uma amostra maior. “Uma análise com apenas 20 pacientes pode gerar riscos de coincidências, é difícil dar garantias de que a melhora aconteceu por causa da droga testada ou por outros medicamentos usados na UTI, como os corticoides, que também foram administrados durante os testes”, justifica

“Ainda assim, os dados de melhora foram muito expressivos. É possível que essa pesquisa inicial abra as portas para o uso de mais uma droga no tratamento de casos graves da enfermidade caso isso se repita em uma análise maior.”

O médico brasileiro acredita que a escolha pela droga metoprolol se justifica por estudos anteriores em que ela foi usada para o tratamento da sepse, uma inflamação grave. “Algumas pesquisas feitas para tratar essa enfermidade com esse remédio demonstraram dados positivos, mas tudo foi meio nebuloso, ficou difícil dizer se existiu realmente uma melhora. Por isso, a ideia desses pesquisadores em testá-la para outra infecção, como a covid-19”, afirma.

Fuscaldi ressalta ainda que o surgimento de mais opções terapêuticas para tratar a forma grave da covid é extremamente bem-vindo. “Já temos algumas opções, mas ainda são poucas, como os corticoides, o remdesivir e o tocilizumab, todos aprovados pelo FDA, nos Estados Unidos. É importante termos outras alternativas para ajudar esses pacientes.”

Nova cepa preocupa

Uma nova variante do Sars-CoV-2 identificada na África do Sul preocupa especialistas. Chamada de C.1.2, a recente cepa teve uma taxa muito alta de transmissibilidade em análises laboratoriais e, por isso, teme-se um escape da variante aos efeitos das vacinas disponíveis. Cientistas ponderam que novos estudos mostrarão o comportamento dessa variante. A C.1.2. é derivada da linhagem C.1, que foi dominante nos casos de covid-19 registrados no país no meio da primeira onda da pandemia, em 2020. Ela foi registrada, pela primeira vez, em maio, nas províncias e Mpumalanga e Gauteng, em Joanesburgo e Pretória. A descoberta foi anunciada por um grupo de cientistas sul-africanos em um artigo publicado na plataforma de estudos científicos MedRxiv, sem revisão de pares.

Proteção menor

As vacinas contra a covid-19 induzem a produção de anticorpos protetores em pessoas com sistema imunológico enfraquecido, mas em uma quantidade menor do que a em imunizados saudáveis, mostra um estudo publicado na última edição da revista especializada Annals of Internal Medicine. O trabalho sinaliza a necessidade de uma dose de reforço nesses indivíduos, defendem os autores.

Eles avaliaram 133 pacientes que tomavam medicamentos imunossupressores para tratar doenças inflamatórias crônicas, como a artrite reumatoide, e 53 pessoas saudáveis (grupo controle). Foram colhidas amostras sanguíneas de todos os participantes duas semanas antes de eles receberem a primeira dose da vacina da Pfizer ou da Moderna. O procedimento foi repetido três semanas após a inoculação da segunda dose dos fármacos protetivos.

Todos os avaliados saudáveis e 88,7% dos imunossuprimidos produziram anticorpos contra o vírus que causa a covid-19. No entanto, os níveis das células de defesa no segundo grupo equivaleu a um terço do nível detectado no primeiro. Para os cientistas, a constatação de uma resposta imune em pessoas com sistema imunológico comprometido, mesmo que não seja tão forte, é uma notícia encorajadora.

“Alguns de nossos pacientes têm hesitado em ser vacinados, o que é lamentável (…) Muitos deles estão preocupados que a vacinação possa causar um agravamento da doença, mas não vimos isso acontecer. Há claramente um benefício para essa população”, enfatiza, em comunicado, Alfred Kim, pesquisador da Universidade de Washington e um dos autores.

Professor de patologia e imunologia da mesma universidade e também participante do estudo, Ali Ellebedy lembra que ainda não se sabe qual é o nível mínimo de anticorpos necessários para evitar a infecção. Por isso, segundo ela, os dados indicam a importância de reforçar a proteção em imunossuprimidos. “É essa incerteza que justifica a necessidade de uma terceira dose, especialmente porque temos essas variantes altamente infecciosas, capazes de causar infecções invasivas mesmo entre pessoas saudáveis.”

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