Parkinson: novo estudo associa solvente usado na limpeza ao aumento de risco da doença

Um produto químico comum e amplamente utilizado pode estar associado a um aumento no número de casos de doença de Parkinson no mundo, garante um grupo de cientistas internacionais em um novo estudo. O tricloroetileno químico (TCE) é um solvente usado para descafeinar café, desengordurar metais e lavar roupas a seco.

 

 

Ele é aplicado em diversas indústrias de consumo, militares e médicas, inclusive para remover tinta, limpar motores e anestesiar pacientes. Estudos anteriores associaram a substância a abortos espontâneos e doenças cardíacas congênitas. A pesquisa recém-lançada e publicada no Journal of Parkinson’s Disease vai além e diz que a exposição ao TCE pode aumentar em até 500% a chance de desenvolver a doença de Parkinson.

A conexão entre TCE e Parkinson foi sugerida pela primeira vez em estudos de caso há mais de 50 anos. Nos anos seguintes, pesquisas em camundongos e ratos mostraram que o TCE entra prontamente no cérebro e nos tecidos do corpo e, em altas doses, danifica as partes produtoras de energia das células conhecidas como mitocôndrias.

Em estudos com animais, o TCE causou perda seletiva de células nervosas produtoras de dopamina, uma característica da doença de Parkinson em humanos.

Efeitos da exposição

 

Outros efeitos devido à exposição da substância são: cefaleia, tontura e sonolência. Em grandes quantidades, pode levar ao coma e até mesmo a morte. A inalação de altos níveis de TCE pode ocasionar danos aos nervos da face, além de afetar a audição, visão, equilíbrio, alterações no ritmo cardíaco, hepatotoxicidade e dano renal.

 

A exposição prolongada pode causar esclerodermia (doença sistêmica autoimune) e problemas reprodutivos. A exposição crônica ao TCE também está relacionada ao aumento do risco de câncer de rim, fígado, linfoma não-Hodgkin, câncer cervical e múltiplos mielomas.

Indivíduos que trabalharam diretamente com TCE têm um risco elevado de desenvolver Parkinson. Ou seja, profissionais da indústria de transformação de tecidos para limpar algodão, lã e outros tecidos; em operações de limpeza a seco; fabricantes de adesivos, lubrificantes, tintas, vernizes, descascadores de tinta, pesticidas e limpadores de metais frios.

No entanto, os autores advertem que “mais de milhões encontram o produto químico sem saber através do ar externo, águas subterrâneas contaminadas e poluição do ar interno”.

O produto químico pode evaporar facilmente e entrar nas casas, escolas e locais de trabalho das pessoas, muitas vezes sem ser detectado, com a intrusão de vapor provavelmente expondo milhões perto de antigas instalações de lavagem a seco, militares e industriais ao ar interno tóxico.

Vítimas da substância

 

No estudo, os cientistas usaram como exemplo sete indivíduos nos quais o TCE pode ter contribuído para a doença de Parkinson. Embora as evidências que ligam a exposição ao TCE à doença de Parkinson nesses indivíduos sejam circunstanciais, suas histórias destacam os desafios de construir o caso contra o produto químico.

 

Entre eles estão o jogador profissional de basquete Brian Grant, que jogou por 12 anos na NBA e foi diagnosticado com Parkinson aos 36 anos. Grant provavelmente foi exposto ao TCE quando tinha três anos e seu pai, então fuzileiro naval, foi estacionado em Camp Lejeune. Grant criou uma fundação para inspirar e apoiar pessoas com a doença.

Amy Lindberg foi igualmente exposta à água potável contaminada em Camp Lejeune enquanto servia como uma jovem capitã da Marinha e viria a ser diagnosticada com a doença de Parkinson 30 anos depois. A peça detalha outras pessoas cuja exposição foi resultado de morar perto de um local contaminado ou trabalhar com o produto químico, incluindo o falecido senador americano Johnny Isakson, que deixou o cargo após o diagnóstico de Parkinson em 2015. Cinquenta anos antes, ele serviu no Georgia Air National Guard, que usava TCE para desengordurar aviões.

Como enfrentar o problema?

 

Os autores prescrevem uma série de ações para enfrentar a ameaça à saúde pública representada pelo TCE. Entre as ações, eles defendem que sejam realizadas mais pesquisas para entender melhor como o TCE contribui para o mal de Parkinson e outras doenças. “Os níveis de TCE nas águas subterrâneas, na água potável, no solo e no ar externo e interno exigem um monitoramento mais próximo e essas informações precisam ser compartilhadas com aqueles que vivem e trabalham perto de locais poluídos”, afirmam.

 

Além disso, os cientistas também pedem o fim definitivo do uso desses produtos químicos nos EUA. Dois estados, Minnesota e Nova York, proibiram o TCE, mas o governo federal não, apesar das descobertas de que os produtos químicos representam “um risco irracional para a saúde humana”.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), medidas mais simples para evitar o contágio também podem ser seguidas, como não respirar os vapores, utilizar somente em zonas bem ventiladas, evitar o contato com a pele e os olhos.

Evitar o contato com chamas desprotegidas e superfícies quentes, dado que pode se formar produtos tóxicos e corrosivos (ácido clorídrico) da decomposição e utilizar os equipamentos de proteção individual (EPI) para evitar o contato direto com o produto.

Fonte: O Globo

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