Via de infecção de vírus causador de febre hemorrágica é identificada

Pesquisadores descobriram um meio utilizado pelo vírus da febre do Vale do Rift (FVR) para infectar animais (inclusive humanos). O agente infeccioso do gênero Phlebovirus entra nas células saudáveis graças à uma proteína envolvida na absorção de lipoproteína de baixa densidade (LDL) — popularmente chamada de “colesterol ruim”.

A descoberta publicada  na revista Cell, pode ajudar a criar terapias contra a doença, que acomete principalmente ruminantes (ovinos, bovinos, caprinos,etc), embora também possa afetar seres humanos. A transmissão ocorre por meio de mosquitos infectados, sobretudo os do gênero Aedes e Culex.

Outra forma de contágio é por meio do contato com o sangue ou órgãos de animais contaminados, seja durante o abate deles, em açougues, ou durante procedimentos veterinários. Isso torna algumas profissões — como açougueiros, peões e médicos veterinários — mais suscetíveis a infecções.

Para descobrirem como o vírus invade o organismo, os cientistas cultivaram o agente infeccioso em células de camundongo. Assim, a equipe notou que a infecção não ocorria em células que não tinham o gene para a proteína LRP1, ligada à absorção do LDL.

Curiosamente, a LRP1 é necessária também para infectar células de vários outros animais, como hamsters, vacas, macacos e humanos. Logo, a retirada dessa proteína pode limitar a capacidade do invasor de se espalhar por diferentes seres vivos.

Para conter o infecção, os cientistas trataram camundongos com a proteína RAP, que se conectou à LRP1 e impediu que qualquer outra estrutura se ligasse a ela.

Os cientistas, então, notaram que a maioria dos camundongos infectados e tratados com a RAP sobreviveu à infecção e ainda tiveram uma carga viral menor em seus corpos. Os animais que não receberam a proteína, por outro lado, morreram.

Cientistas utilizaram a proteína RAP para tentar conter a infecção pelo vírus da febre do Vale do Rift (FVR)  (Foto: Domínio Público)
Cientistas utilizaram a proteína RAP para tentar conter a infecção pelo vírus da febre do Vale do Rift (FVR) (Foto: Domínio Público)

A proteína, contudo, não é considerada adequada para a criação de medicamentos, já que ela desempenha um importante papel em diversos processos biológicos de mamíferos. Ainda assim, os cientistas acreditam que os resultados podem ajudar no direcionamento da LRP1 para uma futura terapia antiviral.

“Esta descoberta abre novas oportunidades para estudar as interações vírus-hospedeiro no nível celular e do organismo e enriquece nossa compreensão da biologia básica dos vírus emergentes transmitidos por mosquitos”, comenta Amy Hartman, colaboradora do estudo, em comunicado.

Vale lembrar que a febre do Vale do Rift é listada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença prioritária, capaz de causar futuras epidemias. O quadro de infecção gera febre, cefaléia, mialgia e alterações hepáticas, sendo que, em 2% dos casos, pode haver febre hemorrágica.

“As pessoas têm de 1% a 2% de chance de morte se forem infectadas com esse vírus, o que não parece muito, mas é quase o mesmo que a Covid-19”, conta Gaya K. Amarasinghe, que colaborou com a pesquisa. “Este vírus tem estado longe do radar, mas como é transmitido por mosquitos que se encontram por toda a parte, pode espalhar-se para outras partes do mundo e tornar-se um problema grave”, alerta.

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