Parto humanizado: riscos e benefícios da técnica eleita por Gabriela Pugliesi, cada vez mais popular no país

A influencer digital Gabriela Pugliesi completou oito meses de gravidez. O nascimento de Lion, seu primeiro filho, está previsto para início de novembro. Pelas redes sociais, Pugliesi divide com seus milhares de seguidores os hábitos saudáveis, a boa forma e a felicidade durante a gestação. Nos últimos dias, porém, uma afirmação levantou discussão entre seus seguidores:

 

 

— Se depender só de mim, quero o parto mais humanizado possível. Normal, sem anestesia — disse ela.

A imagem que muitos têm do parto humanizado se limita ao procedimento em que a mãe tem o filho em casa, sem recursos artificiais. O termo, na verdade, prega o nascimento da maneira mais natural e tranquila possível e dá à mulher o máximo de autonomia no processo. Deve ser realizado com poucas intervenções médicas e técnicas consideradas invasivas ou desnecessárias e com recursos que tranquilizem a gestante. A equipe médica está presente apenas para dar suporte, apoio e intervir caso seja necessário em alguma emergência.

— São inúmeros os benefícios nesse tipo de parto. Os bebês que nascem sem uma intervenção invasiva ou medicações desnecessárias já vêm ao mundo mais preparados e maduros. Tem uma capacidade de respiração melhor. A mãe tem menos risco de sangramentos no pós-parto e de dores crônicas causadas por cortes — explica Romulo Negrini, coordenador médico da obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Médicos ouvidos pelo GLOBO defendem, no entanto, que o parto humanizado seja feito em ambiente hospitalar. E essa é uma realidade cada vez mais comum nas capitais do país.

 

 

Na semana passada, por exemplo, a Rede D´Or, o maior grupo privado de saúde do Brasil, inaugurou uma maternidade em São Paulo com forte investimento na técnica. O prédio tem oito salas equipadas para oferecer o parto humanizado. Banheira, jogos de luzes, aromaterapia, cromoterapia e escalda-pés momentos antes de dar à luz estão entre os recursos para a mãe relaxar e, dessa forma, conseguir contribuir o máximo que puder para o parto. Além do pediatra, o nascimento é acompanhado por um fisioterapeuta, anestesista, obstetra e enfermeira, caso haja alguma complicação no momento do parto e tenham que intervir em qualquer momento.

Sala de parto humanizado na Maternidade São Luiz Star, da rede D´Or com banheira e bola de pilates — Foto: Reprodução

Sala de parto humanizado na Maternidade São Luiz Star, da rede D´Or com banheira e bola de pilates — Foto: Reprodução

A inclusão desse tipo de atendimento ocorreu pelo aumento de procura. Na maternidade anterior do grupo em São Paulo, o crescimento foi de 20% nos últimos quatro anos. Durante o mesmo período, a maternidade do Rio, a Perinatal, aumentou em 50%. Do total de partos da rede, 37% já são humanizados.

— A relação médico e paciente mudou no decorrer dos anos. Não é vertical. A gestante tem a informação, sabe o que quer e o que é melhor para ela. Ela já chega com um plano para o parto e há uma conversa entre os dois — diz Maria Augusta Gibelli, diretora médica da Maternidade São Luiz Star.

O Hospital Israelita Albert Einstein também com salas para partos humanizados, não adota a prática do jejum, comum em partos convencionais. A gestante ainda é estimulada a caminhar pelos corredores no intuito de diminuir as contrações do parto. A mãe pode ser acompanhada por até quatro acompanhantes durante o nascimento do bebê. Estima-se que nos últimos seis anos a busca por um parto humanizado no hospital dobrou, chegando a 40% do total.

 

 

— O ideal é que o procedimento ocorra em ambiente hospitalar, para ter acesso a recursos tecnológicos que tragam segurança e assistência materna e fetal. E, sobretudo, para ter assistência imediata caso ocorra alguma urgência — diz o ginecologista Ricardo Porto membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Federação Brasileira das Associações de ginecologia e obstetrícia (Febrasgo).

O Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, oferece a modalidade Parto na Suíte , com atendimento totalmente individualizado e espaço dedicado à atenção ao trabalho de parto em ambiente familiar. Ali a gestante tem o apoio de uma enfermeira e do próprio obstetra, além do acompanhamento de familiares no geral. O quarto é ambientado com barras de apoio e alongamento, bolas de pilates que permitem variados movimentos e posições para evolução no período de dilatação e banheira de imersão para alívio da dor.

Em função dessas ações o hospital registrou, de 2020 até 2022, um aumento de 30% no número de partos vaginais de modo geral e cerca de 65% dentro da suíte de parto.

 

 

Recentemente, a artista Natalia Fabia, casada com o músico Jay Bentley, da banda Bad Religion, usou suas redes sociais para falar dos apuros que passou com o nascimento do filho em casa, no dia 28 de julho deste ano. O bebê, George, nasceu com um raro problema no coração e precisou se submeter a uma cirurgia de emergência. Em razão do pouco tempo de vida que o bebê poderia ter, um helicóptero do hospital precisou ir buscá-lo em casa para levá-lo ao atendimento. A rápida resposta foi crucial para salvar o recém-nascido, que hoje se recupera da cirurgia e está bem. No entanto, não são todas as gestantes que possuem um helicóptero à disposição.

Apesar da condenação dos médicos, há casos de partos humanizados domiciliares de sucesso, como da autora e apresentadora Bela Gil que deu à luz ao seu caçula, Nino, em casa dentro de uma banheira com a presença de seu marido, João Paulo, e de sua filha mais velha, Flora. Bela descreve o momento como precioso e intenso. “O melhor presente da minha vida”, afirmou nas redes sociais.

 

 

A top model Gisele Bündchen também optou pelo nascimento humanizado domiciliar de seus dois filhos, Vivian e Benjamin. Os dois nasceram de forma natural, dentro de uma banheira. A modelo conta que no caso de Benjamin, seu primogênito, o trabalho de parto durou dez horas. De Viviam, três dias. “Fiquei sentindo pequenas contrações, mas continuei levando Benjamin na escola. Estava experimentando lingerie no closet no terceiro dia com quatro centímetros de dilatação quando começou a ficar mais forte. Depois de três horas e meia ela nasceu”, relembra a modelo em entrevista à Ana Maria Braga. No caso de Gisele, havia uma parteira e uma enfermeira obstetra acompanhando todo o processo, e a casa da modelo ficava a menos de 20 minutos de um hospital, caso tivesse alguma complicação durante o parto.

Gisele Bündchen e Tom Brady plantando uma árvore com os filhos, Benjamin e Vivian — Foto: Reprodução

Gisele Bündchen e Tom Brady plantando uma árvore com os filhos, Benjamin e Vivian — Foto: Reprodução

A maioria dos médicos também critica a falta de anestesia, defendida por algumas mulheres.

— Poucas são as mulheres que sentem uma dor suportável durante o parto, em geral é muito forte. Estamos no século 21, nenhuma mãe deve ultrapassar seu limite e aguentar uma dor que não traz nenhuma vantagem para o bebê ou para o parto. — afirma a ginecologista e obstetra Marianne Pinotti, do grupo de cirurgia oncológica e mamária da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

Contraindicações

 

São poucas as contraindicações da técnica. A principal é a posição anômala do bebê no ventre da mãe. Se ele está encaixado sentado, por exemplo, não é aconselhado, pois o nascimento pode ser difícil para a mãe e para o feto. Gestação gemelar também.

— Patologias relacionadas à mãe, como cardiopatias graves em que ela não pode fazer esforço, descontrole da hipertensão, bebês muito grandes (acima de 4,5 quilos) ou muito pequenos, por serem muito sensíveis, também são um empecilho para o parto natural e humanizado — diz Pinotti.

Entre os possíveis problemas durante o parto estão a dificuldade de extrair o bebê, distocia de ombro, ou seja, quando a cabeça do bebê nasce, mas o ombro e o tronco ficam presos. Em casos mais graves pode ocorrer o deslocamento da placenta e até mesmo uma hemorragia pós-parto pela falta de contração do útero, levando a gestante ao óbito — esta, inclusive, é a principal adversidade que causa a morte de gestantes hoje no país.

Cesárea humanizada

 

Embora seja um vilão em relação ao parto humanizado e, muitas vezes, um bicho de sete cabeças para muitas gestantes, a cesárea também pode ser humanizada. A diferença está no modo como a equipe médica conduz o parto. O centro cirúrgico, por exemplo, pode ser mais intimista com menos luzes, ou com um jogo de luminosidade menos invasiva.

É necessário que as pessoas que acompanham o nascimento, como médicos, enfermeiros, anestesistas e até mesmo o acompanhante da gestante, não gritem e falem o mínimo possível, respeitando o momento da mulher. O pós-parto também é crucial. O bebê precisa ter contato imediato, pele a pele, com a mãe nos primeiros 60 minutos, momento em que ele mama pela primeira vez.

Fonte: O Globo

Imagem: Instagram

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