Pacientes paraplégicos voltam a andar após tratamento com estimulação nervosa

NOVA YORK — Três pacientes cujos membros inferiores ficaram completamente paralisados após lesões na medula espinhal conseguiram andar, andar de bicicleta e nadar usando um dispositivo de estimulação nervosa controlado por um tablet com tela sensível ao toque, relataram pesquisadores nesta segunda-feira.

Eles foram capazes de dar seus primeiros passos dentro de uma hora depois que os neurocirurgiões implantaram os primeiros protótipos de um dispositivo de estimulação nervosa controlado remotamente por software de inteligência artificial.

Nos seis meses seguintes, os pacientes recuperaram a capacidade de se envolver nas atividades mais avançadas — caminhar, andar de bicicleta e nadar em ambientes comunitários fora da clínica — controlando os próprios dispositivos de estimulação nervosa usando um tablet com tela sensível ao toque, disseram os pesquisadores.

Os pacientes — homens de 29, 32 e 41 anos — ficaram paraplégicos após acidentes de moto.

Grégoire Courtine e Jocelyne Bloch, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne, lideraram o estudo publicado na revista Nature Medicine. Eles ajudaram a estabelecer uma empresa de tecnologia com sede na Holanda chamada Onward Medical, que está trabalhando para comercializar o sistema.

A empresa espera lançar um teste em cerca de um ano envolvendo 70 a 100 pacientes, principalmente nos Estados Unidos, disse Courtine.

Não há tratamento existente para permitir que a medula espinhal se cure, mas os pesquisadores buscaram maneiras de ajudar as pessoas paralisadas a recuperar a mobilidade por meio da tecnologia.

Se os primeiros resultados deste estudo forem confirmados em estudos maiores, pessoas imobilizadas por lesões na medula espinhal poderão um dia abrir um smartphone ou conversar com um smartwatch, selecionar uma atividade como “andar” ou “sentar” e enviar uma mensagem para um dispositivo implantado que estimulará seus nervos e músculos para fazer os movimentos apropriados acontecerem, disseram os pesquisadores.

Normalmente, para iniciar o movimento, o cérebro envia uma mensagem à medula espinhal, dizendo-lhe para estimular um conjunto de células nervosas que, por sua vez, ativam os músculos necessários, disse Bloch.

— É algo em que nem pensamos — disse Bloch. — Ele vem automaticamente.

Após a lesão completa da medula espinhal, as mensagens do cérebro não podem chegar aos nervos. Outros pesquisadores tentaram ajudar pacientes paralisados a andar estimulando os nervos na parte de trás da coluna, usando amplos campos elétricos emitidos por dispositivos implantados originalmente projetados para controlar a dor crônica, disse Courtine.

Courtine e Bloch e sua equipe reprojetaram os dispositivos para que os sinais elétricos entrassem na coluna pelos lados, e não pelas costas. Essa abordagem permite direcionamento e ativação muito específicos das regiões da medula espinhal, disse Courtine.

Eles então criaram algoritmos de inteligência artificial que instruem eletrodos no dispositivo a emitir sinais para estimular, na sequência adequada, os nervos individuais que controlam os músculos do tronco e das pernas necessários para várias atividades, como levantar de uma cadeira, sentar e caminhar.

O software é adaptado à anatomia de cada paciente, disse Courtine.

Quando o dispositivo foi implantado, os pacientes puderam “ativar imediatamente suas pernas e passos”, disse Bloch.

Mas como seus músculos estavam fracos por desuso, eles precisavam de ajuda com o suporte de peso e precisavam aprender a trabalhar com a tecnologia, disseram os pesquisadores.

Os cientistas observaram que, embora os pacientes tenham recuperado a capacidade de realizar várias atividades, incluindo o controle dos músculos, por “períodos extensos”, eles não recuperaram os movimentos naturais.

— Quanto mais eles treinam, quanto mais eles começam a levantar seus músculos, mais fluido se torna — disse Bloch.

Estudo em camundongos

Outro artigo revisado por uma equipe de pesquisa separada em Israel publicado na segunda-feira na revista Advanced Science descreve uma abordagem experimental para reparar lesões na medula espinhal. Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv tentaram reparar a medula espinhal em camundongos feridos usando células humanas adultas que foram projetadas para se comportar como células-tronco embrionárias, que podem se desenvolver em qualquer tipo de célula do corpo.

As medulas espinhais dos animais formaram tecido cicatricial, o que impediu qualquer benefício dessas células em estudos anteriores. Os pesquisadores primeiro permitiram que as células-tronco florescessem em um ambiente especial de tubo de ensaio, apenas transplantando-as para os camundongos depois que as células amadureceram em uma pequena rede de células nervosas e depois que o tecido cicatricial foi removido cirurgicamente.

Eles relataram alcançar uma taxa de sucesso de 80% na restauração do movimento e da sensação dos camundongos paralisados. Os pesquisadores disseram que pretendem lançar testes em humanos dentro de alguns anos.

Os esforços para usar essas células-tronco para ajudar a coluna a se reparar e restaurar a função de órgãos e membros ainda não produziram um tratamento aprovado em humanos.

— Há um longo caminho para provar que funciona também em humanos, mas este é o nosso objetivo — disse Tal Dvir, que liderou a equipe do Centro Sagol de Biotecnologia Regenerativa.

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