Levedura da cachaça pode prevenir a asma, mostra estudo; entenda

Doenças respiratórias. Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

Uma levedura utilizada na produção da cachaça artesanal, e em outros alimentos, como cerveja e pão, pode prevenir os sintomas da asma, quadro que provoca uma inflamação das vias aéreas e consequente dificuldade na respiração. O efeito foi observado por meio de uma dose diária da levedura isolada, a Saccharomyces cerevisiae UFMG A-905, em estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado na revista científica Probiotics and Antimicrobial Proteins.

Os cientistas explicam que os tratamentos com probióticos, como a levedura, já são utilizados para prevenção e tratamento de uma série de doenças, e despertam o interesse por serem de fácil acesso e geralmente com pouco ou nenhum efeito colateral. Isso porque são microrganismos cuja ingestão traz benefícios à saúde entre outros motivos por atuarem no equilíbrio da flora intestinal.

Porém, eles ressaltam que trabalhos que definem a dosagem e o regime de administração ideais para cada objetivo ainda são escassos. É o caso da S. cerevisiae UFMG A-905, que embora tivesse o potencial para atenuar sintomas da asma já conhecido, ainda não era claro o quanto era necessário.

No estudo, feito com camundongos, os pesquisadores testaram uma série de esquemas diferentes e concluíram que o ideal é uma dose diária da concentração de 109 UFC/ml (Unidades Formadoras de Colônias por mililitro da solução) – em média 10 bilhões de bactérias benéficas por mililitro.

 

“É preciso entender que os probióticos funcionam como medicamentos, ou seja, não adianta tomar de vez em quando ou na dose inadequada”, explica Marcos de Carvalho Borges, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e orientador do estudo, em comunicado da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), que apoiou o trabalho.

Os experimentos foram realizados durante 27 dias consecutivos com três doses diárias diferentes: 107, 108 e 109 UFC/ml. Também foi avaliado um regime em dias alternados com a dose de 109 UFC/ml, porém durante cinco semanas. Os camundongos envolvidos na pesquisa foram sensibilizados com ovalbumina, uma proteína da clara do ovo que induz a asma, para criar um modelo animal da doença.

Todas as estratégias foram comparadas com grupos de controle, animais que receberam apenas solução salina em vez do probiótico. Ao fim, os responsáveis observaram que tanto a administração diária, quanto em dias alternados, reduziram significativamente a hiper-responsividade brônquica – estreitamento das vias aéreas característico da asma. No entanto, em relação à inflamação das vias, apenas a dosagem mais alta no esquema diário conseguiu proporcionar uma redução considerável, sugerindo ser a melhor alternativa.

“Observamos o grau de inflamação pela quantidade de eosinófilos (um tipo de célula de defesa) e pela produção das citocinas, ambos marcadores inflamatórios da asma que se mostraram consideravelmente reduzidos”, explica Borges. “Chegamos à conclusão de que a S. cerevisiae UFMG A-905 isolada da cachaça artesanal tem um bom potencial para prevenir a doença, porém, para isso, deve ser ingerida todos os dias, em uma dose alta”.

 

Os eosinófilos e as citocinas, embora façam parte da resposta imune do corpo e sejam importantes para combater agentes infecciosos, por exemplo, provocam os quadros inflamatórios devido a uma resposta exacerbada em quadros como o da asma. Por isso, a redução observada é positiva nesses casos.

“Do ponto de vista de política pública, ter um produto natural como um probiótico, que praticamente não apresenta efeitos colaterais, para potencialmente prevenir o desenvolvimento de uma doença tão prevalente como a asma é muito importante”, complementa Borges.

Agora, os pesquisadores pretendem ampliar os estudos para humanos, a fim de comprovar os efeitos mostrados em animais. Além disso, querem avaliar se esse probiótico poderia ser ingerido apenas via comprimido diário, ou se há a possibilidade de se desenvolver produtos alimentícios fermentados com a levedura e incluí-la na alimentação para gerar a prevenção à asma.

Já existe, inclusive, uma pesquisa orientada por Borges na Universidade de Campinas (Unicamp) com a UFMG que desenvolveu um pão feito com esse objetivo, que foi patenteado e está sendo avaliado em estudos. Em breve, diz, os efeitos serão registrados em publicação em revistas científicas.

Fonte: O Globo

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