Dor de barriga: 8 tipos mais comuns

Quando se fala em dor de barriga parece que é um problema simples, daqueles que se resolvem em casa, certo? De fato, na sua maioria, não é nada grave. Mesmo assim, as queixas lotam as salas de espera dos pediatras. Dados recentes do Colégio Americano de Gastroenterologia mostram que a dor abdominal crônica ou recorrente afeta de 10% a 12% de crianças e adolescentes nos Estados Unidos. Destes, menos de 25% apresentam uma causa orgânica que a justifique. São as chamadas dores funcionais.

Outro ponto importante é que as dores abdominais podem ter centenas de causas e, justamente por isso, estão entre os problemas com maior dificuldade de diagnóstico. A gastroenterologista pediátrica Cristiane Boé, do Sabará Hospital Infantil (SP), diz que, para cerca de 1/3 dos pacientes que apresentam dor abdominal e realizam acompanhamento médico, o desconforto se torna crônico, mesmo que não seja identificada nenhuma causa orgânica. É preciso paciência na investigação.

Os incômodos na região abdominal nem sempre são sintomas de doença e podem estar ligados a emoções como ansiedade e medo. Mas dar remédio resolve? Um dos consensos é que os medicamentos antiespasmódicos – que inibem os movimentos gastrointestinais – não devem ser usados indiscriminadamente em crianças. Isso porque a reação natural do corpo não deve ser interrompida, até para não atrapalhar o diagnóstico. Cada problema deve ser investigado individualmente, a partir da observação dos sintomas e do comportamento da criança.

A seguir, reunimos os tipos mais comuns de dor de barriga e conversamos com especialistas, que ensinam a identificá-los e como agir em cada caso.

1) CÓLICA POR GASES

Elas fazem bebês e crianças se retorcerem, causando contrações da musculatura abdominal. No recém-nascido, a cólica acontece por imaturidade do sistema digestivo, o que significa que ele está se acostumando a digerir o leite e a flora intestinal ainda está em formação. É uma adaptação necessária para que o corpo aprenda a lidar com o volume do alimento e também com os gases. Estes, aliás, podem aparecer quando as crianças ingerem alimentos que contam com elevadas quantidades de fibras e carboidratos, por conta da fermentação.

Como é – nos bebês, os sintomas mais comuns são choro persistente e inquietação (esticam as pernas, irritados, e até rejeitam as mamadas). Para as crianças maiores, pergunte se a dor muda de lugar na barriga.

O que fazer – movimentar as pernas e massagear o abdômen ajuda. “As evidências científicas mais recentes recomendam a utilização de probióticos específicos como uma opção de tratamento efetivo para tratar a cólica abaixo dos seis meses de idade”, diz o pediatra Mário Vieira, chefe do serviço de gastroenterologia do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Segundo ele, há poucas pesquisas que justificam o uso de glicose, sacarose, lactase e medicamentos antiflatulentos. Para os maiores, uma caminhada leve pode estimular a liberação dos gases. Nesses casos, os medicamentos – com prescrição – amenizam o desconforto. Evite ainda alimentos conhecidos por fermentar demais, como feijão e brócolis.

2) FARRA GASTRONÔMICA

Salgadinhos, doces, frituras. O organismo de qualquer um reclama quando se exagera nas guloseimas. Mas o problema também pode ser a ingestão de algum alimento estragado.

Como é – vale fazer uma investigação do que a criança comeu nas últimas horas e dias. Em pouco tempo, o quadro costuma evoluir para vômitos e diarreia.

O que fazer – esperar passar é o melhor remédio. O corpo precisa expelir o que não está fazendo bem. Dê bastante água e alimentos leves, como batata cozida.

3) VERMINOSES

Pouco comuns nas grandes cidades, são causadas por vermes encontrados na terra e na água. A mais frequente é a giardíase.

Como é – a dor costuma ser na parte alta do abdômen e é constante.

O que fazer – exame de fezes para confirmar o tipo de verme e tratar com vermífugo prescrito pelo pediatra.

Massagem na barriga combate a cólica do recém-nascido (Foto: Thinkstock)
Massagem na barriga combate a cólica do recém-nascido (Foto: Thinkstock)

4)  INTESTINO PRESO

É a dor mais comum, relacionada com uma dieta pobre em verduras, frutas, cereais e líquidos. “O histórico familiar de prisão de ventre também conta. Entre os recém-nascidos em aleitamento exclusivo, pode ocorrer a chamada pseudoconstipação, que é uma condição funcional em que eles chegam a ficar até uma semana sem fazer cocô”, diz Cristiane Boé.

Como é – a criança vai menos ao banheiro, reclama de dor ao fazer cocô e fica com a barriga inchada.

O que fazer – uma reforma na geladeira, na mesa e na lancheira. Alimentos como mamão, ameixas-pretas e muita água ajudam. No caso dos bebês que mamam no peito, o esperado é que as fezes voltem à consistência normal sem a necessidade de medicamento.

5) VIROSES E INFECÇÕES

O famoso rotavírus e outros vírus e bactérias, que podem estar no ar, em locais contaminados ou em alimentos, são os responsáveis por essa dor.

Como é – quase sempre vem acompanhada de febre. Também se junta ao vômito, diarreia e cansaço.

O que fazer – dar muita água é o primeiro passo. Em seguida, veja como o problema evolui. Se a criança estiver disposta, brincando, é possível esperar. O mal-estar dura, em média, três dias. Se ela estiver muito abatida, procure um médico.

6) DOR MUSCULAR

Gripe, tosse persistente, espirros, bronquite e até mesmo muita risada podem dar dor nos músculos.

Como é – seu filho provavelmente não vai saber explicar. “Mas pergunte a ele se a dor é parecida à que ele tem quando passa mal por comer muito ou como o que sente quando brinca demais e fica cansado. É o segundo caso”, diz Mário Vieira.

O que fazer – esperar passar é o melhor, mas, se incomodar muito, um analgésico ajuda. Fale com o pediatra.

7) ANSIEDADE OU MEDO

O nervoso antes de ir para uma escola nova ou na véspera da festa de aniversário às vezes aparece de maneira física. “Em um quadro de ansiedade, é natural que se tenha sintomas relacionados ao corpo – e é justamente na região do abdômen, mais especificamente no intestino, que estão localizadas as emoções”, diz a psicoterapeuta Mônica Pessanha, mestre em psicologia clínica pela PUC/SP e professora de psicanálise infantil no Instituto Cinco – Desenvolvimento Humano (SP).

Como é – o que causa a dor, na maioria das vezes, é um mecanismo do organismo que prende o intestino.

O que fazer – avalie se o seu filho está passando por uma situação estressante e entenda o que pode ter causado o problema. Procure confortá-lo. Dependendo do caso, terapia pode ajudar.

8)  APENDICITE

Rara em menores de 5 anos, a inflamação do apêndice não tem como ser prevenida. Constante, a dor piora em poucas horas.

Como é – ao contrário de todas as outras dores, essa ocorre de repente e sem causa aparente. A dor é perto do umbigo e pode estar acompanhada de febre baixa e náusea.

O que fazer – ir rapidamente ao pronto-socorro, pois a evolução de uma apendicite não tratada pode ser fatal.

Fontes: Mario Vieira, pediatra especializado em gastroenterologia do Hospital Pequeno Príncipe (PR), Pedro Cesar Souza Paiva, pediatra e neonatologista da Casa de Saúde São José e Clínica Médica Barra Shopping (RJ), Sergio Eiji Furuta, pediatra e pesquisador da UNIFESP (SP)

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