Parkinson: tratamento com ultrassom focalizado levou à redução nos sintomas em estudo inédito

Pacientes com doença de Parkinson alcançaram uma melhora significativa em seus tremores, mobilidade e outros sintomas físicos após um procedimento minimamente invasivo com ultrassom focalizado, de acordo com um novo estudo publicado na revista científica New England Journal of Medicine.

 

Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, realizaram um estudo com 94 pacientes com doença de Parkinson. Eles foram aleatoriamente divididos em dois grupos: o primeiro passaria pelo ultrassom focalizado para ablação de uma região-alvo em um lado do cérebro e o outro, para um procedimento simulado.

Todos os pacientes apresentaram nível moderado da doença e não estavam respondendo bem aos medicamentos. Os resultados mostraram que aqueles no grupo de tratamento tiveram uma melhora imediata de pelo menos três pontos em uma avaliação padrão – medindo tremores, capacidade de andar e rigidez nas pernas e braços – em comparação com uma melhora de 0,3 ponto no grupo de controle. Eles também experimentaram alívio dos efeitos colaterais dos medicamentos de Parkinson.

 

Após três meses de acompanhamento, cerca de 70% dos pacientes tratados com ultrassom apresentaram melhora nos sintomas da doença, em comparação com 32% no grupo de controle. Além disso, um ano após o procedimento, 66% continuaram a ter uma resposta bem-sucedida do tratamento um ano depois. Os voluntários continuarão sendo acompanhados por cinco anos para avaliar a duração do tratamento e a evolução da doença.

Os eventos adversos do procedimento incluíram dor de cabeça, tontura e náusea que desapareceram em um ou dois dias. Alguns pacientes também apresentaram fala arrastada, problemas de locomoção e perda do paladar, que geralmente desapareceram nas primeiras semanas.

 

 

“Esses resultados são muito promissores e oferecem aos pacientes com doença de Parkinson uma nova forma de terapia para controlar seus sintomas. Não há incisão envolvida, o que significa que não há risco de infecção grave ou sangramento cerebral”, disse o autor Howard Eisenberg, professor de Neurocirurgia na Universidade de Maryland e neurocirurgião, em comunicado.

O ultrassom focalizado é um procedimento sem incisões, realizado sem a necessidade de anestesia ou internação hospitalar. Os pacientes, que permanecem totalmente alertas, deitam-se em um scanner de ressonância magnética, usando um capacete transdutor. A energia ultrassônica é direcionada através do crânio para o globo pálido, uma estrutura profunda no cérebro que ajuda a controlar o movimento voluntário regular.

As imagens de ressonância magnética fornecem aos médicos um mapa de temperatura em tempo real da área a ser tratada, para identificar com precisão o alvo e aplicar uma temperatura alta o suficiente para ablacioná-lo. Durante o procedimento, o paciente está acordado e fornecendo feedback, o que permite aos médicos monitorar os efeitos imediatos da ablação do tecido e fazer os ajustes necessários.

O uso dessa tecnologia para o tratamento do Parkinson já foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência que regula medicamentos nos EUA, com base nos resultados desse estudo de Maryland.

“O ultrassom focalizado é aprovado apenas pelo FDA para tratar um lado do cérebro em pacientes com doença de Parkinson, portanto, pode ser mais apropriado neste momento para pacientes com sintomas predominantemente em um lado”, disse o coautor do estudo Vibhor Krishna, professor de neurocirurgia na Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill.

O Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo que afeta células cerebrais ou neurônios em uma área específica do cérebro que produz a dopamina. Os sintomas incluem tremores, rigidez e dificuldade de equilíbrio e coordenação.

Os tratamentos atuais disponíveis para a doença incluem medicamentos e estimulação cerebral profunda de eletrodos implantados cirurgicamente. Entretanto, os efeitos colaterais de ambos podem ser desconfortáveis. Os medicamentos, por exemplo, podem causar movimentos involuntários e erráticos chamados discinesia, pois as doses são aumentadas para controlar os sintomas. Geralmente, a estimulação profunda entra quando esses remédios falham. Embora o procedimento para implantação dos eletrodos seja considerado seguro e eficaz, os riscos incluem hemorragia cerebral e infecção.

“Nosso estudo ajudará médicos e pacientes a tomar uma decisão informada ao considerar esta nova modalidade de tratamento para ajudar a controlar melhor os sintomas. Mas é importante que os pacientes percebam que nenhum dos tratamentos atualmente disponíveis curará a doença de Parkinson”, disse o co-autor do estudo Paul Fishman, professor de neurologia da Universidade de Maryland e neurologista.

Diagnosticada com a doença de Parkinson em 2020, Melanie Carlson, 41 anos, mãe de uma criança pequena, descobriu que os medicamentos que tomava para controlar a doença a faziam ter tremores incontroláveis. Seus sintomas eram tão graves que ela dependia de um andador e não conseguia levar a filha ao parquinho. Em junho passado, ela optou por fazer ultrassom focalizado na Universidade de Maryland.

“O ultrassom focalizado foi realmente transformador. Muitas das minhas habilidades motoras finas voltaram. Estou colocando delineador novamente e tomando banho novamente sem cair. Sinceramente, parece um dos melhores anos da minha vida. Sinto-me tão afortunado. Espero que mais pessoas possam se beneficiar deste procedimento”, disse Carlson.

O próximo passo da equipe é avaliar o benefício do dispositivo quando aplicado em ambos os lados do cérebro, oferecendo tratamentos de ultrassom focalizado em duas sessões, com seis meses de intervalo.

“Até agora, tivemos resultados promissores”, disse Eisenberg.

Fonte: O Globo

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