Entenda o que são bactérias resistentes e quais os riscos para a saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para altos níveis de resistência em bactérias que causam infecção generalizada e para o aumento da resistência a tratamentos de várias bactérias que causam infecções comuns entre a população.

A resistência de microrganismos aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde global atualmente. O problema está associado diretamente ao uso excessivo e incorreto dos antibióticos disponíveis. O aumento no número de bactérias resistentes aos medicamentos, chamadas popularmente de superbactérias, coloca em risco a saúde de humanos e de animais em todo o mundo.

O combate à automedicação e a preocupação com o uso indiscriminado de antibióticos foram destaques do programa CNN Sinais Vitais, apresentado pelo cardiologista Roberto Kalil (assista à íntegra acima).

No episódio, especialistas explicam que a grande resistência demonstrada pelas bactérias veio do uso descontrolado de antibióticos, que revolucionaram a medicina e salvaram vidas.

“A força motriz para resistência é o uso de antibióticos. Não porque ela produz a resistência, mas porque ela mata quem não é resistente. Então só sobra espaço para multiplicar quem é resistente”, afirma Anna Sara Levin, chefe da divisão de moléstias infecciosas e parasitárias do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O programa mostra ainda como a relação entre humanos e bactérias se modificou nos últimos cem anos: da publicação dos estudos do bacteriologista Alexander Fleming, em 1929, sobre a penicilina, considerada o primeiro antibiótico; ao surgimento da KPC, a bactéria que produz enzimas que conseguem resistir a antibióticos de amplo espectro.

“Desde quando a gente começou, principalmente na Segunda Guerra Mundial, a usar muito a penicilina, a gente já começou, logo em seguida, a ter resistência ao antibiótico. Então foi uma forma das bactérias realmente se adaptarem a esse meio ambiente novo”, afirma o médico Fernando Gatti Menezes, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Israelita Albert Einstein.

O combate à resistência antimicrobiana leva em consideração o conceito de Saúde Única (One Health).

“O conceito de One Health ou o conceito de Saúde Única está interligado ao conceito de que você não pode ter saúde humana se você não tiver a saúde do meio ambiente e a saúde do animal. Para estarmos em um planeta saudável, precisamos ter um humano saudável, um meio ambiente saudável, e os animais saudáveis. A gente está muito interligado”, explica a professora de infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ana Cristina Gales.

Laboratório da Fiocruz integra rede de vigilância em resistência microbiana coordenada pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde (foto realizada antes da pandemia) / Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Pesquisa

O Brasil segue atento ao fenômeno das bactérias resistentes e desenvolve pesquisas relevantes na área. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que a detecção de bactérias resistentes a antibióticos triplicou na pandemia de Covid-19.

Em 2019, um pouco mais de mil isolados de bactérias resistentes a antibióticos foram enviados por laboratórios de saúde pública de diversos estados do país para análise aprofundada no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como laboratório de retaguarda da Sub-rede Analítica de Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Sub-rede RM), instituída pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde.

Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, o número de amostras positivas passou para quase 2 mil. Em 2021, apenas no período de janeiro a outubro, o índice ultrapassa 3,7 mil amostras confirmadas, um aumento de mais de três vezes em relação a 2019, período pré-pandemia.

“Durante a pandemia, houve aumento no volume de pacientes internados em estado grave e por longos períodos, que apresentam maior risco de infecção hospitalar. Também houve aumento no uso de antibióticos, o que eleva a pressão seletiva sobre as bactérias. É um cenário que favorece a disseminação da resistência, agravando ainda mais um problema de alto impacto na saúde pública”, afirma a chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar, Ana Paula Assef, em comunicado.

O professor livre-docente do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Nilton Lincopan, revela detalhes da criação da plataforma OneBR (One Health Brazilian Resistance), o primeiro banco de dados genômico disponível para auxiliar profissionais e sistemas de saúde na vigilância epidemiológica, diagnóstico, gerenciamento e controle da resistência antimicrobiana na interface humana-animal-ambiental nos diferentes estados do Brasil.

Fonte: Lucas Rocha, CNN Brasil

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