Duas pessoas morrem após extrair o siso; quais os riscos do procedimento?

Dois brasileiros morreram após complicações decorrentes de uma extração do dente siso na cidade de Leme, em São Paulo, e em Fortaleza, no Ceará, durante o mês de maio. Os casos chamam atenção para os riscos do procedimento que é comum no país, e a necessidade de se atentar aos devidos cuidados para evitar infecções que podem levar ao óbito.

 

Marina Mesquita da Silva, de 2 anos, desenvolveu um quadro de celulite facial (infecção na face) e abscesso dentário, precisando ser internada no município paulista. Em 17 de maio, menos de 10 dias após ter retirado o dente, sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e morreu. A prefeitura disse que abriu um procedimento interno para apurar o óbito. O procedimento foi realizado em uma clínica privada.

Já o caso na capital cearense foi de um professor de dança, José Eliezio Oliveira Silva, de 50 anos, que desenvolveu um quadro de infecção generalizada e morreu no dia 23 de maio, uma semana depois da extração dentária. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza, responsável, já que a cirurgia aconteceu na rede pública, afirma que ele recebeu todos os cuidados necessários.

 

Os registros de dois casos semelhantes com menos de uma semana entre eles chamaram atenção pela retirada do siso ser uma prática comum na população. Ainda que se tratem de exceções – no geral, os especialistas defendem a segurança do procedimento –, as mortes destacam a importância de se estar atento aos potenciais riscos e aos cuidados necessários durante e depois do procedimento.

O que é o siso?

 

Os sisos são terceiros molares que se formam por volta dos 15 anos e emergem na boca cerca de três anos mais tarde. No entanto, a evolução fez os seres humanos não precisarem mais dos dentes extras, com algumas pessoas até mesmo nascendo sem eles.

Com isso, quando o novo dente começa a emergir, o ortodontista avalia, por meio de exames de imagem, se ele está na posição correta, sem afetar nervos e estruturas próximas, e se há espaço na boca para o seu nascimento. Quando não há empecilhos, geralmente não é recomendada a extração. Porém, quando o dente traz riscos, pode ser indicada a remoção.

 

“Muitas vezes, os dentes do siso ficam presos ou encaixados no osso ou simplesmente não saem. Isto pode causar sobreposição ou deslocamento de outros dentes ou levar ao desenvolvimento de cárie dentária localizada. Se o dente erupcionar parcialmente ele pode vir a gerar um quadro infeccioso inflamatório, que é conhecido por pericoronarite, gerando muita dor, inchaço facial, inchaço na gengiva, mau odor e irritação local. Além de todos estes itens, estes dentes ainda podem ser responsáveis por fortes dores faciais e enxaquecas por comprimir os feixes nervosos, dependendo da sua posição dentro dos ossos maxilares”, explica publicação sobre o tema na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde.

Quais os riscos da retirada do siso?

 

Todos os sisos podem inclusive ser removidos de uma só vez. Mas, como é uma cirurgia, há riscos envolvidos no processo, como sangramentos, lesões nos nervos dos dentes e infecções no local – como ocorreu com os pacientes que morreram em Leme e Fortaleza.

— Toda cirurgia tem risco, uma vez que você abre e expõe o meio interno com o meio externo. Se o paciente precisa fazer o siso e está com a boca contaminada, por exemplo, o risco é muito maior. O que fazemos é, se o paciente está com gengivite, com cárie, nós cuidamos disso primeiro para depois extrair o siso — explica a cirurgiã-dentista Danielly Moura, especialista em implante e prótese pela Universidade Europeia Miguel de Cervantes (UEMC).

Esses riscos de contaminação existem porque a região é exposta, e patógenos como bactérias e vírus podem infectar o local. Se caírem na corrente sanguínea, eles podem ainda levar a infecção para outras partes do corpo, quadro considerado mais grave.

Por isso, algumas pessoas que têm doenças que afetem a coagulação sanguínea, por exemplo, nem podem ser submetidas à cirurgia. Além disso, os especialistas reforçam a importância de o procedimento ser realizado com profissionais da odontologia devidamente capacitados para fazer a extração e em locais adequados, para reduzir o risco.

— Nós garantimos a segurança conhecendo o paciente verdadeiramente. Entendendo que ele é único e, por isso, a avaliação é individual. Então pedimos exames laboratoriais de sangue, radiológicos, algumas vezes até tomografias, para termos certeza com base nesse conjunto de informações que o paciente está apto para naquele momento fazer a extração. Se isso não for feito, é uma bomba relógio, não sabemos o que pode acontecer — diz Danielly, que também é CEO da harmonyface cursos.

Quando acender o alerta?

 

Normalmente, a dor e o inchaço decorrentes da operação começam a regredir depois de 24 a 48 horas. Mas, em caso de sintomas como febre alta, sangramento excessivo, dor intensa que não passa com medicamentos, dor que irradia para outras regiões da face ou do pescoço e inchaço que não reduz, ou que até mesmo aumenta, depois desse período, a orientação é buscar a avaliação do dentista que pode identificar se é um caso de infecção, e dar início ao tratamento.

Mas, embora os riscos possam soar como um alerta, os especialistas reforçam que, se todos os cuidados forem seguidos, é um procedimento seguro e que as complicações são raras. Entre os cuidados importantes estão realizar a cirurgia com um profissional adequado e no local apropriado, seguir as orientações do pós-operatório, como ingerir os medicamentos recomendados pelo profissional, não fumar, não realizar escovações excessivas ou movimentos bruscos com a boca, evitar esforço físico, manter a área higienizada, entre outros.

— O paciente precisa ser cooperativo com o que pedimos. Se dizemos que não pode falar tanto, e ele abre a boca diversas vezes até estourar o ponto, o risco de um problema pós-operatório é aumentado — reforça Danielly.

Fonte: O Globo

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