Piolhos que atacam humanos são derivados de espécies que acometiam dinossauros

Os piolhos que hoje infestam cabeças humanas são derivados de espécies que já acometiam dinossauros e, durante dezenas de milhões de anos, foram saltando de hospedeiros e se adaptando a eles. Esse processo que facilitou a disseminação desses pequenos parasitas é detalhado na última edição da revista Nature Ecology and Evolution por pesquisadores da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos.

O grupo comparou os genomas e as árvores genealógicas de piolhos e seus hospedeiros mamíferos e descobriu que as duas árvores compartilham muitos galhos e têm ramificações paralelas. A hipótese levantada pelos cientistas é de que, provavelmente, os piolhos datam de 90 milhões a 100 milhões de anos e parasitaram os primeiros dinossauros ou pássaros.

“Depois que os dinossauros foram extintos, há cerca de 65 milhões de anos, e pássaros e mamíferos realmente se diversificaram, os piolhos também começaram a pular para novos hospedeiros e se diversificar”, afirma, em comunicado, Kevin P. Johnson, que liderou o estudo com Jorge Doña.

Johnson explica que há mais de 5 mil espécies de piolhos atualmente, e eles são divididos em dois grandes grupos conforme os hábitos alimentares: os mastigadores, que mastigam a pele ou secreções, e os sugadores, que perfuram a pele para consumir o sangue de seus hospedeiros. O segundo tipo só parasita mamíferos. Os mastigadores têm um grupo de hospedeiros mais ampliado.

Estudos genômicos anteriores ao do grupo de Illinois mostraram que os sugadores estão intimamente relacionados a dois grupos de piolhos mastigadores e que cada um dos principais grupos dessa linhagem está presente em pelo menos um animal do grupo Afrotheria, a mais antiga linhagem de mamíferos, surgida na África, que engloba elefante, hírace e porco-da-terra, entre outros bichos.

Mais estudos

O trabalho de Johnson e Doña, por sua vez, sugere que o grupo Afrotheria foi o hospedeiro mamífero original dos piolhos. Os cientistas expandiram a amostragem genômica desses insetos para comparar a história evolutiva deles com a dos mamíferos ancestrais. O sequenciamento mostrou que os piolhos de elefante, hírace e musaranho-elefante eram os mais antigos no grupo de piolhos mastigadores e sugadores que se alimentavam de mamíferos.

“Isso mostra que esses piolhos de mamíferos começaram nesse estranho grupo de mamíferos africanos e, depois, mudaram para outros mamíferos”, enfatiza Johnson. “E, à medida que certos grupos de mamíferos se separaram — por exemplo, geograficamente —, eles divergiram e também seus piolhos.”

A análise genômica também indica que, antes dos mamíferos, os piolhos podem ter tido um hospedeiro ancestral aviário. Segundo Johnson, apesar de raras, as mudanças de hospedeiros de pássaros para mamíferos já aconteceram. A equipe encontrou relatos de mudanças para lêmures de Madagascar, roedores sul-americanos e alguns marsupiais

“Mas, uma vez que os piolhos aprenderam a se alimentar de mamíferos, eles puderam pular mais facilmente de uma espécie de mamífero para outra e, provavelmente, tiveram mais oportunidades para fazê-lo”, cogita. Para o grupo, as constatações devem continuar sendo estudadas, pois lançam nova luz sobre um questionamento antigo acerca das razões de os principais grupos de piolhos parasitas não se distribuírem uniformemente entre os mamíferos.

Fonte: Correio Braziliense

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