Técnica do “Quarto Branco” do BBB já foi usada como tortura moderna; entenda o método

Feche os olhos e imagine-se em um cômodo fechado, sem janelas e totalmente branco: teto, paredes, chão, móveis. Tudo sem cor. Até mesmo a sua roupa e sapatos. Bom, já deve saber do que estamos falando, certo? Do famoso quarto branco do Big Brother Brasil.

Ele apareceu no reality pela primeira vez em 2009 como um desafio/ punição para os participantes, que acabam tendo que testar os seus limites lá dentro.

Nesta semana, Domitila Barros e Fred “Desimpedidos” ficaram fechados em um espaço similar dentro de um carro – também na cor branca – por mais de 18 horas. Na edição de 2020, Manu Gavassi, Gizelly Bicalho e Felipe Prior não aguentaram mais de oito horas de confinamento no quarto isolado, mesmo tendo a companhia uns dos outros.

Olhando de fora, muitos podem até pensar que é relativamente fácil superar este “desafio”. Mas na realidade, quem é submetido às condições do quarto branco enfrenta diversos tipos de privação que podem gerar problemas irreversíveis ao corpo e à mente, no curto prazo.

Há relatos, inclusive, de que a técnica já foi usada como um tipo de tortura em alguns países como o Irã.

A “White Torture” ou “Tortura Branca”

“As pancadas, os ossos quebrados e as condições miseráveis não eram nada comparados à dor que sofri pela ‘tortura branca’”, contou à CNN Internacional o iraniano Amir Fakhravar, que ficou detido em uma prisão secreta do Irã por oito meses no ano de 2004, por se rebelar contra o regime autoritário.

A Anistia Internacional documentou o caso de Fakhravar no mesmo ano, explicando que condições de extrema privação sensorial são desenhadas para enfraquecer e deixar os prisioneiros mais susceptíveis.

Amir Fakhravar ficou por oito meses em um “Quarto Branco” de uma prisão iraniana em 2004 / Wikimedia Commons

Na entrevista, o preso político lembrou que até os guardas que ficavam do lado de fora da cela usavam sapatos almofadados para que todo e qualquer tipo de som fosse abafado. A Anistia descreveu o silêncio como “ensurdecedor” e “desumano”.

“Ao fim de oito meses, eu não conseguia lembrar a cara da minha mãe ou do meu pai sequer. Quando eles me libertaram, eu não era mais uma pessoa normal”, concluiu Fakhravar.

Privações sensoriais extremas

O que aconteceu com o iraniano Amir é apenas um exemplo do que pode ocorrer com pessoas submetidas a condições similares.

“Ficar em um espaço sem janelas, sem comunicação externa e com iluminação direta ininterrupta, sem saber se é dia ou noite lá fora, aumenta consideravelmente o nível de estresse e ansiedade da pessoa”, explica Ricardo Milito, psicólogo especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, em entrevista à CNN.

Milito aponta ainda que a situação pode fazer com que as pessoas fiquem irritadas, agressivas e com dificuldade de raciocinar, o que pode levar a consequências físicas.

A privação do sono, por exemplo, pode desregular a frequência cardíaca. Há alterações cognitivas e até aumento da pressão arterial

Ricardo Milito, psicólogo especialista em Terapia Cognitivo Comportamental

Um estudo de 2016, feito por especialistas da universidade de Portsmouth, na Inglaterra, aponta que danos cerebrais podem aparecer em apenas três dias nestas condições. Há relatos, inclusive, de pessoas que passam a não conseguir distinguir entre fantasia e realidade.

No relatório, são apontados vários tipos de “táticas” dentro da categoria de tortura psicológica: isolamento, privação sensorial, privação do sono e desorientação temporal.

Um dos resultados mais importantes dos experimentos de privação sensorial indicados pelos pesquisadores, é que os distúrbios resultantes são universais e compreendem delírios, alucinações auditivas e visuais, instabilidade de crenças e mudança de atitudes.

Há até mesmo o aumento da obediência, ansiedade e depressão. Em último caso, a despersonalização faz com que algumas pessoas percam progressivamente o contato com a realidade.

O YouTuber Michael Stevens, do canal VSauce, conehcido por fazer vários experimentos com a psique humana, decidiu se isolar em um quarto branco por 72 horas, para chegar às suas próprias conclusões.

Você pode conferir o resultado no vídeo abaixo:

 

 

Diferenças da tortura para o BBB

É claro que o programa não pretende “torturar” seus participantes.

Uma grande diferença, é que no reality as pessoas entram acompanhadas. Assim, não a há a privação social, e alguns estímulos continuam sendo ativados.

No entanto, entrar no quarto branco com alguém, também pode ser problemático. “O fato de o próprio participante ou a outra pessoa (aliado ou adversário) poder ser prejudicada também aumenta muito o nível de ansiedade”, explicou o psicólogo Milito.

Fonte: Flávia Martins. CNN

Foto: Reprodução/ Rede Globo

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