Autópsias mostram que Sars-CoV-2 se espalha pelo cérebro — e por todo o corpo

Cientistas dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) dos Estados Unidos analisaram amostras de tecido das autópsias de 44 pessoas não vacinadas que morreram por Covid-19. A equipe observou que o coronavírus se espalhou pelo cérebro e por todo o corpo das vítimas, permanecendo por quase 8 meses.

O estudo foi publicado em 14 de dezembro de 2022 na revista Nature. Os pesquisadores testaram amostras de autópsias realizadas entre abril de 2020 a março de 2021 em pacientes com uma faixa etária média de 62,5 anos.

O intervalo médio desde o início dos sintomas das vítimas até a morte delas foi de 18,5 dias, sendo que 38% dos mortos eram mulheres. A maioria (61,4%) tinha três ou mais comorbidades.

Em 11 dos pacientes avaliados, a equipe fez uma ampla amostragem do sistema nervoso, incluindo o cérebro. Nesse meio-tempo, o plasma sanguíneo de 38 das vítimas testou positivo para o vírus e em outras três o resultado foi negativo. O material só não estava disponível para outros três indivíduos.

Como esperado, os pesquisadores viram que o Sars-CoV-2 infectou e danificou principalmente as vias aéreas e o tecido pulmonar. Porém, o RNA do vírus também foi encontrado em 84 locais distintos do corpo e fluidos corporais.

Detecção do RNA in situ do vírus Sars-CoV-2 em tecidos extrapulmonares  — Foto: Sydney R. Stein et.al

Detecção do RNA in situ do vírus Sars-CoV-2 em tecidos extrapulmonares — Foto: Sydney R. Stein et.al

Em um caso surpreendente, os cientistas isolaram o RNA viral em um longo período de 230 dias após o início dos sintomas de um paciente. Em outro indivíduo, além da molécula em questão, uma proteína do coronavírus foi detectada no hipotálamo e cerebelo da vítima.

Outros dois pacientes apresentaram as estruturas virais nos gânglios basais, um conjunto de neurônios especializados no processamento de informações relacionadas ao movimento.

Os pesquisadores encontraram poucos danos ao tecido cerebral, mas destacam que a replicação do vírus também ocorre no sistema nervoso central. “Mostramos que o Sars-CoV-2 é amplamente distribuído, predominantemente entre pacientes que morreram com Covid-19 grave, e que a replicação do vírus está presente em vários tecidos respiratórios e não respiratórios, incluindo o cérebro, no início da infecção”, escreveram os autores.

Ao isolarem 25 vírus de um total de 55 espécimes testadas (45%), em diversos tecidos dentro e fora do trato respiratório (incluindo o coração, gânglios linfáticos, trato gastrointestinal, glândula adrenal e olho), observou-se como o coronavírus afeta diversas partes do corpo.

Autópsias de vítimas da Covid-19 revelam como doença afetou as células dos pacientes, avaliados por no mínimo dois patologistas anatômicos certificados — Foto: Sydney R. Stein et.al

Autópsias de vítimas da Covid-19 revelam como doença afetou as células dos pacientes, avaliados por no mínimo dois patologistas anatômicos certificados — Foto: Sydney R. Stein et.al

Daniel Chertow, autor sênior do estudo, disse em um comunicado que, antes do trabalho, “o pensamento no campo era que o Sars-CoV-2 era predominantemente um vírus respiratório”. Mas os pesquisadores demonstraram uma replicação do vírus em vários locais não respiratórios durante as duas primeiras semanas após o início dos sintomas.

De acordo com Stephen Hewitt, que atua no comitê de direção do projeto, neste ano de 2023, parte do estudo Paxlovid RECOVER deve estender o trabalho de autópsia destacado na pesquisa recém-publicada.

Os exames incluirão dados não explorados de vítimas vacinadas e infectadas com variantes de preocupação. “Esperamos replicar os dados sobre persistência viral e estudar a relação com a Covid-19 longa”, afirmou Hewitt.

Fonte: Revista Galileu

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