Cardiologista alerta para a falta de representatividade feminina nos ensaios clínicos

As doenças cardiovasculares respondem por um terço das mortes de mulheres no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), e ultrapassam as estatísticas de câncer de mama e de útero como principal causa de óbito feminino. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, entre as brasileiras, especialmente as que têm mais de 40 anos, as cardiopatias chegam a representar 30% das causas de morte, a maior taxa da América Latina.

No entanto, embora tenham se conscientizado sobre a importância dos exames preventivos para a detecção de doenças ginecológicas e do câncer de mama, as mulheres ainda cuidam pouco da saúde do coração e demoram a buscar atendimento. Esse blog já mostrou que é preciso redobrar a atenção para quadros de hipertensão que, na meia-idade, podem ser confundidos com sintomas da menopausa. No entanto, a maioria dos ensaios clínicos para o tratamento das doenças cardiovasculares continua com pouca representatividade feminina.

Esse foi o alerta dado pelo médico Antonio Carlos Palandri Chagas, professor titular da Faculdade de Medicina do ABC, no 41º Congresso Virtual da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. “Pelas últimas estatísticas da OMS, homens e mulheres estão praticamente empatados na mortalidade por doença cardiovascular: 50.9% das mortes são de indivíduos do sexo masculino e 49.1%, do feminino. É fundamental que testes e pesquisas incluam mulheres. A resposta a componentes químicos e agentes infecciosos é diferente de acordo com o sexo, isto é, com os órgãos reprodutivos e cromossomos, e também de acordo com o gênero, com a orientação e visão que cada um tem de si”, afirmou.

O coração feminino é menor, pesa menos e ejeta menos sangue. A circulação coronariana é diferente da masculina. Entretanto, as mulheres sempre estiveram subrepresentadas nos ensaios clínicos. O cardiologista lembrou que, antes de 1993, era comum que não houvesse sequer uma representante do sexo feminino nos estudos. Foi quando o FDA (Food and Drug Administration), órgão equivalente à Anvisa nos EUA, mudou as orientações para que os testes de fármacos as incluíssem, já que a resposta às drogas não é a mesma.

Ainda assim, ele deu diversos exemplos nos quais os percentuais de homens e mulheres eram desproporcionais. Num estudo publicado no “The New England Journal of Medicine”, sobre controle da pressão arterial, 64% eram homens e 36%, mulheres. E o ano era 2015! Em 2017, em outro trabalho sobre a droga evolucumabe, para o tratamento do colesterol, elas também não passavam de 24%, assim como em 2020, nos testes com empaglifozina: de novo 24%. O alerta: temos muito chão pela frente para chegar a melhores diagnósticos e tratamentos adequados para o coração feminino.

Fonte: G1

Comments are closed.

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More

Privacy & Cookies Policy