Pesquisa analisa a qualidade do sono de profissionais da Estratégia de Saúde da Família

[Rio de Janeiro] – Uma pesquisa realizada pela Fiocruz Ceará revela que profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem má qualidade do sono. A pesquisa é resultado da dissertação de mestrado em saúde da família, oferecido pela Renasf, a Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família. A instituição ligada à Fiocruz fomenta a pesquisa e o ensino para a formação dos profissionais que atuam na ESF.

Com o tema, “Violência territorial e sua interface com a qualidade do sono de profissionais da Estratégia de Saúde da Família de Fortaleza”, o estudo foi realizado pela mestranda Fabrícia Bezerra de Castro Alves Silveira, sob a orientação do doutor Márcio Araújo, dedicado ao desenvolvimento de pesquisas relacionadas à qualidade do sono e/ou condições crônicas, entre julho de 2018 e dezembro de 2020. Foram entrevistados 286 profissionais, entre médicos, enfermeiros e dentistas em 71 unidades de atenção primária de Fortaleza.

A coleta se deu por aplicação de questionário contendo: roteiro semiestruturado para obtenção dos dados de identificação e variáveis sociodemográficas (sexo, idade, local de trabalho, tempo de trabalho), instrumento Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP) e questionário para avaliação da perspectiva dos profissionais quanto a violência em seu território de atuação na ESF.

A maioria dos participantes foi classificada como mau dormidor (65,7%), sendo os enfermeiros aqueles com maior prevalência de má qualidade do sono (73%), seguidos dos médicos (63%) e dentistas (56,8%). A maior parte da amostra (60,8%) considera o território de atuação na ESF uma área muito violenta.  Parcela substancial, 82,2%, referiu sentimento de medo, ansiedade ou estresse devido à violência no território e a violência territorial prejudicou o desenvolvimento das atividades profissionais de grande parcela da amostra (89,1%). O profissional da ESF que mais referiu (≥3vezes) ser vítima de violência dentro do serviço foram os enfermeiros (50%), seguido por médicos (36,3%) e dentistas (32,4%). A pesquisa não encontrou dados estatísticos substanciais que relacionem a violência no território com a qualidade do sono dos profissionais. Entretanto, a prevalência de maus dormidores foi elevada, sobretudo entre os enfermeiros.

Este é o primeiro estudo relacionando a violência no território com a qualidade do sono nos profissionais da atenção primária. Além disso, a pesquisa se justifica pela falta de conhecimento sobre a real importância do sono para a saúde humana. Na análise de causalidade entre sono e indicadores de saúde, mais importante que a duração é a qualidade do sono. De acordo com o pesquisador Marcos Araújo, pelo menos sete componentes do sono são observados para se determinar se a pessoa teve um sono reparador que promova benefícios à saúde.

“Não estamos falando apenas da quantidade de horas dormidas. Existem fatores como a latência do sono, aquele período entre a hora que você deita e a hora que se dorme efetivamente; a presença de roncos, o uso ou não de medicamentos e uma série de outros critérios biológicos e psicológicos que equacionamos para obtenção da eficiência e qualidade do sono”, explica o pesquisador em saúde pública.

Dentre os profissionais de saúde mau dormidores também foram observados distúrbios do sono (≥3 vezes na semana), uso de drogas para dormir (≥3 vezes na semana) e sonolência diurna (≥3 vezes na semana).

A sonolência diurna repercute não só na saúde do profissional, mas também no atendimento e cuidado da pessoa que procura a Estratégia Saúde da Família. A sonolência excessiva, também chamada de hipersonolência, ocorre quando o indivíduo tem uma vontade demasiada de dormir ou cochilar durante situações e atividades do cotidiano.

“Se você não teve um bom sono, fica mais letárgico, atrapalha e pode comprometer a qualidade da anamnese tanto no posto quanto nas atividades externas que desenvolve” alerta a pesquisadora Fabrícia Alves.

Por: Amanda Sobreira (Fiocruz Ceará)

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