
Dados da pesquisa Vigitel 2023 mostram que os homens têm maior comportamento de risco para doenças crônicas não transmissíveis do que as mulheres. Cerca de 10% dos homens no Brasil conduzem veículos motorizados após o consumo de bebidas alcoólicas, uma proporção notadamente maior que as mulheres, com 2,2%. Cidades como Palmas (24,5%), Teresina (23,2%) e Boa Vista (20%) registram os números mais altos entre a população masculina.
O cenário é preocupante porque, em todo o mundo, cerca de 3 milhões de mortes são causadas pelo consumo nocivo de álcool a cada ano. Além disso, 20,8% da população faz uso abusivo de álcool. Neste caso, também houve maior incidência entre pessoas do sexo masculino (27,3%) em todas as faixas etárias. O uso abusivo é definido como a ingestão, em uma mesma ocasião, de quatro ou mais doses para mulheres; ou cinco ou mais doses para homens.
A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2023) do Ministério da Saúde ouviu sobre a rotina de 20 mil brasileiros e constatou que os homens têm apresentado com frequência hábitos que aumentam os riscos ou pioram o prognóstico para esse tipo de doença. Além do consumo abusivo de álcool e de dirigir embriagado, práticas como o tabagismo, sobrepeso, inatividade física e alimentação inadequada com ingestão de alimentos ultraprocessados são mais recorrentes entre eles.
Outros fatores de risco
Segundo os dados da Vigitel 2023, a frequência de fumantes pelo Brasil é de 9,3%, sendo maior no sexo masculino (11,7%) do que no feminino (7,2%), com índice particularmente alto nos homens com até oito anos de estudo (14,6%). Em relação aos trabalhadores que convivem com o tabagismo passivo no ambiente de trabalho, os homens registram mais que o dobro da porcentagem (10, 2%) em comparação com as mulheres (4,3%).
O uso de tabaco é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), líder mundial nas causas de mortes evitáveis. O hábito de fumar ou o tabagismo passivo podem desencadear problemas crônicos como câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares.
Além do consumo de álcool e tabaco, os homens também tendem a se alimentar pior. Apenas 19,3% deles consome as 400 gramas diárias de frutas e hortaliças recomendadas pela OMS, em comparação com 23,2% das mulheres. Por outro lado, eles consomem mais processados: 22% entre homens contra 14,1% entre as mulheres.
A má alimentação está diretamente associada a crescentes problemas de saúde como sobrepeso, obesidade, diabetes e hipertensão. E os homens são “campeões” em todos esses itens.
A maior parte dos brasileiros (61,4%) afirmou ter excesso de peso. Entre os homens, o índice foi de 63,4% contra 59,6% de mulheres. Pessoas com sobrepeso têm maior predisposição a desenvolver doenças como diabetes e hipertensão que, com o tempo, podem resultar em casos de insuficiência cardíaca.
Para evitar sobrepeso e obesidade, um ponto-chave é o combate ao sedentarismo. Outra publicação do Ministério da Saúde, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, traz orientações para diversos ciclos de vida e contextos sociais, com exemplos que incentivam uma rotina mais ativa.
Apesar de concentrarem o maior número de mortes por doenças crônicas não transmissíveis, os homens apresentaram um índice menor do que a média em diagnósticos como diabetes e hipertensão. A porcentagem total de entrevistados que afirmou ter hipertensão arterial ficou em 27,9% – sendo 29,3 % mulheres e 26,4% homens. No caso da diabetes, a frequência também foi menor no público masculino (9,1%), abaixo dos 11,1% apresentados pela população feminina.
O coordenador substituto de Atenção à Saúde do Homem, Fernando Pessoa de Albuquerque acredita que isso está associado ao fato que os homens não acessam os serviços de atenção primária voltados à prevenção e promoção da saúde, buscando-os apenas em situações de diagnóstico tardio, quando já ocorreram lesões em órgãos-alvo, ou seja, em casos de extrema emergência, atendimento especializado ou urgência.
“O desafio é aumentar o acesso dos homens a esses serviços, promovendo a adoção de práticas preventivas e de promoção da saúde”, afirma Albuquerque.
Fonte: O Globo