Pular o café da manhã afeta o sistema imune, diz estudo

Excessos na ingestão de alimentos calóricos são relacionados ao aumento da ocorrência de problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e infecções bacterianas, mostra um consolidado volume de pesquisas científicas. Por outro lado, os estudos têm trazido evidências significativas de que as restrições alimentares e o jejum também podem ser prejudiciais ao organismo. Agora, uma nova investigação da Escola de Medicina Icahn, no Monte Sinai, Nova York, mostra as possíveis consequências ao corpo quando essas limitações acontecem no começo do dia. Em experimentos com camundongos, a equipe estadunidense constatou que pular o café da manhã pode afetar negativamente as células imunológicas e aumentar o risco de doenças cardíacas.

O objetivo do grupo era entender como o jejum — desde os mais curtos até os mais severos, com 24 horas de duração — afetam o sistema de defesa. “Um tema-chave ao longo dessa pesquisa é, sem dúvida, a capacidade do corpo de limitar o gasto de energia durante a escassez de nutrientes”, afirmam os autores do estudo, publicado na edição deste mês da revista Immunity.

No texto, eles explicam que, diante da falta de suprimentos, o corpo diminui o gasto metabólico, o que acaba limitando a produção de células de defesa e comprometendo o funcionamento das existentes. “Entre os leucócitos, os monócitos são energeticamente dispendiosos por causa da massiva produção diária deles na medula óssea”, ilustram. Também chamados de glóbulos brancos, os leucócitos protegem o organismo de doenças, quadros infecciosos e alergias

Hibernação

No experimento, as cobaias foram divididas em dois grupos. O primeiro recebeu café da manhã logo após acordar. O outro, não. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de todos os animais quatro e oito horas depois de eles despertarem. Ao analisar o sangue coletado do grupo em jejum, eles observaram diferenças no número de monócitos.

Esses glóbulos brancos são produzidos na medula óssea e viajam pelo corpo para desempenhar papéis-chave, como combater infecções, doenças cardíacas e câncer. Com o jejum, porém, voltaram para a medula óssea para “hibernar”, enquanto a produção de novas células na medula diminuía.

No início do experimento, todos os camundongos tinham a mesma quantidade de monócitos. Depois de quatro horas, o número de glóbulos brancos caiu “drasticamente” nas cobaias que jejuavam. Em oito horas, quase 90% dessas células de defesa tinham desaparecido. Não houve alterações nas cobaias que foram alimentadas.

Volta brusca

Quando os animais do grupo de jejum receberam comida 24 horas após o início do jejum, eles apresentaram um nível elevado de inflamação causada pela volta dos monócitos à corrente sanguínea. “Prevíamos que os monócitos voltariam a entrar no sangue, mas não podíamos supor com que rapidez isso aconteceria e em que medida. Os dados apontam para uma liberação robusta de monócitos no sangue logo após a reintrodução alimentar”, detalham os autores.

O fenômeno revelou aos pesquisadores que, em vez de proteger contra a infecção, as células de defesa que tinham hibernado se tornaram inflamatórias, alterando a resposta imune do organismo. “Observamos mais inflamação no plasma, conforme avaliado por maiores concentrações de citocinas circulantes. Esses dados sugerem que o consequente desequilíbrio monocítico que ocorre durante o jejum prolongado seguido de realimentação aumenta a inflamação e altera a resposta do hospedeiro”, afirmam.

Principal autor do estudo, Filip Swirski explica que a reintrodução de alimentos cria um “surto de monócitos” retornando ao sangue, o que pode gerar complicações, incluindo as cardíacas. “O jejum regula a disponibilidade de células de defesa de formas que nem sempre são benéficas para a capacidade do corpo de responder a um desafio como uma infecção”, alerta, em nota, o também diretor do Instituto de Pesquisa Cardiovascular na Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai. “Como essas células são tão importantes para outras doenças, cardíacas e cânceres, por exemplo, é fundamental entender como sua função é controlada”.

Cuidados

Swirski lembra que há um entendimento crescente de que o jejum é saudável, e há evidências científicas nesse sentido. Porém, o trabalho desenvolvido por ele e colegas sinaliza a importância de ter cautela com a prática. “O estudo sugere que também pode haver um custo do jejum que acarreta um risco à saúde. Ele mostra que há uma conversa entre os sistemas nervoso e imunológico”, afirma.

Os autores ponderam que há limitações no trabalho desenvolvido, como as diferenças fisiológicas entre humanos e camundongos. Por isso, enfatizam, a necessidade de que mais investigações sejam conduzidas. “Um jejum de 24 horas em camundongos é diferente em humanos, o que torna nossos resultados potencialmente mais traduzíveis para situações de escassez alimentar severa ou distúrbios alimentares”, afirmam.

Fonte: Correio Braziliense

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