Homem tem rara mutação genética que “atrasa” sintomas do Alzheimer

O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, afetando a rotina do paciente diagnosticado com os primeiros sintomas, que aparecem na faixa dos 40 anos de idade. A doença de Alzheimer é genética, ou seja, se existe um caso em uma família, ele pode reaparecer em outras gerações.

Um artigo publicado na segunda-feira (15) identificou o segundo caso de pessoa que possuía uma variante genética do Alzheimer precoce, que aparece antes dos 60 anos, mas que teve os primeiros sintomas essa idade. O paciente que apresenta essa anomalia é um senhor colombiano que recebeu o diagnóstico em sua juventude e só apresentou os sinais de doenças aos 67 anos, apenas 7 anos após parar de trabalhar. Disponível no periódico Nature Medicine, o estudo ainda mostra uma análise de dados de 1,2 mil colombianos.

As varreduras cerebrais, conduzidas por um time internacional de cientistas, mostraram que o cérebro do paciente havia atrofiado e apresentava as características moleculares clássicas da doença. Sendo elas um grande número de aglomerados de proteínas pegajosas conhecidas como placas amilóides, junto com alguns emaranhados nodosos de outra proteína chamada tau. Essas duas características são vistas, geralmente, em pessoas com o estágio da doença mais avançado, como a demência grave, que deixa a pessoa debilitada. Mas de alguma forma o homem resistiu à doença de Alzheimer por muito mais tempo do que se esperava.

Já em uma parte pequena e específica do cérebro, onde os neurônios estão envolvidos na memória e na navegação, o homem tinha níveis muito baixos de tau emaranhada, o que não é comum em pessoas com Alzheimer, uma vez que essa parte é uma das mais prejudicadas pelo transtorno.

A proteína protetora

 

Na continuação dos estudos, os pesquisadores liderados pelo neurologista Francisco Lopes descobriram que o colombiano possuía também uma variante rara em outro gene que codifica uma proteína chamada reelina. Trata-se do segundo caso identificado que envolve a proteína e sintomas adiados de Alzheimer, sendo o primeiro de uma mulher. Segundo o estudo, a reelina protegeu o homem do desenvolvimento da doença por mais de duas décadas. Além disso, a proteína pode ter mantido o mal de Alzheimer sob controle na região que codifica os neurônios.

Até o momento, pouco se sabe sobre o papel efetivo da reelina na doença de Alzheimer. Por isso, os cientistas utilizaram camundongos para provar que a forma mutante da reelina impediu que as proteínas tau se juntassem em torno dos neurônios do cérebro dos roedores.

A esperança é entender como a reelina interage com as proteínas do Alzheimer, protegendo os neurônios. A expectativa é de encontrar uma maneira de aumentar a resiliência em todas as formas da doença de Alzheimer, e não apenas naqueles que herdam sua variante protetora. Eles “poderiam ter um profundo impacto terapêutico na resistência à patologia tau e neurodegeneração, e resiliência contra declínio cognitivo e demência na doença de Alzheimer”, concluem os pesquisadores no estudo.

Análise de dados

 

O time liderado por Francisco Lopes também analisou dados clínicos e genéticos de cerca de 1,2 mil indivíduos colombianos que portavam a mutação. Isso possibilitou a identificação de uma nova e extremamente rara variante no homem que permaneceu cognitivamente intacto. A mesma variação estava presente em baixa quantidade na irmã do homem, que morreu anos antes.

De acordo com o site Science Alert, os pesquisadores haviam detectado a mutação em 2019 em outro caso. Trata-se de uma mulher portadora da mutação Paisa que não apresentou sinais de declínio cognitivo até os 70 anos, algo em torno de 30 anos depois do esperado para portadores da mutação.

Outras pesquisas mostraram que ela também tinha níveis anormalmente baixos de tau em todo o cérebro, mas sua resiliência ao Alzheimer foi atribuída a uma mutação diferente em outro gene: APOE. Isso fez os autores acharem que pode existir alguma sobreposição ou interação entre a variante reelina e as proteínas APOE que poderiam explicar seu efeito protetor, mas é possível que outras variantes genéticas também contribuam.

Fonte:Revista Galileu

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