
Um novo estudo de pesquisadores do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou um excesso de 40% nos óbitos maternos de gestantes e puérperas em 2020, quando comparado aos números de anos anteriores. O trabalho foi publicado na revista científica BMC Pregnancy and Childbirth.
O aumento foi desproporcional ao observado na população geral, explicam os pesquisadores. Isso porque o excesso de óbitos no grupo é 14% maior que o que seria esperado considerando as vidas perdidas diretamente por um diagnóstico de Covid-19. Para os responsáveis pelo trabalho, os números mostram os altos impactos diretos e indiretos da pandemia na mortalidade materna.
Os dados são referentes aos registros do primeiro ano da crise sanitária, 2020, quando houve 529 mortes de gestantes e puérperas diretamente causadas pelo novo coronavírus, especialmente entre grávidas no segundo e terceiro trimestre.
“A desigualdade social desempenha um papel central na explicação do excesso de mortes maternas. As diferenças entre o perfil das gestantes no Brasil e em outros países podem ser explicadas. Há alta ocorrência no país de comorbidades cuja etiologia envolve processos inflamatórios, que são fatores de risco para complicações da Covid-19, como obesidade, hipertensão, diabetes e vasculopatia”, escreveram os autores no estudo.
Na análise, os pesquisadores identificaram ainda que os riscos de hospitalização pela doença entre gestantes foi 337% maior no período em comparação com a população geral. Em relação à necessidade de internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a probabilidade foi 73% maior.
“Destacamos ainda que o excesso de óbitos teve a Covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao Pré-Natal e condições adequadas de realização do seu parto no país”, afirma o pesquisador da Fiocruz Raphael Guimarães, principal autor do estudo, em comunicado.
Ele explica que é importante entender que a doença não atingiu de forma homogênea todos os grupos populacionais para que medidas sejam direcionadas a grupos específicos e tenham uma maior eficácia. Ele cita ainda que, com base nos resultados do estudo, o atraso na vacinação de gestantes e puérperas pode ter “sido decisivo na maior penalização destas mulheres”.
O estudo utilizou dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) para catalogar as mortes pela Covid-19, e comparou com informações do Sistema de Informações sobre Mortalidade de 2020 e dos cinco anos anteriores para realizar a média antes da pandemia.
Fonte: O Globo