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Apneia: primeiro remédio para distúrbio do sono reduziu em até 41% pausas na respiração durante a noite, mostra estudo

RIO — A apneia do sono é um dos distúrbios mais comuns relacionados à hora de dormir. No entanto, não existe até hoje um remédio que seja comprovadamente eficaz para resolver, ou ao menos atenuar, de forma simples a condição – mas isso pode mudar. Pesquisadores da Universidade de Gothenburg, na Suécia, publicaram na revista científica American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine os resultados de um estudo clínico randomizado que demonstrou a eficácia de um medicamento para reduzir em até 41% as paradas na respiração durante a noite.

O remédio testado foi o sultiame, um inibidor de uma enzima chamada anidrase carbônica, que por sua vez atua mantendo o equilíbrio entre o ácido carbônico e o dióxido de carbono no organismo. Essa enzima foi ligada em estudos anteriores à modificação de um mecanismo respiratório no corpo que provoca por consequência as pausas durante o sono – principal característica da apneia. Vários medicamentos com propriedades de inibição da enzima, como o próprio sultiame, já estão disponíveis no mercado e são utilizados para tratamento de glaucoma, epilepsia e outros distúrbios.

A partir desses achados anteriores, os pesquisadores suecos decidiram utilizar então a anidrase carbônica como um potencial alvo terapêutico. O novo estudo foi um ensaio clínico randomizado duplo-cego, ou seja, os 59 participantes foram separados em três grupos em que dois receberam o remédio e um recebeu um placebo para que os resultados fossem então comparados.

Entre os participantes que receberam o inibidor da anidrase carbônica, para metade foi administrada uma dose de 400 mg e, para a outra parte, uma dose menor de 200 mg. O estudo durou quatro semanas.

Ao fim, o medicamento reduziu em 41% os eventos de obstruções respiratórias durante a noite no grupo de 400 mg, e em 32,1% no grupo com a dosagem menor, de 200 mg. Para comparação, os participantes que receberam o placebo tiveram uma diminuição de apenas 5,4% – que não foi ligada ao remédio.

“Entre os pacientes que receberam a maior dosagem do medicamento, o número de pausas respiratórias diminuiu em aproximadamente 20 por hora. Para pouco mais de um terço dos pacientes no estudo, apenas metade de suas pausas respiratórias foram deixadas, e em um em cada cinco o número caiu pelo menos 60%”, disse o professor de medicina pulmonar da universidade Jan Hedner, autor do estudo, em comunicado.

O tratamento também não teve efeitos adversos graves, tendo sido relatados apenas poucas dores de cabeça e sintomas de falta de ar no grupo com a dose maior, de 400 mg.

Embora a eficácia não tenha sido tão alta para todos os grupos, os pesquisadores ressaltam em comunicado que “os resultados do estudo, juntamente com os dados de segurança estabelecidos do medicamento sultiame, fornecem suporte para pesquisas contínuas sobre a inibição anidrase carbônica como um novo tratamento potencial para a apneia obstrutiva do sono”.

Eles destacam que o fato de já haver uma série de remédios na categoria de inibidores da enzima disponíveis no mercado viabiliza o desenvolvimento rápido de uma versão que seja destinada ao distúrbio do sono.

Como é o tratamento hoje

A apneia do sono é uma condição relativamente comum que faz com que a respiração da pessoa pare temporariamente algumas vezes durante a noite, o que prejudica a qualidade do sono, leva a roncos e faz com que o indivíduo acorde diversas vezes, mesmo que de forma imperceptível.

Mesmo que curtas, essas pausas diminuem a concentração de oxigenação no corpo, provocam sonolência diurna e podem provocar sintomas como desatenção, dores de cabeça, irritabilidade e até impotência.

Ela acontece geralmente devido ao bloqueio das vias aéreas, mas existem hábitos de vida que aumentam o risco, como obesidade, consumo excessivo de álcool, tabagismo e uso de pílulas para dormir.

Hoje, o tratamento é realizado a partir da correção destes fatores que prejudicam o diagnóstico em casos leves, mas em quadros mais graves é necessário o auxílio de um aparelho chamado CPAP ou até mesmo de um procedimento cirúrgico.

“Essas opções de terapia levam tempo para se acostumar e, muitas vezes, são percebidas como intrusivas ou volumosas. Tempo de usuário insuficiente é, portanto, comum. Se desenvolvermos um medicamento eficaz, isso facilitará a vida de muitos pacientes e, a longo prazo, potencialmente também salvará mais vidas”, diz o professor da universidade e também autor do estudo, Ludger Grote, em comunicado.

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