Mesmo quadros leves de Covid-19 podem prejudicar qualidade do sêmen

Um estudo com pacientes homens de clínicas reprodutivas na Espanha revelou que, três meses após contraírem Covid-19 leve, eles tinham sêmen de menor qualidade, com menor concentração de espermatozoides e com menos dessas células capazes de nadar.

Os resultados da pesquisa foram apresentados nesta segunda-feira (26) na 39ª reunião anual da Sociedade Europeia de Ciências Humanas Reprodução e Embriologia (ESHRE), realizada em Copenhaguen, na Dinamarca.

A professora Rocio Núñez-Calonge, consultora científica do UR International Group na Unidade de Reprodução Científica, em Madri, informou que, em uma média de 100 dias após a infecção pelo coronavírus Sars-CoV-2, os pacientes não apresentaram melhora na qualidade e concentração do esperma, mesmo que novos espermatozoides tenham sido produzidos no período.

“Houve estudos anteriores que mostram que a qualidade do sêmen é afetada a curto prazo após uma infecção por Covid, mas, até onde sabemos, não há nenhum que tenha seguido homens por um longo período, disse Núñez-Calonge, em comunicado. “Presumimos que a qualidade do sêmen melhoraria assim que novos espermatozoides fossem gerados, mas não foi o caso.”

Conforme a especialista, não se sabe exatamente quanto tempo levaria para a qualidade do sêmen voltar ao normal e pode ser que a Covid-19 cause danos permanentes — mesmo em sua forma mais leve. “Leva aproximadamente 78 dias para criar um novo esperma, logo, parecia apropriado avaliar a qualidade do sêmen pelo menos três meses após a recuperação da Covid”, explica ela.

Entre fevereiro de 2020 e outubro de 2022, os pesquisadores recrutaram para o estudo 45 homens na faixa dos 31 anos de idade que frequentavam seis clínicas reprodutivas na Espanha. Todos tinham diagnóstico confirmado de Covid-19 leve e as clínicas tinham dados de análises de amostras de sêmen coletadas antes dos homens serem infectados.

Outra amostra de sêmen foi coletada entre 17 e 516 dias após a infecção. O tempo decorrido entre as amostras pré e pós-Covid era de 238 dias. Os pesquisadores analisaram todas as coletas até 100 dias após a infecção e, em seguida, analisaram um subconjunto de amostragens de mais de 100 dias depois.

Os cientistas notaram que, em média, o volume do sêmen dos pacientes caiu 20% mais de três meses depois da infecção pelo coronavírus, o que corresponde a uma queda de 2,5 para 2 mililitros. Já a concentração de esperma diminuiu em 26,5%, isto é, de 68 para 50 milhões por ml ejaculado.

A contagem de espermatozoides também caiu em 37,5% (de 160 para 100 milhões por mililitro de esperma). Já a motilidade total (capacidade da célula se mover e nadar para a frente) teve redução de 9,1%, enquanto o número de espermatozoides vivos diminuiu de 80% para 76%.

Conforme avalia Núñez-Calonge, a motilidade e a contagem total de esperma foram os mais severamente afetados. Mas nem o passar do tempo ajudou a melhorar a situação, segundo demonstrou a análise posterior do grupo de homens que forneceram uma amostra mais de 100 dias após a Covid.

Núñez-Colange supõe que o processo inflamatório da doença possa destruir as células germinativas, infiltrando-se nos glóbulos brancos envolvidos no sistema imune e reduzindo os níveis de testosterona. Os níveis abaixados do hormônio, por sua vez, afetam as células intersticiais que o produzem.

“É particularmente interessante que essa diminuição na qualidade do sêmen ocorra em pacientes com infecção leve por Covid, o que significa que o vírus pode afetar a fertilidade masculina sem que os homens apresentem sintomas clínicos da doença”, observa a pesquisadora.

Por outro lado, ela considera que o comprometimento dos parâmetros do sêmen pode não ser devido a um efeito direto do coronavírus. “É provável que haja fatores adicionais que contribuAm para a diminuição dos parâmetros espermáticos a longo prazo, mas cuja identidade é atualmente desconhecida”, diz Núñez-Colange.

Os pesquisadores planejam continuar a estudar os homens avaliados para medir a qualidade do esperma e seu status hormonal ao longo do tempo. Eles acreditam que deveria haver mais pesquisas sobre as funções reprodutivas masculinas após Covid para ver se a fertilidade é afetada só por ora ou para sempre.

Fonte: Revista Galileu

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