Perda do olfato pela covid traz riscos, mas estudos preliminares indicam que ele volta

Imagine a seguinte situação: você almoça em um restaurante, come a sobremesa e pede uma xícara de café para finalizar; mas em nenhum momento sente o cheiro e sequer o sabor de cada alimento ou bebida. A situação descrita retrata a vida de muitas pessoas hoje, após o início da pandemia de covid-19. Além das consequências diretas no bem-estar, ficar sem olfato pode gerar situações de risco, como não sentir o cheiro da fumaça de um incêndio, do gás aberto, ou mesmo ingerir alimentos contaminados sem se dar conta.

A perda ou diminuição do olfato era sentida por até 20% da população mundial, especialmente em pessoas com sinusite ou rinite. Entretanto, com a covid-19 essa parcela aumentou significativamente, uma vez que pesquisa publicada em janeiro deste ano no Journal of Internal Medicine revelou que 86% dos pacientes infectados com o novo coronavírus apresentaram alguma disfunção olfatória, que pode, inclusive, demorar meses até ser recuperada.

 

Mas, pesquisa do grupo de rinologia, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, traz resultados preliminares animadores sobre essa parcela dos pacientes que apresentam perda ou diminuição de olfato decorrentes da covid-19, como contou a professora Wilma Anselmo-Lima, da área de Otorrinolaringologia, ao Jornal da USP – Edição Regional.

O estudo vem sendo feito desde o início da pandemia em cerca de 20 cidades brasileiras e, até o momento, apontou que em apenas dois meses, 44% dos pacientes recuperaram totalmente o olfato; 23% estão com hiposmia – baixa sensibilidade olfativa – leve; 15% com hiposmia moderada; e 13% com hiposmia severa. Além disso, apenas 3% ainda não recuperaram totalmente o olfato.

 

Wilma ainda explica que um dos principais métodos para a recuperação do olfato é o treinamento olfatório. Através da sensação do cheiro de alguns odores específicos, o paciente vai fazer um treinamento, pensando no que aqueles cheiros representam. O treinamento é feito, geralmente, duas vezes por dia e pode ter até 14 meses de duração. “Nesse período, o paciente ensina o cérebro a reconhecer aquele odor novamente.”

Outra forma de recuperação do olfato é com o uso de medicamentos específicos para cada caso, prescritos pelos médicos. Mas a professora faz um alerta para que o especialista seja procurado o quanto antes. É que, “quanto mais demora a iniciar o tratamento, mais difícil e demorado é a recuperação”.

A importância do olfato

O olfato pode proporcionar diversas emoções, boas e ruins, somente por sentir o cheiro de algo. Ao sentir algum cheiro, é possível sentir fome, atração, repulsa e até mesmo viajar no tempo e relembrar do passado. Portanto, a sua perda ou diminuição pode afetar a vida de alguns pacientes, que têm a qualidade alimentar comprometida e que podem correr até mesmo alguns riscos no dia a dia.

 

Conta a professora Rosa Wanda, do Departamento de Nutrição da FMRP, que uma pessoa com anosmia – incapacidade de sentir cheiro – não percebe, por exemplo, o odor de gás ou fumaça. Além disso, até 50% dessas pessoas já ingeriram alimentos estragados sem ter percebido. “A pessoa com anosmia tem três vezes mais riscos de viver uma experiência perigosa do que aquelas que não sofrem com essa incapacidade.”

O olfato também tem um papel importante na estimulação do apetite, e alguns estudos mostram que, quando uma pessoa tem disfunção olfatória, existe a tendência de alteração no consumo alimentar. A professora ainda cita que há estudos que apontam uma relação entre alteração na rotina alimentar, incapacidade total ou reduzida de sentir cheiros e o aumento de peso.

Fonte: Jornal da USP

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