Vacinação: crianças saem desprotegidas das maternidades brasileiras

As taxas de vacinação para várias doenças imunopreveníveis estão caindo ano após ano no Brasil. Em 2021, o país não alcançou a meta de 90% do público alvo em nenhum dos 19 imunizantes oferecidos gratuitamente pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) via Sistema Único de Saúde (SUS).

 

A população beneficiada pelas vacinas é ampla: vai desde bebês até idosos, de acordo com a indicação do público mais vulnerável de acordo com cada doença.

Ao nascer, por exemplo, a criança deve receber a dose única de BCG (que protege contra meningite tuberculosa e a tuberculose miliar, casos bem gravs) e a primeira dose contra a Hepatite B antes de sair da maternidade. No Brasil, a cobertura destas vacinas ficou em 69,1% e 62,1%, respectivamente, em 2021, segundo dados do DataSUS.

Alguns estados estão abaixo da média nacional destas vacinas. É o caso do Rio de Janeiro, que no ano passado aplicou a BGC em apenas 59,8% dos bebês recém-nascidos — penúltimo lugar no ranking nacional a frente apenas da Bahia — e a Hepatite B em só 47,56%, ou seja, menos da metade das crianças nascidas no território fluminense — ficando em último lugar no Brasil. São Paulo ocupou o penúltimo lugar no ranking brasileiro de vacinação em 2021 em relação à 1ª dose de Hepatite B (53,09%) e a 23ª colocação com a BCG (63,07%).

— Os aspectos da hesitação vacinal (veja o que é abaixo) não deveriam atrapalhar a aplicação dessas vacianas porque elas deveriam ser aplicadas ainda na maternidade. E, diferentemente do que está acontecendo este ano, no ano passado não houve desabastecimento da BCG, o que não pode justificar a falta da vacina — pondera Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Em nota, a Secretaria estadual de Saúde do Rio de Janeiro justificou a baixa vacinação alegando que a Covid-19 sobrecarregou as equipes municipais, “dificultando o cadastramento dos dados no sistema, e a mudança do sistema de registro de dados”. Além disso, informaram também que “há uma inconsistência na migração dos dados entre a base do E-SUS APs (SISAB) [sistema municipal] e a base do SIPNIWEB [sistema federal]”. A secretaria não informou se realmente houve redução da vacinação nas maternidades do estado.

A Secretaria estadual de Saúde de São Paulo não explicou os motivos de baixa cobertura vacinal da BCG e da hepatite B e informou que “os municípios devem incentivar ações a fim de realizar a vacinação do público infantil”.

A Secretaria estadual de Saúde da Bahia justificou as baixas coberturas alegando que “devido a pandemia, com a falta de recursos humanos e o aumento de casos de Covid-19 e surtos de arbovirores em alguns municípios do estado da Bahia, e consequente absenteísmo nas salas de vacina, aliado ao medo de levar as crianças ao serviço de saúde, observou-se uma queda ainda maior nas coberturas vacinais desse período”. A pasta salientou que houve “falta de alimentação regular nos sistemas de informação de doses aplicadas pelos municípios, ente responsável pela execução das ações de imunização no seu território”.

 

Baixas coberturas para outras vacinas

 

Olhando para outras vacinas infantis em específico, o cenário brasileiro também é de cobertura vacinal. A 1ª dose de Tríplice Viral, que imuniza contra sarampo, rubéola e caxumba, ficou com índice de 73,49% no ano passado. Já a vacina do Rotavírus ficou em 70,47%, seguida da Pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b, com cobertura de 70,43% e a vacina da Poliomielite, com taxa de 69,93% em 2021.

Existe um fenômeno chamado de hesitação vacinal que aponta os principais motivos para que os pais não levem seus filhos para receber vacinas. Ela é conhecida por três Cs: complacência, conveniência e confiança.

A complacência é classificada como a falsa segurança que as pessoas têm por nunca terem visto ou tido as doenças e, por isso, acharem que não precisam vacinar seus filhos. A atual geração de pais foi vacinada na infância e cresceu sem saber o que são doenças graves como pólio ou sarampo.

Já a conveniência envolve questões de estrutura física e de recursos humanos, como horário de atendimento não compatível com a disponibilidade dos pais e a precariedade de algumas unidades de saúde, que muitas vezes não está em condições de higiene nem adequadas para receber as pessoas. Na conveniência também está inclusa a falta de treinamento dos profissionais de saúde, que muitas vezes não sabem orientar os pais sobre as vacinas que precisam ser tomadas.

 

A questão da confiança — de acreditar na eficácia da vacina e no sistema de saúde — foi duramente abalada durante a pandemia de Covid-19 com as fake news e desinformações propagadas no período.

— Está faltando um trabalho melhor de comunicação oficial. Nas décadas de 80 e 90, o governante mostrava o próprio braço para ser vacinado, tínhamos o apoio de vários artistas e pessoas influentes e foi isso que levou ao sucesso do PNI. Infelizmente, hoje temos visto até mesmo profissionais de saúde disseminando desinformação e fake news sobre vacinas contra a Covid-19 e isso impactou negativamente todas as outras vacinas — lamenta Cunha.

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação de 2022, feita pelo Ministério da Saude, está em andamento. Segundo a pasta, o objetivo é alcançar cobertura vacinal igual ou maior que 95% para a vacina poliomielite na faixa etária de 1 a menores de 5 anos de idade, além de reduzir o número de não vacinados de crianças e adolescentes menores de 15 anos e melhorar as coberturas vacinais, conforme o Calendário Nacional de Vacinação.

Fonte: O Globo

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