Acompanhar o noticiário de política pode afetar negativamente a saúde mental; entenda

Acompanhar notícias de política diariamente pode afetar negativamente a saúde mental e o bem-estar, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Journal of Personality and Social Psychology. Por outro lado, ignorá-las também tem consequências.

 

Trabalhos anteriores já haviam mostrado que a política pode ser uma grande fonte de estresse na vida das pessoas. No entanto, a maior parte desses estudos se concentrou em grandes eventos políticos, como as eleições presidenciais.

Na nova pesquisa, a equipe da Associação Americana de Psicologia queria explorar os efeitos emocionais e mentais das notícias políticas cotidianas e como as pessoas usam diferentes estratégias para administrar as emoções negativas geradas por esse noticiário.

 

“A política não é apenas algo que afeta as pessoas a cada quatro anos durante o período eleitoral – ela parece se infiltrar na vida cotidiana. Mas simplesmente não sabemos muito sobre o impacto cotidiano que a política pode ter”, disse Brett Q. Ford, professor assistente de psicologia na Universidade de Toronto, no Canadá.

Os pesquisadores recrutaram 198 americanos com opiniões políticas diversas. Durante duas semanas, todos deveriam responder, antes de dormir, uma série de perguntas. Isso incluía informações sobre o evento político em que mais pensaram naquele dia, as emoções que sentiram em resposta a isso, como administraram essas emoções, seu bem-estar psicológico e físico geral naquele dia e como se sentiram motivados a se engajar politicamente.

 

 

Os resultados mostraram que pensar em eventos políticos no cotidiano evoca emoções negativas e isso se reflete em pior saúde psicológica e física. Por outro lado, essas pessoas também relatam maior motivação para agir em causas políticas, fazendo coisas como voluntariado ou doando dinheiro para campanhas.

“A política moderna – suas controvérsias diárias, incivilidade e inépcia – coloca uma carga emocional regular nos americanos”, avalia Matthew Feinberg, PhD, coautor do artigo e professor de comportamento organizacional na Rotman School of Management da Universidade de Toronto.

A pesquisa também perguntou quais estratégias os participantes usam para administrar suas emoções negativas, incluindo distrair-se das notícias e “reavaliação cognitiva” ou reformular o pensamento sobre uma notícia para torná-lo menos negativo. Aqueles que utilizaram melhor essas estratégias relataram maior bem-estar, mas também menos motivação para engajamento político.

 

 

Em seguida, os pesquisadores replicaram esses resultados ao longo de três semanas com um grupo de 811 pessoas que incluíam não apenas democratas e republicanos, mas também pessoas afiliadas a um partido político diferente ou a nenhum partido.

Nesse experimento, os participantes deveriam assistir trechos de notícias políticas dos programas de notícias liberais e conservadores de maior audiência ou trechos de programas com notícias neutras ou sem viés político, em vez de simplesmente relatar as notícias que haviam lido durante o dia.

Os resultados mostraram que aqueles que assistiram ao trecho que abordava temas políticos experimentaram emoções mais negativas do que aqueles que assistiram programas neutros. Essas pessoas também relataram mais motivação para se voluntariar para causas políticas ou realizar outras ações associadas ao tema. O efeito foi observado em participantes de todos os partidos políticos.

 

 

Em um experimento final, os participantes foram orientados a tentar diferentes estratégias de regulação emocional enquanto assistiam aos programas, como distração, reavaliação cognitiva ou aceitação de sentimentos negativos. Duas estratégias se mostraram mais promissora nessa missão: a distração e a reavaliação cognitiva. Ambas reduziram consistentemente as emoções negativas e aumentaram o bem-estar. Mas também causou um efeito colateral: menor probabilidade de engajamento político.

“Proteger-se do estresse da política pode ajudar a promover o bem-estar, mas também tem um custo para permanecer engajado e ativo na democracia”, disse Ford.

De acordo com os pesquisadores, a descoberta tem implicações importantes, principalmente para ativistas que desejam envolver as pessoas na defesa de causas políticas sem prejudicar sua saúde mental. O ideal, nesse caso, é identificar estratégias que possam ser usadas para proteger seu próprio bem-estar sem acarretar custos para o coletivo, como o desengajamento dessas pessoas.

A equipe recomenda a realização de pesquisas adicionais para avaliar os efeitos da política no bem-estar em diferentes países.

Fonte: O Globo

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