Saiba como diagnosticar o autismo na vida adulta

O diagnóstico do autismo na vida adulta é bem difícil de se conseguir e requer perseverança e confiança do autista no profissional que o atende.

Joana Scheer Loayza, 33 anos, autista, mãe de três garotos, designer, webdesigner e social media, fala mais sobre o processo.

Como diagnosticar o autismo em adultos?

Alguns dos indícios que apontam para o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, principalmente na fase adulta, são:

  • dificuldade durante a vida toda de interagir com outras pessoas e manter relacionamentos;
  • fugir de olhar nos olhos ou olhar diretamente para fotos e vídeos;
  • não entender figuras de linguagem;
  • presença de gestos repetitivos ou expressões verbais atípicas,
  • apego a rotinas e/ou padrões ritualizados de comportamento,
  • recordações do desenvolvimento infantil, como a de que houve um atraso no início da linguagem.
” alt=”” aria-hidden=”true” />O processo de diagnóstico é demorado, porém, vale a pena (Imagem: Projeto Crossroads)

O processo de diagnóstico é demorado, porém, vale a pena (Imagem: Projeto Crossroads)

“Se um profissional que não te ouve e na primeira consulta e já descarta o autismo, simplesmente levante e procure um que te ouça e dê a atenção às suas queixas”, sentencia Joana.

Existem muitas outras condições que se assemelham ao autismo em diversos pontos, por isso a confiança no profissional é fundamental.

“Você não deve buscar o diagnóstico de autismo, e sim, se você tem algum diagnóstico. Nossas experiências e traumas desde a tenra idade podem influenciar significantemente em nosso comportamento, então você pode ter traços semelhantes aos do autismo devido a suas vivências, sem ser autista”, explica.

O diagnóstico do autismo é fechado através de um tripé de sinais que inclui dificuldades de interação social, problemas de comunicação social e comportamentos repetitivos e restritos.

Uma vez que é preciso, necessariamente, haver sinais nessas três áreas para que o autismo seja considerado no momento da busca pelo diagnóstico.

O processo é longo nos adultos, que têm consigo uma bagagem de vivências e traumas que podem confundir até o melhor especialista. Por isso, normalmente são pedidos exames para descartar causas físicas para os sinais, e uma avaliação neuropsicológica onde são aplicados testes específicos.

“Penso que a mente humana é complexa demais para ser desvendada por um teste de internet, por mais fontes confiáveis que este tenha”, diz a designer.

Dicas antes do diagnóstico de autismo

Não focar no diagnóstico de autismo, e sim no diagnóstico real, seja autismo ou não. Isso é fundamental para a sua qualidade de vida.

Condições como a síndrome de Rett e Transtorno Esquizóide se assemelham ao autismo em muitos pontos, porém a abordagem terapêutica é diferente, e é extremamente importante que você seja tratado para o que realmente tem.

Caso contrário, terapia nenhuma fará efeito e você estará na verdade buscando um rótulo mais confortável do que a sua realidade.

Atente-se ao próprio ego e não o deixe dominar

“O autismo não é nada confortável, eu bem sei, mas, querendo ou não, é mais bem visto perante a sociedade do que outros transtornos”, explica a autista.

Diferencie organização de mania

Você pode simplesmente ser uma pessoa metódica e organizada, ter aprendido desde cedo a ser assim, ou ter outra condição, não necessariamente o autismo. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ou Bipolaridade podem ter a mania como sinal.

Na verdade, o termo “mania” psicologicamente falando se refere a um distúrbio mental definido como um período distinto, durante o qual existe um humor anormal alternando entre euforia, depressão, irritabilidade.

Existe causa para o autismo?

É preciso entender que o autismo pode ser causado por uma única alteração genética, bem como por uma combinação de alterações genéticas vindas de ambos, pai e mãe.

Essas alterações genéticas podem ser “de novo”, ou seja, surgiram no óvulo ou no espermatozoide que gerou aquele indivíduo e não estão presentes nas demais células dos pais.

Essa é a razão dos pais dessas crianças não necessariamente apresentarem o transtorno.

” alt=”” aria-hidden=”true” />Dia do orgulho autista - Joana Scheer

Joana Scheer, que se descobriu autista na vida adulta – Imagem: Arquivo

Autistas e interação

“A maioria de nós têm vontade de interagir em algum momento da vida, mas não sabemos como fazer isso. Como começar e continuar uma conversa que não seja interessante pra nós, por exemplo”, explica Joana.

A timidez em nada se assemelha ao autismo, são duas coisas bem diferentes. A timidez é uma característica do indivíduo, funciona como um mecanismo de defesa que permite à pessoa avaliar situações novas através de uma atitude de cautela e buscar a resposta adequada para cada situação.

Uma timidez incessante, aliada a outros sinais em conjunto deve ser investigada.

Sobre ser arredio, também é algo particular. Alguns autistas adoram ser abraçados e apertados, no entanto, outros toleram muito pouco o toque.

“No meu caso, tolero abraços”, confessa.

Dificuldade do diagnóstico de autismo na vida adulta

O adulto carrega consigo uma bagagem de experiências de vida, traumas e acontecimentos marcantes que podem ter ligação direta com a forma como seu psicológico se formou.

Esses padrões de comportamento advindos de experiências de vida podem se assemelhar em diversos aspectos com comportamentos autistas. Por isso, durante o processo de diagnóstico é fundamental uma avaliação profunda da vida daquele indivíduo. Quanto mais velho, mais difícil pois mais bagagem carregará consigo.

É fundamental saber se há e quais sinais sempre estiveram ali, e quais foram sendo adquiridos ao longos dos anos devido a acontecimentos estressantes ou traumáticos.

” alt=”” aria-hidden=”true” />Joana fala sobre seu diagnóstico como autista na vida adulta (Imagem: Arquivo Pessoal)

Joana fala sobre seu diagnóstico como autista na vida adulta (Foto: Pessoal)

Joana é enfática: Acredita que pode ser autista? Busque um profissional competente que possa te acompanhar nesta jornada. “Digo competente, porque infelizmente existem muitos profissionais que não escutam, e até zombam de adultos que levantam esta hipótese do autismo”.

“Em nossa sociedade nem todos têm condições financeiras para pagar um bom profissional. Neste caso minha mais sincera sugestão é buscar locais como a Universidade Mackenzie, no Laboratório de Transtornos do Espectro do Autismo (Mack-TEA).

O laboratório tem como objetivo atender a população promovendo um diagnóstico diferencial nos TEA, através de uma equipe interdisciplinar composta por: neurologista, geneticista, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos, com a ativa participação de alunos de graduação, mestrado e doutorado, gratuitamente.

A espera pode ser longa, segundo Joana, mas vale a pena.

“Uma ótima ideia também é utilizar os serviços de saúde a preços populares como o Dr. Consulta“.

Neste caso, essas empresas possuem em sua maioria pequenos planos mais acessíveis, onde cada consulta sai por menos da metade do valor cheio. Só que cada sessão é paga individualmente, dando a oportunidade ao paciente de guardar dinheiro aos poucos, por exemplo, segundo Joana.

“É um caminho longo e árduo? Sim, mas é melhor do que o resto da vida sem saber”.

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