Em um feito médico impressionante nos Estados Unidos, cirurgiões utilizaram um pulmão artificial e implantes de mama para salvar a vida de um fumante de vape. O paciente contraiu gripe e precisava de um transplante em ambos os seus pulmões.
O homem de 34 anos, chamado David Bauer, fumava um maço de cigarro por dia desde os seus 20 e poucos anos. Ele trocou o tabaco pelo vaporizador em 2014, pensando, como muitos, que era a “alternativa mais saudável”.
Mas os perigos do cigarro eletrônico são vários: o dispositivo pode aumentar o risco de câncer e o diagnóstico tende a ocorrer quase 20 anos antes do que nos fumantes convencionais. Não por acaso, quando contraiu uma gripe em abril, os pulmões de Bauer colapsaram e surgiu uma infecção secundária resistente a antibióticos.
Bauer não havia tomado a vacina contra a gripe e, até aquele momento, nunca havia ficado gravemente doente. Ele foi internado em um hospital em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri, e foi submetido a uma técnica de oxigenação por membrana extracorporal (ECMO), com um dispositivo que realiza o trabalho do coração e dos pulmões.
Porém, o quadro de saúde do homem continuou a piorar e o transplante duplo de pulmão era a única coisa que podia salvá-lo. “Os pulmões de Davey estavam tão infectados que começaram a liquefazer”, recorda em comunicado divulgado nesta quarta-feira (8) o pneumologista Rade Tomic, diretor médico do Programa de Transplante de Pulmão do Instituto Torácico Canning da Northwestern Medicine, onde os médicos operaram o paciente. “Se você olhasse para a radiografia, não havia mais nada – os pulmões estavam completamente cheios de pus”.
Ligação que salvou uma vida
O pneumologista conta que sua equipe recebeu do hospital em St. Louis uma ligação informando que Bauer não sobreviveria ao transplante em sua condição atual; primeiro era necessário remover seus pulmões para eliminar a infecção.
Assim, a equipe – que nunca havia feito esse procedimento antes – elaborou uma estratégia para retirar os órgãos infectados e criar um “pulmão artificial” que poderia se conectar ao corpo de Bauer.
Mas, sem os dois pulmões, o coração do paciente corria risco de colapso dentro da cavidade torácica. Para evitar isso, surgiu a ideia de implantes mamários tamanho DD. “Um de nossos cirurgiões plásticos foi muito gentil em nos dar um curso acelerado sobre os diferentes tipos, formas e tamanhos de implantes de mama, e então escolhemos algumas opções. Algumas delas eram mais fáceis de moldar dentro do peito de Davey, sendo que a melhor era a DD”, explicou Ankit Bharat, chefe de cirurgia torácica e diretor do Instituto Torácico Canning.
Em 26 de maio de 2023, os pulmões infectados de Bauer foram removidos, eliminando a infecção. Já no dia seguinte, foi encontrado um doador compatível para um transplante duplo de pulmão. Então, em 28 de maio, os médicos retiraram os implantes de mama e os pulmões do doador foram colocados.
DD Davey
O paciente ficou vários meses se recuperando na UTI antes de receber alta para a terapia de reabilitação no final de setembro. David Bauer brinca que agora seu novo apelido é “DD Davey”, referindo-se ao tamanho DD dos implantes mamários.
“Pretendo fazer uma camiseta que diga ‘DD Davey’ e mudar todos os meus perfis de jogos”, brincou ele, que, além de games, curte snowboard, skate e golfe, e que trabalha em paisagismo e hardscaping em De Soto, Missouri, perto de St. Louis.
“Mas, falando sério, estou muito orgulhoso de ser o primeiro paciente da Northwestern Medicine a passar por esse procedimento inovador, e espero que esse pioneirismo médico abra caminho para que mais pacientes gravemente doentes recebam transplantes de pulmão no futuro próximo”, disse Bauer.
A namorada do sobrevivente, Susan Gore, conta que até hoje não consegue acreditar que seu companheiro viveu sem os órgãos. “Ele estava respirando, o sangue bombeando sem pulmões”, ela disse. “Enquanto esperávamos dentro do quarto de hospital de Davey na Northwestern, eu dava uma respirada e dizia, ‘uma respiração para mim e uma para Davey’. É difícil entender, e ainda estou maravilhada por Davey ter conseguido fazer isso – é algo que realmente mostra a força dele.”
Bauer será monitorado por médicos em Chicago por mais um ano. Ele garante que está ansioso para aproveitar as festas em uma nova cidade com seus novos pulmões, apesar de sentir falta de St. Louis (especialmente dos jogos de beisebol do time local, os Cardinals).
Quanto ao vape? Nunca mais. “Embora não tenhamos maneiras definitivas de provar que meus anos de vape causaram minha condição médica, os médicos sabem com certeza que o uso de vape causa lesão pulmonar”, disse o ex-fumante. “Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria pegado um cigarro ou uma caneta vape, e espero que minha história possa incentivar outros a parar, porque eu não desejo essa jornada difícil a ninguém”.