Ortorexia: os riscos da obsessão por comida saudável

Pesquisas recentes mostram que tem aumentado o número de brasileiros que buscam alimentação saudável e equilibrada. Por outro lado, um segundo grupo mais radical também vem ganhando terreno: são pessoas que levam a alimentação saudável ao extremo. O comportamento conhecido como ortorexia – embora não seja classificado como doença – pode levar a consequências sérias como anorexia e bulimia.

De acordo com médico psiquiatra Dr. Eduardo Aratangy, do Programa de Transtornos Alimentares do IPq – Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas – o transtorno da ortorexia é mais observado em mulheres jovens, especialmente  das áreas da saúde e da moda.

“Normalmente quem percebe o problema é um familiar porque a pessoa não reconhece que aquilo é obsessivo. Ela acha que está fazendo algo benéfico para sua saúde”, explica o médico.

De acordo com um estudo da University of Northern Colorado, nos EUA, estima-se que em torno de 1% da população mundial sofra dessa fixação em se alimentar de forma extremamente saudável. Isso representa um contingente de 70 milhões de pessoas.

Quem sofre com ortorexia nervosa costuma adotar uma dieta com alimentos naturais, sem agrotóxicos, substâncias artificiais, ou que contenham baixo índice glicêmico, baixo teor de gordura e açúcar. Claro que se preocupar em comer de forma saudável não significa ter um pé no problema. A ortorexia vai além, ela aparece quando pensamentos sobre comida se tornam tema central em todos os momentos do dia.

“Se a pessoa é hipocondríaca, ela é tão absurdamente preocupada com doenças que a preocupação dela se torna doença. No caso da ortorexia, a lógica é a mesma. Se a gente tem na normalidade uma preocupação com comer saudável, ótimo, mas quando começa a limitar demasiadamente trazendo sofrimento psíquico, aí vira patológico. Essa é a fronteira”, explica o especialista do IPq.

Prejuízos funcionais e sociais

Segundo o psiquiatra, a ortorexia frequentemente começa com uma preocupação em melhorar a saúde, após um susto por alguma doença ou por influência da mídia. O problema é que, com essa crença de que apenas determinados grupos alimentares fazem bem para a saúde, o ortoréxico  acaba tendo dificuldade em encontrar o que comer e eventualmente pode ter deficiência vitamínica, proteica e desnutrição geral.

Além disso, também há um reflexo no aspecto social, pois essa obsessão extrema por alimentação saudável pode fazer com que a pessoa evite frequentar a casa de amigos e passa a encontrar dificuldades em ter uma refeição compartilhada. “Para o ortoréxico a questão alimentar vai tomando uma dimensão que acaba tolhendo a pessoa de outros prazeres, de render no trabalho, estudos e relacionamentos”, alerta o psiquiatra Eduardo Aratangy.

Influência das redes sociais

Dietas perfeitas ganham espaço no Instagram com inúmeras fotos e hastags

Transtornos alimentares como a ortorexia ganham terreno nas redes sociais. Inúmeros perfis de nutricionistas e musas fitness propagam dietas da moda que, de acordo com estudos, têm influência direta nos hábitos alimentares dos usuários, especialmente dos adolescentes.

Um estudo feito por pesquisadores do University College de Londres, por exemplo, notou uma associação entre o uso intenso do Instagram e o transtorno. Foi observado que mulheres que eram expostas a imagens de alimentos saudáveis por mais de 30 minutos na rede social aumentavam consideravelmente os sintomas de ortorexia.

É importante que, nesses casos, a família esteja sempre atenta a mudanças bruscas na alimentação, principalmente dos jovens. O tratamento para transtornos alimentares como a ortorexia passa pela psicoterapia, educação alimentar e nutricional e, dependendo do quadro, medicação.

 

Fonte: Catraca Livre

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