Perguntas e respostas: o que a ciência sabe até agora sobre o surto de hepatite aguda em crianças

LONDRES — Autoridades de saúde pelo mundo investigam o misterioso aumento de casos graves de hepatite aguda – inflamação no fígado – que foram detectados em mais de 100 crianças pequenas de países como Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e Israel. A principal hipótese apontada pela Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) é que o quadro seja provocado por uma infecção dos adenovírus — vírus comuns que causam resfriados leves, vômitos e diarreia. Porém, outras possibilidades estão sendo estudadas, como até mesmo o diagnóstico da Covid-19.

A gravidade dos casos e a origem desconhecida preocupam especialistas, que orientam mães e pais a permanecerem alertas para o aparecimento de sintomas. Confira abaixo o que se sabe até agora sobre os principais pontos relacionados ao surto misterioso de hepatite aguda em crianças:

Quantos casos foram detectados até então?

Até o dia 22 de abril, mais de 130 diagnósticos foram identificados, a maioria no Reino Unido, que registrou 108 casos desde janeiro. Outros países, como Estados Unidos, Israel, Dinamarca, Irlanda, Holanda e Espanha, também relataram recentemente casos da doença.

Por que o surto de hepatite é preocupante?

Hepatite aguda em crianças não é um diagnóstico desconhecido, mas os casos do novo surto começaram a chamar a atenção na Escócia, no dia 6 de abril, devido à severidade dos quadros relatados. Muitos chegaram a precisar de um transplante de fígado.

“Esse ainda é um número bem baixo de casos, mas são crianças, essa é a maior preocupação, e a outra é a sua gravidade”, disse a professora de hepatologia e presidente do comitê de saúde pública da Associação Europeia do Estudo do Fígado, Maria Buti, de Barcelona, que também acompanha de perto o surto com o Centro Europeu para Controle de Doenças (ECDC).

Além disso, a outra preocupação é pelo fato de os novos casos não terem testado positivo para os vírus que normalmente provocam o diagnóstico – hepatites A, B, C, D e E. A origem da doença é até então desconhecida.

Quais são as possíveis causas do surto?

A principal hipótese hoje é que o diagnóstico seja causado por uma infecção viral, provavelmente por um adenovírus – família de agentes responsável por resfriados comuns, vômitos e náuseas. Um vírus dessa categoria é conhecido por causar gastroenterite aguda, e já houve relatos de que ele provocou casos de hepatite em crianças imunossuprimidas, mas nunca antes em pessoas saudáveis.

O diretor do serviço de saúde pública da Escócia, Jim McMenamin, disse que está sendo investigado no momento se o adenovírus envolvido no surto passou por mutações para causar quadros mais graves da doença. Outra hipótese é que ele esteja causando os problemas “em conjunto” com outro vírus – incluindo possivelmente o Sars-CoV-2, causador da Covid-19.

McMenamin destacou que 77% das crianças no Reino Unido diagnosticadas com a hepatite testaram positivo para o adenovírus. Outra possibilidade é que um novo patógeno esteja envolvido, ou a exposição a uma toxina, mas a geografia da transmissão dos casos sugere que uma infecção viral seja uma explicação mais provável, dizem os cientistas.

Qualquer ligação com as vacinas contra a Covid-19 foi descartada, já que as crianças do Reino Unido, onde foi registrado a maioria dos casos até agora, não estavam vacinadas.

Outros especialistas afirmam que uma imunidade mais baixa como consequência da redução nas interações sociais físicas durante a pandemia pode ser também uma explicação.

“Isso pode ser uma resposta exagerada à estimulação do sistema imunológico que não está acostumado a tanta provocação… essa é uma boa teoria”, disse  o consultor em hepatologia e professor de medicina translacional no Imperial College de Londres, Simon Taylor-Robinson.

Há também os cientistas que acreditam que infecções pelos adenovírus podem ser uma coincidência devido à sua alta circulação nessa época do ano. As investigações para descobrir a causa exata continuam sendo conduzidas pelas principais agências de saúde do mundo, além da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Quais são as recomendações das autoridades de saúde?

Instituições de saúde pública dos Estados Unidos e da Europa pediram aos médicos que permaneçam alertas para a condição e testem crianças para os adenovírus caso haja suspeita de hepatite.

Confira os sintomas:

  • Urina escura
  • Fezes pálidas ou cinzas
  • Coceira na pele
  • Olhos e pele amarelados (icterícia)
  • Dores musculares e nas articulações
  • Temperatura alta
  • Enjoo e náuseas
  • Cansaço o tempo todo fora do normal
  • Perda de apetite
  • Dor de barriga

Para evitar que o surto aumente, a agência de saúde britânica pediu que medidas como lavagem das mãos e higiene respiratória – como cobrir com o braço tosses e espirros – sejam reforçadas. Especialistas afirmam que o aumento no número de casos tem sido relativamente lento, mas alertaram que mais diagnósticos são esperados.

Hoje, não há tratamento específico para a hepatite, mas medicamentos como esteróides ajudam, assim como remédios destinados aos sintomas. A orientação é para que mães e pais estejam alertas para o aparecimento de sintomas e, se for o caso, procurem atendimento médico.

Comments are closed.

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More

Privacy & Cookies Policy