OMS divulga primeira lista de fungos que podem ameaçar saúde humana

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta terça-feira (25) a Lista de Patógenos Fúngicos Prioritários, com as 19 espécies que mais ameaçam a saúde humana. O documento elaborado por cientistas da Universidade de Sidney, na Austrália, classifica os riscos em médio, alto e crítico e também solicita uma maior atenção e investimento a essa área negligenciada.

Nos últimos anos, a pandemia do novo coronavírus juntamente com as mudanças climáticas influenciaram diretamente no aumento de doenças fúngicas. Somente durante a crise da Covid-19, a incidência de pelo menos três patógenos fúngicos mortais cresceu: aspergilose comórbida, mucormicose e candidemia.

No entanto, de acordo com os especialistas, poucos esforços foram feitos para combater essa ameaça. Segundo o relatório, a área recebe menos de 1,5% de todo o financiamento de pesquisa de doenças infecciosas.

“Emergindo das sombras da pandemia de resistência bacteriana aos antimicrobianos, as doenças fúngicas invasivas estão se tornando cada vez mais resistentes aos tratamentos, tornando-se uma preocupação de saúde pública cada vez mais urgente em todo o mundo”, alerta Hanan Balkhy, diretora-geral assistente da OMS, em comunicado.

Fungos mais perigosos

 

Para esse projeto, uma equipe de 30 pesquisadores da Austrália e Nova Zelândia analisaram mais de 6 mil artigos e recrutaram mais de 400 especialistas internacionais em micologia. Esse esforço coletivo ajudou a OMS a estabelecer prioridades nas pesquisas.

No topo da lista estão as espécies fúngicas que mais ameaçam a saúde e que já são resistentes ou têm resistência crescente a agentes antifúngicos. Quatro tipos de fungos foram incluídos no grupo de prioridade crítica: Aspergillus fumigatusCandida albicansCryptococcus neoformans e Candida Auris

Aspergillus fumigatus e Candida albicans são os dois patógenos fúngicos mais comuns em todo mundo e possuem altas taxas de mortalidade. O primeiro afeta principalmente os pulmões e está se tornando cada vez mais resistente aos medicamentos azólicos (um grupo de antifúngicos). Já Candida albicans pode causar infecções invasivas, geralmente em pacientes vulneráveis, e mata de 20% a 50% das pessoas afetadas.

Candida albicans pode causar infecções invasivas, geralmente em pacientes vulneráveis, e mata de 20% a 50% das pessoas afetadas — Foto: Wikimedia Commons

Candida albicans pode causar infecções invasivas, geralmente em pacientes vulneráveis, e mata de 20% a 50% das pessoas afetadas — Foto: Wikimedia Commons

Cryptococcus neoformans atinge o cérebro, principalmente em indivíduos imunocomprometidos. O principal fator de risco globalmente é a infecção pelo HIV e é uma das principais causas de morte entre os acometidos pela infecção.

 Candida Auris é um patógeno recém-emergido. É resistente à maioria dos medicamentos antifúngicos e apresenta um enorme desafio de tratamento para os hospitais, devido a sua resistência.

Lidando com a ameaça

 

Além de trazer o alerta para a ameaça fúngica, a lista exige investimentos em vigilância clínica e laboratorial para combater o aumento da resistência antimicrobiana. Essas ações são necessárias principalmente para proteger pacientes imunossuprimidos, incluindo pessoas com HIV/aids, transplantes, doenças respiratórias crônicas e em recuperação de tuberculose.

“Também precisamos de um forte investimento em pesquisa científica básica para que possamos descobrir os mecanismos pelos quais esses fungos prioritários causam infecção. Essa é a chave para o desenvolvimento de novos medicamentos e testes de diagnóstico”, avalia a professora Orla Morrissey, do Grupo de Interesse em Micologia da Austrália e Nova Zelândia.

Hoje existem quatro classes de medicamentos antifúngicos disponíveis, com apenas alguns em testes clínicos. Além disso, métodos para diagnosticar infecções fúngicas ou detectar resistência a medicamentos não estão amplamente disponíveis globalmente.

“Os fungos são a doença infecciosa ‘esquecida’. Eles causam doenças devastadoras, mas foram negligenciados por tanto tempo que mal entendemos o tamanho do problema”, lamenta Justin Beardsley, professor no Instituto de Doenças Infecciosas da Universidade de Sydney. “Esperamos que esse relatório forneça um roteiro para um esforço global de combater os patógenos fúngicos atuais e emergentes.”

Fonte: Revista Galileu

Comments are closed.

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More

Privacy & Cookies Policy