Primeiro soro contra picada de abelha africana chega à reta final no Brasil

Uma parceria do Instituto Butantan, em São Paulo, com a Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) de Botucatu e do Instituto Vital Brazil, vai resultar em um dos medicamentos mais esperados pela comunidade científica brasileira: um soro contra a picada da abelha africana (soro antiapílico). A pesquisa, em fase final de testes, deverá ser submetida à Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em no máximo 5 anos. Os resultados do estudo já em fase de 3 foram divulgados no periódico científico Frontiers in Immunology.

O remédio, coletado do veneno do inseto, será destinado aos casos graves, ou seja, quando a pessoa levou múltiplas picadas de abelha, atacada por um enxame. Nos últimos cinco anos, o país teve cerca de 100 mil notificações desse tipo. São 50 mortes por ano no Brasil. Os voluntários do estudo haviam sido vítimas de ao menos duas picadas.

O pesquisador Daniel Pimenta, do Laboratório de Bioquímica do Butantan, explicou os riscos desse tipo do acidente.

— As toxinas das picadas podem causar tonturas, náuseas, pressão baixa, queda de pressão e, em situações mais graves, falência renal.

Para os casos graves de alergia, uma única picada já pode desencadear uma reação alérgica drástica, chamada choque anafilático, muitas vezes fatal.

A toxina que deu origem ao soro foi extraída sem que fosse necessário matar as abelhas. Para isso, foram instalados aparelhos que disparavam choques pequenos nos insetos. O choque fazia com com elas liberassem o composto.

Existem tratamentos contra múltiplas picadas de abelha, mas o soro será o único capaz de eliminar a toxina do veneno injetado pelo inseto no corpo humano. E Brasil, será o primeiro país a ter uma medicação do tipo contra picada de abelha.

As abelhas africanas são chamadas no Brasil de africanizadas, pela mistura entre as espécies. Elas são resultado do cruzamento da abelha-africana, Apis mellifera scutellata, com a espécie europeia A. mellifera ligustica. Têm como característica a “agressividade” (comportamento defensivo). São ativas o ano todo, altamente produtivas e resistentes às doenças.

Com porte pequeno, elas constroem células menores. Os zangões são amarelados assim como as operárias. Chegaram ao Brasil na década de 50. Foram introduzidas na região de Rio Claro, interior de São Paulo, para pesquisas científicas. Mas escaparam do cativeiro e no cruzamento com outros tipos de abelhas, passou a ser chamada de africanizada.

Resistentes, se adaptaram muito bem às áreas urbanas, o que aumentou o número de acidentes.

Os especialistas alertam que ao se deparar com um enxame ou colmeia, jamais se deve jogar produtos, nem mesmo inseticida. As abelhas se sentem ameaçadas e a tendência é ferroar quem estiver perto.

Roupas coloridas e perfumes costumam atrair as abelhas. Se a pessoa acidentalmente perturbar um ninho, deve correr e cobrir o rosto.

O Instituto Butantan produz dezenas de soros há mais de um século. Os compostos são tanto para combater toxinas de animais peçonhentos, como microrganismos diversos. Entre os alvos principais estão: cobras (jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia, cascavel, coral), escorpião, aranha e lagartas venenosas, além do soro antirrábico e antitetânico.

Fonte: O Globo

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