Saiba como funciona a doação de leite materno e como fazê-la em segurança

Única doação pode alimentar até dez recém-nascidos; total de doações feitas em 2021 representa apenas 55% da demanda no Brasil, segundo o Ministério da Saúde

A enfermeira Rafaele Cristine Ribeiro, 36 anos, moradora da Vila Isabel, no Rio de Janeiro, conta que o trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal foi uma das inspirações para se tornar doadora de leite.

“Bebês que recebem leite materno doado normalmente têm um tempo de internação menor, mais qualidade de vida e um sistema imunológico mais bem desenvolvido. Além disso, é muito difícil para a mulher manter a amamentação quando o filho está internado”, disse.

Mãe do pequeno Alädé, de 1 ano e 3 meses, Rafaele conta que o filho também precisou de doação nos primeiros dias de vida. Segundo ela, a dificuldade de adaptação à amamentação é bastante comum.

“Quando vemos nosso filho se desenvolvendo com saúde e melhor qualidade de vida, isso é muito gratificante. Ver outras famílias com seus filhos saudáveis deveria motivar outras mulheres a doar”, afirmou.

Rafaele Ribeiro, do Rio de Janeiro, se tornou doadora de leite / Acervo pessoal

O leite humano pode trazer inúmeros benefícios aos bebês, incluindo redução em 13% da mortalidade infantil até os 5 anos, prevenção de doenças respiratórias e gastrointestinais. De acordo com o Ministério da Saúde, a amamentação também diminui dos riscos de alergias, diabetes, colesterol, hipertensão e obesidade, além de fortalecer os vínculos entre mãe e filho.

Quando se fala em doação, a quantidade é irrelevante: cerca de 200 mililitros podem alimentar até dez recém-nascidos. Neste 19 de maio, o Dia Mundial de Doação de Leite Humano incentiva o aumento de mães voluntárias.

Dados do Ministério da Saúde apontam que houve um aumento de 7% no volume de doações em 2021, em comparação ao ano de 2020. No entanto, o quantitativo representa apenas 55% da real necessidade por leite humano no Brasil, segundo a pasta. Estimativas indicam que, a cada ano, nascem no país cerca de 340 mil bebês prematuros ou de baixo peso, o que corresponde a 12% do total de nascidos vivos.

Em 2021, foram distribuídos 168 mil litros de leite para 237 mil recém-nascidos no país. Para 2022, a meta do ministério é ampliar em 5% a oferta a recém-nascidos internados nas unidades neonatais do país.

O Brasil conta com uma ampla rede para a doação, com 225 bancos de leite humano em operação distribuídos em todos os estados e no Distrito Federal. A média nacional é de 45 bancos de leite por microrregião do país. Além disso, estão disponíveis 217 postos de coleta (consulte), que permitem o procedimento de retirada em casa em alguns estados.

Danielle Aparecida da Silva, coordenadora do banco de leite do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que o leite doado passa por um rigoroso controle de qualidade antes de ser distribuído, sendo fornecido de acordo com as necessidades de cada recém-nascido.

“Os bancos de leite humanos são serviços especializados de apoio à amamentação que surgiram como uma estratégia de qualificação da assistência neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional, e visam contribuir para a redução da mortalidade infantil em instituições hospitalares”, afirma Danielle.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que cerca de 6 milhões de vidas são salvas por ano devido ao aumento das taxas de amamentação até o sexto mês de vida.

Ao amamentar, a mulher perde mais rápido o peso que ganhou durante a gestação e fica protegida de diversas doenças. A prática diminui o sangramento do útero (que ocorre por um período após o parto), prevenindo anemia, e reduzindo as chances de desenvolver osteoporose, câncer de mama, útero e ovário. A doação do leite excedente também contribui para evitar a inflamação nos seios, conhecida como mastite.

Equipe do Banco de Leite Humano do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas coletam leite em Porto Alegre (RS) / Cristine Rochol/PMPA

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reforça que o leite materno favorece o desenvolvimento e a maturação digestiva e imunológica dos recém-nascidos e reduz complicações relacionadas ao nascimento prematuro, como inflamação e necrose do intestino, distúrbios oculares e pulmonares e sepse (complicação grave decorrente de infecção) tardia, que acomete principalmente os prematuros internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).

Os especialistas destacam que não existe quantidade mínima para doação e que a continuidade é essencial para a manutenção dos estoques. Toda mulher que amamenta é uma potencial doadora de leite materno. Basta estar saudável e não tomar nenhum medicamento que interfira na amamentação (veja o quadro abaixo).

O funcionamento dos bancos de leite humano no Brasil é regulamentado por uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde, o que garante a segurança do processo. Após a coleta, o leite é analisado, pasteurizado e submetido a um rigoroso controle de qualidade. Em seguida, é distribuído de acordo com as necessidades específicas de cada recém-nascido internado.

O Ministério da Saúde afirma que a doação de leite humano também representa uma fonte de economia de recursos, devido à diminuição da necessidade de compra de fórmulas infantis para recém-nascidos prematuros nas maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

/ Arte/CNN

Fonte: CNN Brasil

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