Dengue: tire as principais dúvidas sobre a doença

Segundo último balanço divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), o  estado de São Paulo já registrou 91 óbitos causados pela dengue neste ano.Conforme os dados dessa terça-feira (19), outras 222 mortes são investigadas, com um total de 259.372 casos confirmados no estado. Desse número, 292 são considerados graves.

No início da semana, a  Prefeitura de São Paulo decretou situação de emergência na capital paulista devido ao aumento nos casos da doença. A cidade já registrou 11 óbitos, enquanto outros 46 são investigados. O total de casos confirmados já passa dos 64,8 mil, com 60 considerados graves.

Além disso, o Brasil já tem mais de 1,9 milhão de casos prováveis e confirmados de dengue, segundo o Ministério da Saúde. O número é o maior desde o início da série histórica, em 2000. O recorde anterior havia sido registrado em 2015, quando o país marcou mais de 1.688.688 de casos. Depois, o terceiro ano com mais casos da doença foi em 2023, com 1.658.816.

O Portal iG conversou com Igor Maia Marinho, Infectologista e Coordenador Médico do Grupo de Infectologia na Rede de Hospitais São Camilo São Paulo, para tirar algumas dúvidas sobre a doença. Confira abaixo:

Qualquer pessoa pode contrair dengue?

“Sim, qualquer pessoa, uma vez sendo exposta ao vírus a partir da picada do vetor (mosquito aedes aegypti) pode desenvolver os sintomas da doença.”

Quem pegou dengue uma vez pode pegar de novo? Tem alguma janela de imunidade?

“Quem já teve dengue pode ter uma janela imune por um período que vai depender de qual sorotipo foi infectado, de condições pré-existentes e da gravidade da doença, mas, em geral, essa janela não costuma durar mais do que 6 meses a 1 ano.”

É possível ter dengue e Covid ao mesmo tempo?

“Sim, é possível ter uma coinfecção de dengue e Covid. É importante lembrar que, na dengue, sintomas respiratórios ou gripais não são esperados e, uma vez que ocorram, outras causas como Covid devem ser investigadas.”

Quais são os sintomas?

“A dengue é uma doença que cursa nos primeiros dias de apresentação com sintomas de febre, dor abdominal, mialgia, artralgia, cefaleia e náuseas. Essas manifestações têm apresentação aguda, com duração menor do que duas semanas.”

Quando eles requerem atenção? Qual o momento certo de procurar um médico?

“Os sintomas apresentados requerem atenção quando não há melhora com medicações sintomáticas, quando há alterações neurológicas como sonolência excessiva ou irritabilidade, sangramentos, queda da pressão arterial ou febre que não melhore. Nesses casos, deve-se procurar assistência médica imediatamente.”

É possível tratar em casa?

“No caso de um teste positivo, se não apresentar os sintomas acima, o paciente pode observar os sintomas em casa, com uso de medicações sintomáticas e muita hidratação com água, suco e isotônicos. Caso os sintomas persistam ou, em caso de qualquer sinal de gravidade, é necessário buscar assistência médica.”

Quanto tempo depois da picada do mosquito a pessoa começa a apresentar sintomas?

“Após a picada, os sintomas da dengue costumam aparecer em um período de até 2 semanas, sendo mais comum em até 1 semana.”

Qual é o tratamento?

Não existe tratamento específico para o vírus da dengue. O tratamento da doença ocorre por hidratação, sintomáticos e controle de possíveis disfunções de órgãos.”

Quais medicamentos não podem ser tomados em caso de suspeita de dengue? Por quê?

“Em caso de dengue, medicações como aspirina e anti-coagulantes devem ser evitados, por aumentar o risco de sangramentos. Anti-inflamatórios também devem ser evitados por poder causar uma piora renal. Caso os pacientes já utilizem essas medicações continuamente, um médico deve ser consultado antes da suspensão da medicação.”

Qual é o tempo de recuperação total da dengue?

“O tempo de recuperação de dengue varia de pessoa para pessoa, mas, em geral, para quadros em que não ocorra acometimento grave de órgãos, o paciente deve estar melhor em até duas semanas.”

Em quanto tempo a pessoa para de transmitir a doença por meio do mosquito?

“Enquanto tiver sintomas relacionados à dengue, a pessoa pode ter o vírus circulando em sua circulação sanguínea. Nesse caso, ao ser picado por um mosquito, a pessoa pode transmitir o vírus ao mosquito, que poderá transmitir o vírus a outras pessoas.”

Existe vacina?

Sim. Atualmente, a vacina contra a dengue produzida pelo laboratório japonês Takeda é aplicada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o público entre 10 e 14 anos. O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas.

No início do ano, o Ministério da Saúde divulgou a lista dos cerca de 500 municípios brasileiros que receberiam as doses do imunizante, localizados nas regiões com maior incidência e transmissão do vírus, segundo a pasta.

Entre os contemplados, 11 ficam no estado de São Paulo. São eles: Guarulhos, Suzano, Guararema, Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes, Poá, Arujá, Santa Isabel, Biritiba-Mirim, Salesópolis. A capital paulista não foi incluída na lista.

O imunizante também pode ser encontrado na rede privada de saúde.

Por que a vacina só é aplicada pelo SUS em crianças e adolescentes e não contempla todo o Brasil?

Em um primeiro momento, devido à quantidade restrita de doses disponíveis do laboratório, a vacinação contra a dengue vai contemplar a faixa etária dos 10 aos 14 anos, pois, segundo o Ministério da Saúde, é o grupo que apresenta maior risco de agravamento. Os imunizantes também foram distribuídos com prioridade para as regiões que apresentam maior incidência da doença.

Qual a melhor forma de prevenção? Vale a pena tomar a vacina contra a doença?

“As melhores formas de se proteger contra a dengue são o combate ao vetor (mosquito aedes aegypti) e a vacinação. A vacina contra dengue tem uma eficácia muito boa com perfil de segurança excelente e deve ser tomada pelos grupos para os quais está indicada, sem grandes riscos e com grande benefício.”

Quem já teve dengue pode tomar a vacina?

Sim. De acordo com o Ministério da Saúde, quem já teve dengue deve se vacinar para evitar uma nova infecção ou, em caso de contágio, apresentar sintomas mais leves. Nessas pessoas, é esperada uma resposta melhor ao imunizante.

A recomendação, porém, é que quem teve dengue, aguarde seis meses para tomar a vacina. Quem for diagnosticado com a doença no intervalo entre a primeira e segunda dose, deve manter o esquema vacinal, desde que o prazo em relação ao início dos sintomas não seja inferior a 30 dias.

Quais são os maiores riscos associados à doença? Que tipos de complicações ela pode dar?

“A doença da dengue apresenta riscos principalmente relacionados a disfunção cardiovascular (choque hemodinâmico), sangramentos, disfunção de órgãos como rins e fígado e rebaixamento de nível de consciência, podendo estar relacionados a necessidade de terapia com droga vasoativa, intubação orotraqueal, hemodiálise e em casos extremos até transplante hepático ou renal.”

A doença acontece o ano inteiro? Por que houve esse pico de infecção?

“A dengue é uma doença endêmica e sazonal, o que significa que ela ocorre continuamente, porém, apenas na época de clima mais quente e úmido (verão brasileiro). O pico observado agora corresponde a um aumento esperado de casos no período, agravado pelas altas temperaturas e umidade nesse ano, em parte justificados pelo fenômeno El Niño em curso.

Existe um grupo de risco da doença?

“Sim, hemofílicos, pacientes que fazem uso contínuo de anti-coagulantes, extremos de idade, gestantes, pacientes com doenças cardiovasculares e pessoas com condições de risco psicossocial são alguns dos grupos de atenção para o diagnóstico de dengue.”

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