Médicos brasileiros protestam contra eventos negacionistas

RIO — A Academia Nacional de Medicina (ANM), máxima instituição científica dos médicos do Brasil, alerta para os riscos para o combate da pandemia da Covid-19 trazidos por negacionistas que promovem eventos para divulgar informações falsas sobre supostos efeitos colaterais das vacinas e contestar a necessidade de passaporte de vacinação. O mais recente deles acontece nesta quinta-feira no Clube Militar do Rio de Janeiro.

O acadêmico Carlos Alberto Barros Franco, um dos primeiros médicos a tratar de Covid-19 no Brasil e um dos pneumologistas mais respeitados do país, explica que eventos assim semeiam dúvidas sem fundamento.

— Não temos viés político. Nossa posição se baseia em ciência.  A vacinação contra a Covid-19 é segura, a melhor que já se desenvolveu. E não existe nada na história da medicina mais importante do que as vacinas. Isso é fato comprovado. Semear a desconfiança no povo difundindo riscos que não existem é inaceitável — afirma Barros Franco.

Ele destaca que existem três certezas baseadas em ciência. A primeira é sobre a segurança e a eficiência das vacinas. A segunda é a necessidade de todos os brasileiros completarem a segunda dose e receberem o reforço. A terceira, a urgência da obrigatoriedade do passaporte de vacinação.

— Defender o passaporte de vacinação é dever de toda pessoa séria, correta e honesta. É urgente que o Brasil siga princípios de segurança sanitária internacionais. Permitir a entrada de uma pessoa sem passaporte vacinal é o mesmo que deixar gente sem passaporte de identidade entrar aqui, um perigo para a segurança nacional. Não exigir o passaporte vacinal contraria as evidências científicas e o bom senso — frisa o pneumologista.

Barros Franco destaca que os negacionistas de hoje têm o mesmo discurso que usavam há 117 anos os incitadores da Revolta da Vacina. Na época, diziam que a vacina da varíola causaria doenças e passaria alterações para seus filhos.

—Pelo bem dos brasileiros, foram derrotados por Oswaldo Cruz e pela vacina da varíola, que controlou a doença e salvou milhões de vidas. Esse discurso negacionista e alarmista não é apenas antiquado, é ignorância tentar ressuscitar falsidades sepultadas pelos fatos — ressalta Barros Franco.

O presidente da ANM, Rubens Belfort Jr., professor titular da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, enfatiza que para a saúde dos brasileiros e da economia nada é mais importante do que a ampliação da vacinação.

—Todas as dúvidas foram desmoralizadas pelo tempo. Existe experiência acumulada de que as vacinas são seguras e eficientes. Ninguém virou jacaré, teve chip implantado ou sofremos surtos de efeitos colaterais em qualquer faixa etária. Ao contrário, vemos a redução de casos de Covid-19 à medida que a vacinação avança — diz o presidente da ANM.

Belfort Jr. observa que nos lugares onde a vacinação é ampla, a vida melhorou. Onde não foi bem feita, caso de alguns estados americanos e países europeus, a Covid-19 voltou a crescer. Ele classifica eventos como o do Clube Militar como uma vergonha.

— Trata-se de um discurso baseado em ficção e distorções, que se resume a um amontoado de mentiras sem base na realidade. Seria patético se não fosse uma ameaça não apenas à saúde, mas à economia do Brasil. O negacionismo tem nos custado caro, trazido risco de lockdowns. Quem é contra a vacina é contra a saúde, a educação e a economia.  E a favor do vírus, do desemprego e da fome. Negacionistas perpetuam a pandemia e o atraso — afirma o presidente da ANM.

Ele adverte que é preciso investir muito em ciência para controlar e se recuperar da pandemia, mas o Brasil tem caminhado na direção contrária, levado pela exploração política demagógica.

— Faz muita falta uma atitude sensata do governo federal nesta pandemia. Se a economia está ruim é culpa do vírus e do governo federal que poderia ter vacinado antes e exigido controle rígido de vacinação, com o amplo uso do passaporte vacinal. O Brasil tem que ser o líder da vacinação completa e não o país dos sem passaporte de vacinação — acrescenta Belfort Jr.

Ela lembra que a ciência acertou tudo até agora na pandemia. Acertou ao defender as medidas não farmacológicas e ao desenvolver as vacinas. Também encontrou formas eficientes de tratar a Covid-19.

— O que atrapalhou o combate da pandemia foi a histeria dos falsos tratamentos de cloroquina e kit covid, a sandice do “sou imune”. Agora, temos a tentativa de espalhar o temor de falsos efeitos colaterais e de semear dúvidas sobre eficácia de vacinas, além da rejeição do passaporte de vacinação. Tudo isso só traz atraso, custa vidas de brasileiros, seja pela Covid-19 seja pelos prejuízos causados à economia pelo prolongamento da pandemia — sublinha o presidente da ANM.

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