Em estudo, maior parte das mulheres que congelam óvulos acaba não os usando

Congelar óvulos é um procedimento adotado por muitas mulheres que desejam ter filhos após os 35 anos, quando uma gravidez espontânea é menos comum. Numa pesquisa apresentada na segunda-feira (26) na 39ª reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE, na sigla em inglês), mais de 40% das pacientes estudadas tiveram bebês ao fazerem tratamentos de fertilidade com seus óvulos. Porém, a maior parte daquelas que haviam preservado seus gametas femininos simplesmente não voltou à sua clínica para usá-los.

A pesquisa apresentada pela Dra. Ezgi Darici, integrante do Centro de Medicina Reprodutiva da Universitair Ziekenhuis Brussel (Bélgica), acompanhou 843 mulheres que congelaram óvulos por motivos não médicos na clínica belga entre 2009 e 2019. A idade média delas era 36 anos, e a maioria não tinha parceiros.

Dessas pacientes, só 231 (27%) já haviam retornado ao centro médico em maio de 2022 para fazer um tratamento de fertilidade. Elas tinham idade média de 40 anos, e majoritariamente tinham parceiros.

“Um número crescente de mulheres está optando por congelar seus óvulos na esperança de que isso lhes permita ter filhos mais tarde na vida. No entanto, faltam evidências sobre a eficácia dessa estratégia”, apontou Darici no evento da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, segundo nota de imprensa.

De acordo com a especialista, só 48% das 231 mulheres que retornaram à clínica utilizaram seus óvulos congelados num tratamento de fertilidade. Delas, 50 (22%) fizeram uma inseminação intrauterina – quando o esperma é colocado diretamente no útero – e 71 (31%) optaram por outros procedimentos que utilizavam óvulos frescos.

O estudo também analisou que, das 231 pacientes que voltaram à clinica belga após congelarem seus óvulos, 106 deram à luz um bebê vivo (esse dado é conhecido como taxa cumulativa de nascidos vivos, e inclui todas as crianças que nasceram após qualquer um dos tratamentos de fertilidade). Já a taxa de aborto espontâneo foi de 31%.

Das mulheres que fizeram tratamento envolvendo seus óvulos congelados, 41% tiveram bebês e 25% sofreram um aborto espontâneo). E daquelas que fizeram procedimentos com óvulos frescos, 48% deram à luz e 29% perderam seus bebês durante a gestação.

A idade média das mulheres que usaram óvulos congelados era 42 anos, enquanto a idade média das mulheres que usaram óvulos frescos era 39.

“A escolha de usar óvulos frescos ou congelados é feita com base no melhor tratamento para cada mulher, e fatores como a idade das pacientes são importantes. Não podemos realmente comparar esses dois grupos, pois há muitas diferenças que podem estar subjacentes a qualquer disparidade nas taxas de gravidez e natalidade”, explicou Darici.

Porém, a especialista acrescentou que as mulheres que congelaram seus óvulos “tiveram várias opções” de tratamento, e os médicos do Centro de Medicina Reprodutiva da Universitair Ziekenhuis Brussel encontraram “taxas positivas de gravidez e nascimento” independentemente de as pacientes terem feito tratamentos de fertilidade com óvulos frescos ou congelados.

Carlos Calhaz-Jorge, presidente da ESHRE e especialista do Centro Hospitalar Lisboa Norte e do Hospital de Santa Maria em Lisboa (Portugal), também comentou sobre a pesquisa, na qual ele não teve envolvimento. “Este estudo sugere que os óvulos congelados podem ser úteis para mulheres mais velhas que têm dificuldade para ter filhos; no entanto, precisamos de muito mais pesquisas para provar que esse é o caso”, ele apontou. “Relatórios de rotina sobre resultados de fertilidade para mulheres que optam por congelar seus óvulos ajudariam a construir uma imagem mais clara. Isso pode ajudar a estabelecer diretrizes para mulheres jovens que estão pensando em congelar seus óvulos.”

Fonte: Revista Galileu

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