Fungo que ataca insetos pode originar remédios contra câncer e antivirais

Os fungos do gênero Cordyceps são mais conhecidos por seus hábitos alimentares horrendos: seus esporos infectam insetos e os matam, crescendo em corpos frutíferos que brotam da carne dos artrópodes.

Mas esses fungos, raros na natureza, também tem um potencial medicinal significativo, contendo o composto bioativo cordicepina que poderia ser desenvolvido em novos medicamentos antivirais e contra o câncer.

As tentativas de cultivar Cordyceps saudáveis em laboratório são um desafio que impede a pesquisa científica. Em outubro, a professora Mi Kyeong Lee, da Universidade Nacional de Chungbuk, na Coreia do Sul, e sua equipe, publicaram um estudo na revista Frontiers in Microbiology no qual parecem ter encontrado, porém, uma maneira de fazer crescer esses fungos em um ambiente controlado sem perder sua potência.

Segundo Lee, a cordicepina do fungo tem atividades terapêuticas na antiproliferação e anti-metástase (contra o crescimento) em células cancerígenas. “Além disso, descobertas recentes de pesquisas recomendam fortemente estudos pré-clínicos e clínicos de cordicepina para o tratamento abrangente da Covid-19”, ela conta.

Encontrando a comida certa

 

Normalmente, o Cordyceps é cultivado em laboratório em grãos como arroz integral. No entanto, os cientistas notaram que os níveis de cordicepina eram muito baixos quando coletados de Cordyceps cultivados em grãos e suspeitaram que o teor de proteína deles simplesmente não era alto o suficiente para alimentar os fungos.

Lee e seus colegas estavam ansiosos para encontrar uma maneira de cultivar Cordyceps em laboratório, e sintetizar altos níveis do composto bioativo para pesquisas médicas. Eles consideraram insetos comestíveis como um meio de crescimento alternativo nos fungos e investigaram quais dos animais disponíveis comercialmente forneciam a melhor refeição para os cogumelos.

Por dois meses, os pesquisadores cultivaram Cordyceps usando grilos, pupas de bicho-da-seda, larva-da-farinha, gafanhotos, larvas de insetos Mausoleopsis amabilis e besouros-rinoceronte japoneses. Em seguida, os experts os colheram.

Ao investigarem resultados, eles notaram diferenças marcantes: o Cordyceps cresceu mais em larvas-da-farinha e pupas do bicho-da-seda, e menos em Mausoleopsis amabilis. Ainda assim, o crescimento máximo não se correlacionou necessariamente com os altos níveis de cordicepina que os pesquisadores buscavam.

Embora não tenham crescido tanto, os fungos cultivados em besouros-rinocerontes japoneses produziram os níveis mais altos do composto— 34 vezes mais do que os produzidos em pupas de bicho-da-seda.

Cordyceps cultivados em insetos comestíveis continham aproximadamente 100 vezes mais cordicepina em comparação com Cordyceps em arroz integral”, aponta Lee.

A investigação mostrou ainda que a chave para a produção do composto era o teor de gordura do inseto, não de proteína: isto é, altos níveis de ácido oleico. A adição do ácido a um alimento para insetos de baixo desempenho melhorou a produção do composto no fungo em 50%.

Os resultados oferecem esperança para pesquisadores que buscam novos medicamentos para combater doenças devastadoras. “O método de cultivo de Cordyceps sugerido neste estudo permitirá a produção de cordicepina de forma mais eficaz e econômica”, diz Lee.

Contudo, a professora afirma que os resultados com insetos comestíveis não é suficiente para escalar para nível industrial. “Também pensamos que uma produção mais eficiente pode ser possível através do uso de outros insetos, o que precisa ser demonstrado por estudos adicionais”, acrescenta.

Fonte: Revista Galileu

Foto: Ayman Turk et.al

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