Não há evidências de que falta de serotonina causa depressão, aponta estudo

Ao realizarem uma revisão de estudos sobre depressão, pesquisadores da Inglaterra não encontraram evidências de que os níveis baixos de serotonina ou da atividade desse neurotransmissor sejam responsáveis pela condição mental. Os resultados foram registrados nesta quarta-feira (20) na revista científica Molecular Psychiatry.

A revisão liderada por Joanna Moncrieff, professora de psiquiatria da Universidade College London, averiguou 17 estudos anteriores sobre o tema envolvendo dezenas de milhares de participantes. A conclusão é de que a depressão provavelmente não é causada por um desequilíbrio químico, o que reforça um debate já antigo sobre a eficácia dos antidepressivos.

Essas drogas são inibidores seletivos da recaptação de serotonina, ou seja, corrigem níveis anormalmente baixos do neurotransmissor, impedindo sua entrada na fenda sináptica, onde ele exerce suas ações. Desse modo, a substância reguladora do humor fica disponível por mais tempo.

“Muitas pessoas tomam antidepressivos porque foram levadas a acreditar que sua depressão tem uma causa bioquímica, mas esta nova pesquisa sugere que essa crença não é baseada em evidências”, problematiza Moncrieff, em comunicado.

Sem diferenças

Os autores da revisão analisaram pesquisas que compararam a serotonina e seus produtos de degradação no sangue ou nos fluidos do cérebro. Os resultados demonstram que não havia diferença entre pacientes depressivos e saudáveis.Tampouco existiam sinais de maior atividade da serotonina em pessoas com depressão em estudos sobre receptores e o transportador desse neurotransmissor — a proteína 5-HTT.

Em uma meta-análise de 2007 e uma amostra de estudos recentes, centenas de voluntários saudáveis reduziram na dieta o consumo do aminoácido necessário para produzir a serotonina (triptofano) e não tiveram depressão. Em um pequeno subgrupo de 75 pessoas com histórico familiar do distúrbio, as evidências que poderiam ligar a doença aos níveis do neurotransmissor também foram fracas, sendo que uma análise posterior se mostrou inconclusiva.

Já quando se trata de variação genética, os resultados não foram muito diferentes. Estudos grandes com dezenas de milhares de pacientes analisaram o gene do transportador de serotonina 5-HTT e não detectaram diferença nesse gene entre pessoas com depressão e indivíduos saudáveis.

O papel do estresse

Outras pesquisas também mostraram que o desequilíbrio químico não é tudo: quanto mais eventos de estresse uma pessoa suportava, maior era a probabilidade dela ficar deprimida. Um dos estudos inclusive sugeriu uma relação entre os episódios estressantes, o tipo de gene transportador de serotonina e a chance de se ter a doença. No entanto, análises mais recentes e maiores refutaram a descoberta.

Apesar do debate ser extenso, os pesquisadores acreditam que sua revisão é importante. Segundo concluiu o estudo, entre 85% e 90% das pessoas acreditam que a depressão é causada pela baixa serotonina ou um desequilíbrio químico. Porém, em uma das pesquisas da análise, quem tomava essas drogas para ter maior quantidade da molécula tinha contraditoriamente níveis mais baixos dela no sangue.

Isso sugere que o aumento de serotonina que alguns antidepressivos produzem no curto prazo pode levar a mudanças compensatórias no cérebro, provocando o efeito oposto a longo prazo. Os pesquisadores acreditam, contudo, serem necessárias mais pesquisas sobre tratamentos, de preferência com foco em eventos estressantes e traumáticos, como a psicoterapia, junto de atividade física e práticas como mindfulness.

“Nossa opinião é que os pacientes não devem ser informados de que a depressão é causada pela baixa serotonina ou por um desequilíbrio químico, e eles não devem ser levados a acreditar que os antidepressivos funcionam visando essas anormalidades não comprovadas”, salienta Moncrieff.

Fonte: Revista Galileu

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