Farmacêuticas iniciam testes para avaliar vacinas contra a variante Ômicron

SÃO PAULO — A variante ômicron (B.1.1.529), identificada pela primeira vez na África do Sul, gera preocupação de autoridades de saúde do mundo todo pelo risco de ser mais transmissível e pelo medo de que ela possa escapar da proteção conferida pelas vacinas. Diante disso, as principais desenvolvedoras de vacinas já iniciaram testes para avaliar a eficácia de seus imunizantes contra a variante e, até mesmo, a desenvolver versões destinadas à nova cepa. Nesta segunda-feira, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, disse em entrevista para a rede americana CNBC que a companhia já começou a trabalhar em uma nova versão da vacina, direcionada especificamente para a variante ômicron. “Fizemos nosso primeiro modelo de DNA, que é a primeira etapa do desenvolvimento de uma nova vacina”, contou. A expectativa é que o imunizante atualizado esteja pronto em cerca de 95 dias.

Apesar da iniciativa, Bourla ressaltou que confia na proteção da vacina atual, indicando que a farmacêutica usou “uma boa dosagem desde o início”. Essa não é a primeira vez que a Pfizer investe em uma nova versão de sua vacina antes e saber se ela será necessária. A empresa criou, em menos de cem duas, novas versões de sua vacina contra as variantes beta e delta. Ambas acabaram não sendo usadas, já que a vacina original ainda conferiu alto grau de proteção contra elas. A Jonhson & Johnson também anunciou nesta segunda que está testando soro sanguíneo de voluntários dos testes clínicos da vacina para avaliar atividade neutralizante dos anticorpos contra a variante e também está buscando uma vacina específica contra a ômicron. Na sexta-feira, o laboratório Moderna já havia anunciado a intenção de desenvolver uma dose de reforço específica para a ômicron.

Alto número de mutações

Desde a última quinta-feira, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a ômicron como uma variante de preocupação, a nova cepa foi identificada em pelo menos nove países. Até o momento, nenhuma morte relacionada à variante foi relatada, mas ainda são necessárias pesquisas para avaliar o potencial da nova variante de escapar da proteção contra a imunidade induzida por vacinas e infecções anteriores.

A preocupação sobre a eficácia das vacinas não é infundada. A OMS disse nesta segunda-feira que o alto número de mutações pode fazer variante ter vantagem sobre as vacinas. De acordo com o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba, a ômicron é a cepa que mais acumulou mutações até agora. São 50 no total e a maior parte delas está na proteína spike, que é alvo das vacinas contra a Covid-19 disponíveis atualmente, já que essa é a parte usada pelo vírus para invadir as células. Segundo Raskin, até o momento, a única variante de preocupação que se mostrou com capacidade de escapar da proteção conferida pelas vacinas foi a beta, que também surgiu na África do Sul.

— Entre as várias mutações presentes na beta, está a E484K. Essa mutação comprovadamente escapa aos anticorpos monoclonais e tinha a capacidade de escapar das vacina. Essa mutação também está presente na ômicron e é o principal motivo de preocupação — explica Raskin.

Além disso, ela possui também mutações observadas na delta, associadas ao aumento em seu poder de contágio e mutações inéditas. — A ômicron tem pelo menos 12 mutações que ficam na principal parte da spike, que é a que se liga ao receptor da célula humana — complementa o médico. Por outro lado, Raskin pede cautela. Apesar da preocupação e dos indícios, ainda não há nenhuma garantia de que as vacinas atuais não irão proteger contra a ômicron nem há sinal que a variante pode causar casos graves da doença.

A médica Angelique Coetzee, que atende pacientes infectados pela nova variante em clínicas privadas da África do Sul e também faz parte do Comitê Consultivo Ministerial de Vacinas do país, disse que os pacientes infectados até o momento pela ômicron mostram sintomas extremamente leves. Segundo ela, ao contrário da delta, até agora os pacientes não relataram perda de olfato ou paladar e não houve queda significativa nos níveis de oxigênio. Além disso, quase metade dos pacientes com sintomas de ômicron que passaram por ela não foram vacinados. A África do Sul tem apenas 29% da população com ao menos uma dose e 24% totalmente imunizada.

A nova variante já é responsável pela maioria dos novos casos de Covid-19 na província de Gauteng, na África do Sul, epicentro do novo surto no país. Nacionalmente, as novas infecções mais do que triplicaram na semana passada, e a positividade do teste aumentou de 2% para 9%. Acredita-se que esse número irá aumentar ainda mais nos próximos dias.

A identificação e resposta à ômicron aconteceu mais rápido do que a qualquer outra variante. Em apenas 36 horas desde os primeiros sinais de problemas na África do Sul, os pesquisadores analisaram amostras de pacientes infectados, reuniram os dados e alertaram o mundo. A expectativa é que os resultados dos testes em andamento estejam disponíveis em cerca de duas semanas.

Se ficar comprovado que a proteção das vacinas de fato é drasticamente reduzida, a fabricação e aplicação de novas versões será necessária. A Jonhson & Johnson disse que irá desenvolver uma vacina contra a variante se for necessário. As vacinas de mRNA, como as da Moderna e da Pfizer-BioNTech, possuem umatecnologia que permite uma modificação rápida. A Pfizer já criou, em menos de cem dias, novas versões de sua vacina contra as variantes beta e delta. Ambas acabaram não sendo usadas, já que a vacina original ainda conferiu alto grau de proteção contra elas. A Moderna também disse conseguir levar uma nova vacina aos testes clínicos em humanos em até 90 dias.

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