Viver em climas mais quentes está associado a uma visão pior, sugere estudo

A deficiência visual afeta aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas ao redor do mundo. Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde, em relação à visão para longe, 188,5 milhões de pessoas têm deficiência visual moderada, 217 milhões têm deficiência visual moderada a grave e 36 milhões são cegas. Os motivos pelos quais essa condição aparece são inúmeros, mas um novo estudo canadense sugere que alguns casos de perda de visão podem estar relacionados com o clima.

O artigo, publicado na revista Ophthalmic Epidemiology, mostra que adultos americanos com 65 anos ou mais que vivem em regiões mais quentes têm maior probabilidade de ter perda visual grave quando comparado a pessoas da mesma idade que vivem em regiões mais frias. As informações, coletadas por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, foram obtidas através de uma análise de mais de 1,7 milhão de idosos.

Para aqueles que viviam em lugares com temperatura média entre 10°C e 12,7°C, a chance de perda visual grave era 14% maior do que a dos indivíduos que moravam em locais onde a temperatura média era inferior a 10°C. Já para os que viviam em ambientes com clima entre 12,7°C e 15°C, essa probabilidade aumentava para 24%. E aqueles em cidades com temperatura média de 15,5°C ou mais apresentavam um risco 44% maior.

Para Esme Fuller-Thomson, diretora do Instituto de Curso de Vida e Envelhecimento da Universidade de Toronto, caso seja confirmada uma relação causal entre clima e perda de visão, esse será um dado bastante preocupante – afinal, vivemos num cenário de mudanças climáticas atualmente. “Esperamos um aumento nas temperaturas globais. Será importante monitorar se a prevalência de deficiência visual entre os adultos mais velhos aumentará no futuro”, ela observa em comunicado.

Outro alerta do estudo é que a baixa visão afeta a qualidade de vida dos idosos, uma vez que pode aumentar o risco de quedas e fraturas. Além disso, problemas de visão custam dezenas de bilhões à economia dos Estados Unidos a cada ano. No país, estima-se que aproximadamente 12 milhões de pessoas com mais de 40 anos seja afetada pela perda de visão em maior ou menor grau.

Calor prejudicial

 

O estudo canadense foi realizado com base em dados coletados pela pesquisa American Community Survey (ACS) entre 2012 e 2017, que entrevistou 1,7 milhões de americanos com 65 anos ou mais que viviam no mesmo estado em que nasceram. No questionário, os participantes responderam à seguinte pergunta: “Essa pessoa é cega ou tem muita dificuldade para enxergar mesmo usando óculos?”.

Já os dados de temperatura média do novo estudo foram obtidos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA. Eles foram combinados com informações da ACS.

Além de descobrirem que quanto mais calor faz num local, pior é a visão de seus residentes, os pesquisadores da Universidade de Toronto também observaram que a associação entre temperatura mais alta num município e perda visual grave foi mais forte para indivíduos com idade entre 65 e 79 anos em comparação com aqueles com 80 anos ou mais. Essa condição também era mais grave em homens do que em mulheres, e era mais séria em americanos brancos do que em americanos negros.

Porém, a relação entre temperatura média e deficiência visual grave era forte independentemente da idade, sexo, renda e escolaridade dos participantes.

Apesar disso, o motivo pelo qual a relação entre clima e grau de visão pôde ser observada no estudo ainda não está claro. Os pesquisadores apenas analisaram se essa associação existia; os possíveis motivos dela ainda não foram verificados.

Os autores levantam a hipótese de várias causas potenciais para a relação observada, incluindo aumento da exposição à luz ultravioleta, poluição do ar, infecções e degradação do ácido fólico com o aumento da temperatura. Agora, mais pesquisas são necessárias para determinar as causas dessa ligação.

“Essa nova descoberta apresenta mais perguntas do que respostas, incluindo qual é a conexão entre a temperatura média de um condado e a perda visual”, pontua Fuller-Thomson.

A especialista acrescenta que o próximo passo para sua equipe é investigar se o calor está associado a qualquer outra deficiência entre os adultos mais velhos, como problemas auditivos e limitações nas atividades diárias.

Fonte: Revista Galileu

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