Quando a obesidade é mórbida

O índice de massa corpórea, conhecido como IMC, é parâmetro adotado pela Organização Mundial de Saúde para calcular o peso ideal de cada pessoa. Quando está acima de 30, a pessoa passa a ter obesidade grau I. Quando esse valor ultrapassa a barreira dos 40, trata-se de obesidade mórbida ou obesidade grau III. E como o próprio nome sugere, trata-se de um estado de doença.
A obesidade é um distúrbio multifatorial, (neuroendócrinos, psíquicos, intestinais e genéticos) que resulta de um desequilíbrio metabólico-energético, ou seja, em que o excesso da ingestão de energia sobre o gasto, durante um longo período, é armazenado em forma de gordura.
No contraponto, há muita gente que fala o contrário, e que as pessoas podem, sim, ter obesidade mórbida, mas serem saudáveis e terem seus exames dentro dos “conformes”, sua saúde metabólica em dia. Ok, isso é possível de acontecer, mas trata-se de uma grande exceção, um caso especial. Definitivamente não é o que acontece com a maioria. Mesmo para as pessoas que convivem bem com esse quadro e estão, ainda, com a saúde em dia, é preciso tratar o problema com a gravidade que lhe cabe, porque as chances de surgirem complicações consequentes da obesidade aumentam a cada dia que passa. A obesidade é um fator de risco para uma série de doenças, como hipertensão, diabetes, alguns tipos de câncer entre outras.
Quanto mais tempo sob essas condições, mais chances a pessoa tem de desenvolver os problemas de saúde, que eventualmente, podem levar à morte prematura. Não convém submeter o corpo a situações permanentes que sejam prejudiciais à saúde. Isso vale para outras condições, como o sedentarismo e o tabagismo, por exemplo. Quanto mais tempo de cigarro, quanto mais anos de sedentarismo, maiores são os riscos, ainda que em fase inicial não sejam tão representativos.
Para quem não sabe, a gordura é inflamatória. Assim como podemos ver algumas inflamações em nosso corpo, como um dedo ou um ouvido inflamado, o mesmo acontece internamente em nosso organismo, mas não é possível ver e sentir. O acúmulo de gordura nas células gera vários processos inflamatórios, porque liberam substâncias que ativam o sistema imune, provocando formação de placas de gordura na parede das artérias, que aumentam a coagulação e que tornam as moléculas do colesterol ruim ainda mais densas. Portanto, esses processos inflamatórios são perigosos, porque o próprio tecido adiposo passa a secretar substâncias que elevam o risco cardiovascular.
Vale lembrar que a saúde do aparelho locomotor também é bastante prejudicada com o excesso de peso. Nossos ossos, articulações, a própria locomoção fica dificultada nessa condição. A saúde cardiorrespiratória também sofre com o aumento da pressão arterial, que eleva riscos de infartos e derrames.
Na minha opinião, a obesidade deve ser tratada com muito cuidado, de forma consistente, porque o processo é difícil e lento. Diria que é extremamente importante a ajuda de terapias comportamentais, a fim de mudar a cabeça, a forma de pensar e enxergar a comida, a ansiedade, e os ciclos de culpa-compulsão-compensação que são grandes empecilhos do sucesso desse processo. É um tratamento multifatorial, assim como seu surgimento, muitos casos se faz necessário, ate mesmo, o uso de medicamentos.
Enfim, essa não é uma sentença. Pessoas com sobrepeso ou obesas podem estar bem, se sentirem felizes. Mas, invariavelmente é um quadro que facilita o surgimento de complicações para a saúde. Não se trata de estar gordinho, estamos falando de casos extremos, como é a obesidade mórbida. Mas, é sempre bom lembrar que, no caminho para a mudança, estão a atividade física regular e uma alimentação equilibrada, o que invariavelmente levará a pessoa a encontrar mais saúde e qualidade de vida.
Fonte: O Globo